14 de fevereiro de 2015

MODA E CULTURA

Victoria Lobo

Os nomes passam por ciclos de sucesso e esquecimento. Só com o prenome da pessoa, a maioria dos observadores é capaz de adivinhar sua idade aproximada com uma precisão que supera em muito a mera sorte. Uma Edna, Ethel ou Bertha é uma senhora idosa; uma Susan, Nancy ou Debra é uma integrante do baby boom entrando na terceira idade; uma Jennifer, Amanda ou Heather tem trinta e poucos anos; e uma Isabella, Madison ou Olivia é criança. Os nomes das meninas mudam bem mais rápido que os dos meninos: Robert, David, Michael, William, John e James nunca vão embora. (...) O sociólogo Stanley Lieberson (...) analisou a correlação entre a ascensão e a queda de nomes de bebês e o aparecimento e desaparecimento de pessoas famosas, reais e fictícias, aos olhos do público. Em quase todos os casos ele notou um pequeno destaque no nome antes de a celebridade aparecer em cena. Muitas vezes o nome famoso acaba levando o nome a novos níveis. (...) Marylin, por exemplo, era um nome bastante popular nos anos 1950, e muita gente apontaria para uma explicação óbvia: a fama de Marylin Monroe. Infelizmente para a teoria, o nome tinha começado a crescer décadas antes e já era popular quando Norma Jeane Baker o adotou como nome artístico em 1946. Na verdade, a popularidade de Marylin chegou a cair depois da fama de Monroe. Aqui as pessoas acham que ela deve ter causado a queda: os pais não iam querer batizar suas filhinhas com o nome de um símbolo sexual bem na época do pudor suburbano dos anos 1950 ou do feminismo nascente dos anos 1960. Errado de novo - o nome tinha chegado ao ápice na década de 1930 e já estava em declínio quando Marylin Monroe surgiu em cena.

Nos anos 1930, Herbert caiu e Franklin subiu, e desde então. Adolf desapareceu, por motivos óbvios. Mas em geral a contaminação por nomes de famosos é uma ilusão cognitiva. As pessoas lembram um caso ou dois em que um nome ficou famoso por causa de uma celebridade e o mesmo nome foi dado a muitos bebês, e concluem que o primeiro fenômeno causou o segundo. (...) O feminismo pode parecer uma motivação mais promissora, mas mesmo aqui os efeitos são discutíveis. Alguns nomes de menina inspirados em flores, por exemplo, decaíram desde os anos 1970 (Rose, Violet, Daisy), mas outros ganharam popularidade (Lily, Jasmine). Também dá para escolher a moda que se quiser quando se observa a popularidade dos nomes de menina que são diminutivos de nomes de menino: alguns caem, como Roberta, Paula e Freda, enquanto outros crescem, como Erica, Michaela, Brianna e, claro, Stephanie.

Até a década de 1960 a maior parte dos homens usava chapéu em público; hoje praticamente ninguém usa. O que aconteceu? Não são poucas as explicações. John F. Kennedy inaugurou a tendência ao ir sem chapéu a sua cerimônia de posse. As pessoas se mudaram para os subúrbios e passaram a ficar muito tempo dentro do carro, portanto não tinham tanto frio na cabeça, e além disso é esquisito ficar entrando e saindo do carro de chapéu. Os homens deixaram o cabelo crescer como forma de auto-expressão e não queriam escondê-los, ou, pior, sofrer do desagradável mal de cabelo achatado. Cresceu a ênfase no natural, e os chapéus representavam a incompletude da natureza. Os chapéus estavam associados ao establishment político, e a geração mais jovem se rebelou contra ele. A cultura começou a idolatrar a juventude, e os chapéus eram associados a homens mais velhos.

Lieberson argumenta que temos que repensar o modo como pensamos as mudanças culturais. "Tendência" é a abreviação do efeito conjunto da tomada de decisões pessoais de milhões de homens e mulheres, que prevêem as decisões tomadas por outras pessoas e reagem a elas. Isso cria uma dinâmica interna de mudança - o uso de chapéu num ano afeta o uso de chapéu no ano seguinte - e tendências que têm uma lógica só sua, e não se encaixam em nenhuma narrativazinha sobre as escolhas da sociedade como um todo. Muitas modas - o comprimento das saias, a largura das lapelas, rabos-de-peixe, barba e, claro, nomes - passam por ondas pouco perceptíveis de crescimento e queda, em vez de assaltos abruptos de um nível para outro ou do caos cheio de picos do mercado de ações. (...) O economista Thorstein Veblen e o crítico de arte Quentin Bell observaram que os ciclos da moda podem ser explicadas pela psicologia do status. A elite quer se diferenciar da ralé e para isso usa seus acessórios mais visíveis, mas aí o pessoal da próxima camada social tenta imitá-los, e a mesma coisa com a camada abaixo dela, até que o estilo tenha descido até as massas. Quando isso acontece, a elite adota um novo visual, que faz a burguesia imitá-la, e a classe média baixa, e assim por diante, num interminável sobe-e-desde da moda. (...) Sempre que a moda muda de direção, os criadores de tendência introduzem outra mudança ao mesmo tempo, para que as saias, barbas ou pára-lamas não sejam confundidos com o modelo da década anterior.

Steven Pinker (Do que é Feito o Pensamento; págs: 357, 358, 359, 360, 361 e 362)

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