17 de fevereiro de 2015

AÇÃO-REAÇÃO SOCIAL

Em seu livro Micromotives and macrobehavior [Micromotivos e macrocomportamento], de 1978, Thomas Schelling chamou a atenção para muitos fenômenos sociais que são imprevistos e muitas vezes indesejáveis, mas que aparecem quando as pessoas fazem escolhas individuais que afetam as escolhas dos outros. Um exemplo é como uma cidade pode ficar segregada, não por causa de uma política de apartheid e não porque todo mundo só queira morar com pessoas de sua própria raça, mas porque ninguém quer ficar em minoria muito pequena dentro de seu bairro. À medida que cada família se muda para evitar esse tipo de marginalidade, elas passam a fazer parte de vizinhança de outras famílias, o que afetará as decisões delas, e assim por diante. No final, podem surgir bairros só de negros ou só de brancos, sem que eles tenham sido planejados nem desejados. Outro exemplo é o modo como uma faixa de trânsito pode ficar congestionada quando cada motorista reduz a velocidade por alguns segundos para espiar o local de um acidente - uma troca que nenhum deles teria aceitado se tivesse tido a chance de combinar seu comportamento com antecedência. Schelling observa como esses padrões surgem sempre que as decisões isoladas são interdependentes: Se seu problema é que há trânsito demais, você faz parte do problema. Se você se junta à multidão porque gosta da multidão, faz a multidão crescer. Se tira seu filho da escola por causa dos outros alunos da escola, tira um aluno da escola deles. Se levanta a voz para se fazer ouvir, colabora para o barulho que as outras pessoas estão tentando superar elevando a voz delas. Quando você corta o cabelo bem curto você muda, mesmo que só ligeiramente, a impressão das pessoas sobre o comprimento de cabelo que as pessoas estão usando.

No seu recente best-seller O ponto de desequilíbrio, o jornalista Malcolm Gladwell aplica a idéia de Schelling a tendências sociais recentes como as mudanças nas taxas de analfabetismos, criminalidade, suicídio e tabagismo na adolescência. Em todos os casos, costuma-se atribuir a tendência a forças sociais externas como a propaganda, programas governamentais ou personalidades que servem de exemplo. E em todos os casos o que realmente moveu a tendência foi uma dinâmica interna de escolhas e influências individuais e a reação a elas. O nome dos bebês, e das coisas em geral, é mais um exemplo de um fenômeno social em grande escala - a composição de uma língua - que surge de forma imprevisível a partir de várias escolhas isoladas que se influenciam umas às outras.

Steven Pinker (Do Que é Feito o Pensamento; págs: 366 e 367)

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