Qualquer pessoa que participe de debates intelectuais passa a reconhecer as táticas, as tramas e os truques sujos que os debatedores usam para confundir o público quando os fatos e a lógica não estão a seu favor. Há o apelo à autoridade ("Spaulding diz isso, e ele tem um prêmio Nobel"), a atribuição de motivos ("Firefly só está querendo chamar a atenção e conseguir dinheiro"), xingamentos ("A teoria de Driftwood é racista") e a difamação por associação ("A Hackenbush é financiada por uma fundação que já financiou nazistas"). Talvez a mais conhecida seja a montagem e a destruição de um espantalho, um estratagema tão versátil que às vezes fica difícil imaginar como a vida intelectual sobreviveria sem ele. A beleza do espantalho é que ele pode ser usado de inúmeras maneiras. A mais trivial é a luta de boxe com o espantalho, em que se substitui um oponente formidável por um simplório facilmente derrotável. Mas existe também o espantalho bifásico: primeiro monte a efígie, depois admita que afinal ela não é tão irreal assim, mas arme essa admissão como uma capitulação a suas críticas devastadoras. E há também o espantalho do sacrifício, útil quando se teme estar nas beiradas da respeitabilidade: monte uma versão fanática da teoria de alguém, depois se distancie dela para comprovar sua moderação. É a mesma estratégia que os vendedores de vinho usam quando põem uma garrafa de preço exorbitante em cada prateleira. Eles sabem que compradores inseguros gravitam para a média, portanto, se houver uma garrafa de cem dólares à mostra, eles vão comprar a de trinta dólares, ao passo que, se a garrafa mais cara custasse trinta dólares, eles se contentariam gastando dez.
Steven Pinker (Do Que é Feito o Pensamento; págs: 111 e 112)
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