14 de fevereiro de 2015

LÍNGUA

Acho que a metáfora é, sim, a chave para explicar a relação entre pensamento e língua. A mente humana vem equipada da capacidade de penetrar a couraça de aparência sensorial e discernir a construção abstrata que está debaixo dela - nem sempre quando se quer, e não de forma infalível, mas com a frequência e a clarividência suficientes para moldar a condição humana. Nosso poder de analogia nos permite aplicar estruturas neurais antiquíssimas a matérias recém-descobertas, desnudar leis e sistemas ocultos na natureza e, não menos importante, ampliar o poder de expressão da própria língua. A língua, por sua própria estrutura, pode parecer um instrumento com uma funcionalidade definida e limitada. Com um estoque finito de signos arbitrários, e regras gramaticais que os organizam em orações, a língua nos dá meios de trocar um número ilimitado de combinações de idéias sobre quem fez o que a quem, e sobre o que está onde. E, no entanto, ao digitalizar o mundo, a língua é um meio que implica perdas, que descarta informações sobre a textura suave e multidimensional da experiência. A língua é notoriamente falha, por exemplo, para transmitir a sutileza e a riqueza de sensações como cheiros e sons. E parece, à primeira vista, tão inepta quanto para transmitir outros canais de sensibilidade que não sejam compostos de elementos acessíveis e independentes. Flashes de sacadas holísticas (como os da matemática ou da criatividade musical), ondas de emoção que consomem a pessoa e momentos de contemplação melancólica simplesmente não são o tipo de experiência que possa ser captada pela sequência de contas num fio a que chamamos orações.

Steven Pinker (Do que é Feito o Pensamento; pág: 317)

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