29 de outubro de 2020

OPORTUNIDADES NO CORE BUSINESS

Um artigo da Harvard Business Review revelou que 87% das organizações incluídas em um estudo tinham passado por um ou mais períodos nos quais o crescimento caíra drasticamente e que, “em média, uma empresa perde 74% do valor de mercado (...) na década que compreende essa desaceleração do crescimento”. (...) As causas desse infortúnio incluem problemas “na gestão de processos internos de atualização de produtos e serviços e de desenvolvimento de novos” e o “abandono prematuro da principal atividade da empresa - ou seja, deixar de explorar plenamente as oportunidades de crescimento no atual core business”.

Sean Ellis & Morgan Brown (Hacking Growth; pág: 17)

27 de outubro de 2020

A CULTURA DO CONSUMIDOR

Perelman e Tyteca, em seu Tratado da argumentação: a nova retórica, nos lembram que é preciso, antes de mais nada, conhecer o auditório a que uma mensagem se destina, definindo-o como “o conjunto daqueles que o orador quer influenciar”. Podemos, no caso do discurso publicitário, nomear de auditório o público-alvo e de orador os criativos que o elaboram e o embalam em palavras e imagens, quando veiculado em mídia impressa. Os dois teóricos afirmam que cabe ao auditório (...) o papel principal para determinar a qualidade da argumentação e o comportamento dos oradores. (...) Estes últimos vão escolher os elementos suasórios para a construção das peças publicitárias de acordo com o briefing ou a estratégia criativa - ou seja, conforme as informações que devem nortear a sua plataforma comunicacional, como as características do produto ou serviço anunciado, o histórico da marca, a publicidade de seus concorrentes, o contexto socioeconômico, as peculiaridades de seu target, entre outras. Em suma, a cultura do consumidor deve ser contemplada, transposta para o discurso publicitário que lhe é direcionado, visando, assim, gerar identificação.

João Anzanello Carrascoza (Estratégias Criativas da Publicidade; pág: 24)

CRESCIMENTO E MERCADO

Se o mercado onde seu negócio está inserido está crescendo [em média, digamos] x% por ano e seu negócio também está crescendo perto de x% por ano, é o mercado que está arrastando seu negócio, e não você que o está empreendendo de forma diferenciada, de forma verdadeiramente empreendedora. (...) Crescimento está relacionado ao mercado em que você atua: se for em software, por exemplo, saiba que o mercado brasileiro cresceu mais de 10% em 2012. Seu novo negócio, que cresceu 5% no ano, está indo na metade da velocidade do mercado, e está perdendo mercado, na prática. (...) Crescimento empreendedor, em um mercado que cresce x% ao ano, é crescer 5x%, 10x% ao ano ou mais. 

Silvio Meira (Novos Negócios Inovadores de Crescimento Empreendedor no Brasil; pág: 67)

23 de outubro de 2020

SISTEMA MIDIÁTICO

Ao sistema midiático cuja centralidade é indiscutível na sociedade contemporânea, graças à tecnologias (novas e tradicionais). Ubíquo e onipresente é este sistema, capaz de impor um “presente contínuo”, graças ao advento dos meios digitais que tornaram o “aqui e agora” instâncias essenciais à constituição dos sentidos sociais. O sistema midiático, considerado como o universo que incorpora o território material e simbólico de todos os meios de comunicação de massa e suas ramificações hibridizantes, está, a toda hora, e em todo lugar, na vida do indivíduo. (...) A chuva de ouro que fecunda a sociedade de consumo é formada pelos fluxos comunicacionais que carregam grandes, pequenos e microdiscursos, de ontem e de hoje, que se misturam, se fundem, se aglutinam ou se repelem. no âmbito desse universo discursivo, que se faz e se refaz a cada instante, embaralhando signos e mudando seus sentidos conforme o domínio e o contexto em que transitam, a publicidade se destaca, não apenas por “patrocinar” os mass media, mas por ter se transformado na metamercadoria - a mercadoria que divulga as demais mercadorias. (...) Essa mistura de discursos é permeada pelo apagamento de fronteiras entre ficção e realidade.

João Anzanello Carrascoza (Estratégias Criativas da Publicidade; págs: 7 e 8)

21 de outubro de 2020

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A variação linguística tem que ser objeto e objetivo do ensino de língua: uma educação linguística voltada para a construção da cidadania numa sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os modos de falar dos diferentes grupos sociais constituem elementos fundamentais da identidade cultural da comunidade e dos indivíduos particulares, e que denegrir ou condenar uma variedade linguística equivale a denegrir e condenar os seres humanos que a falam, como se fossem incapazes, deficientes ou menos inteligentes - é preciso mostrar, em sala de aula e fora dela, que a língua varia tanto quanto a sociedade varia, que existem muitas maneiras de dizer a mesma coisa e que todas correspondem a usos diferenciados e eficazes dos recursos que o idioma oferece a seus falantes.

 Marcos Bagno (Preconceito Linguístico; pág: 16)

20 de outubro de 2020

PREFIRO SER RICO

Ouçam-me, todos. Não há nobreza alguma em ser pobre. Já fui rico e já fui pobre, e prefiro ser rico. Pelo menos, sendo rico, quando tenho de enfrentar meus problemas, posso aparecer no banco traseiro de uma limusine, vestindo um terno de 2 mil dólares e um relógio de ouro de 20 mil dólares! E, acreditem em mim, chegar com estilo torna seus problemas muito mais fáceis de lidar.” (...) Veja, se quiser envelhecer com dignidade… se quiser envelhecer e manter seu autorrespeito… então é melhor ficar rico agora. A época em que se trabalhava para uma grande empresa entre as 500 Maiores da Fortune com aposentadoria integral é coisa da porra do passado! E, se você acha que a Previdência Social será sua segurança, é melhor repensar. Com as taxas atuais de inflação, dará apenas para pagar suas fraldas depois que o enfiarem em algum asilo mofado, onde uma jamaicana de 160 quilos com barba e bigode irá dar-lhe sopa através de um canudinho e então o esbofeteará quando estiver de mau humor.

Jordan Belfort (O Lobo de Wall Street; pág: 101)

17 de outubro de 2020

O NÃO-GREGO NO CRISTIANISMO

Os gregos não viam os deuses homéricos acima de si, como senhores, e não se viam abaixo deles, como servos, ao modo dos judeus. Viam como que apenas a imagem em espelho dos exemplares de sua própria casta que melhor vingaram, portanto um ideal, não um contrário de sua própria essência. Há o sentimento de parentesco recíproco, subsiste um interesse de lado a lado, uma espécie de simaquia. O homem pensa nobremente de si quando dá a si mesmo tais deuses e se coloca em uma relação como é a da nobreza inferior para com a superior; enquanto os povos itálicos têm uma boa religião de camponês, com constante inquietação contra potências más e caprichosas e espíritos torturantes. Onde os deuses olímpicos se retiravam, ali a vida grega era também mais sombria e inquieta. - O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou completamente o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal: então, no sentimento da total abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de uma piedade divina, de tal modo que o surpreendido, aturdido pela graça, lançava um grito de embevecimento e por um instante acreditava carregar o céu inteiro em si. Sobre esse doentio excesso do sentimento, sobre a profunda corrupção da cabeça e coração necessária para isso, atuam todas as invenções psicológicas do cristianismo: ele quer aniquilar, alquebrar, aturdir, inebriar, ele só não quer uma coisa: a medida, e por isso é, no sentido mais profundo, bárbaro, asiático, sem nobreza, não-grego.

Friedrich Nietzsche (Humano, Demasiado Humano - Um Livro Para Espíritos Livres [Vol. 01]; pág: 82)

16 de outubro de 2020

NOSSOS ÚLTIMOS CENTÍMETROS

"...Mas minha integridade era mais importante. Isso é egoísmo? Pode não ser muito, mas é tudo o que nos resta aqui. São nossos últimos centímetros... ...Mas, neles, nós somos livres. (...) Eu vou morrer aqui. Cada centímetro de mim morrerá... ...Exceto um. Um só. É pequeno e frágil e é a única coisa no mundo que ainda vale a pena se ter. Não devemos jamais perdê-lo, vendê-lo ou entregá-lo. Não podemos deixar que alguém tire de nós. Não sei quem você é, se é homem ou mulher, talvez eu nunca o veja, nem te abrace, nem bebamos juntos... Mas eu te amo."

Valerie

Alan Moore (V de Vingança; págs: 158, 161 e 162)

A ORIGEM DO CULTO RELIGIOSO

Falta, em geral, todo conceito de causalidade natural. Quando se rema, não é o remar que move o navio, mas remar é somente um cerimonial mágico pelo qual se força um demônio a mover o navio. Todas as doenças, a própria morte, são resultado de intervenções mágicas; no adoecer e morrer as coisas nunca se passam naturalmente; falta toda representação do “curso natural”. (...) Uma pedra que subitamente rola é o corpo em que um espírito está agindo; se jaz charneca solitária um bloco, se parece impossível pensar em força humana que o tenha trazido, a pedra deve ter movido a si mesma, isto é: deve albergar um espírito. (...) A natureza inteira, na representação de homens religiosos, é uma soma de ações de seres dotados de consciência e vontade, um complexo descomunal de arbitrariedade. (...) A meditação do homem que acredita na magia e no milagre visa impor à natureza uma lei -: e, dito concisamente, o culto religioso é o resultado dessa meditação. (...) Por súplica e oração, por submissão, pelo compromisso de prestar tributos e oferendas regulares, por glorificações lisonjeiras, é possível, pois, exercer também sobre as potências da natureza uma coação, atraindo para si sua afeição: amor liga e é ligado. (...) É uma espécie de coação mais poderosa, por magia e feitiçaria. (...) O sentido do culto religioso é determinar e confiar a natureza em proveito do homem, portanto, imprimir-lhe uma legalidade que de antemão ela não tem. (...) Em suma, o culto religioso repousa nas representações da feitiçaria entre homem e homem; e o feiticeiro é mais antigo do que o padre.

Friedrich Nietzsche (Humano, Demasiado Humano - Um Livro Para Espíritos Livres [Vol. 01]; págs: 79, 80 e 81)

JUSTIÇA E VINGANÇA

A justiça (equidade) tem sua origem entre aqueles que têm potência mais ou menos igual. (...) Onde não há nenhuma supremacia claramente reconhecível e um combate se tornaria um inconsequente dano mútuo, surge o pensamento de se entender e negociar sobre as pretensões de ambos os lados; o caráter da troca é o caráter inicial da justiça. (...) Justiça é, portanto, retribuição e intercâmbio, sob a pressuposição de uma posição mais ou menos igual de potência; assim a vingança pertence originariamente ao domínio da justiça, ela é intercâmbio.

Friedrich Nietzsche (Humano, Demasiado Humano - Um Livro Para Espíritos Livres [Vol. 01]; pág: 78)

14 de outubro de 2020

COMO SE FOSSE

Pinocchio

E é por isso que digo: ajam como se fossem! Ajam como se fossem homens prósperos, já ricos, e então irão com certeza ficar ricos. Ajam como se tivessem confiança total e as pessoas com certeza terão confiança em vocês. Ajam como se tivessem uma experiência incrível e as pessoas irão seguir seus conselhos. Ajam como se já fossem um sucesso tremendo e, com toda a certeza do mundo… vocês irão se tornar um sucesso!
 
Jordan Belfort (O Lobo de Wall Street; pág: 102)
 

Mesmo quando estava no orfanato, quando perambulava pelas ruas tentando achar o que comer para conseguir sobreviver, mesmo nesses dias eu pensava em mim mesmo como o maior ator do mundo. Eu tinha de sentir essa exuberância que vinha da profunda confiança em mim mesmo. Sem isso eu teria sido derrotado.
 
David Robinson (CHAPLIN - uma biografia definitiva; pág: 46)
 
 
O futuro, concebido e ainda não executado, parece mesmo uma mentira. Se você trabalhar muito, com muito foco e dedicação, a mentira vem vindo, aos poucos, do futuro para o presente e vai se tornando, cada vez mais, realidade. (...) Nada resiste ao trabalho.
 
Silvio Meira (Novos Negócios Inovadores de Crescimento Empreendedor no Brasil; pág: 51)
 
 
Nas palavras de Lynne McTaggart: "A consciência viva é, de certa forma, a influência que transforma a possibilidade de algo em algo real. O ingrediente mais essencial para a criação de nosso universo é a consciência que o observa."

Dan Brown (O Símbolo Perdido; pág: 62)

8 de outubro de 2020

SOMOS NÓS OS COLORISTAS

Nós, desde milênios, temos olhado para o mundo com pretensões morais, estéticas, religiosas, com cega inclinação, paixão ou medo, e porque nos temos regalado nos maus hábitos do pensamento ilógico, que esse mundo pouco a pouco veio a ser tão maravilhosamente colorido, apavorante, profundo de significação, cheio de alma; ele adquiriu cores - mas somos nós os coloristas: o intelecto humano fez aparecer o fenômeno e transpôs para as coisas suas concepções fundamentais errôneas. Aquilo que agora denominamos mundo é o resultado de uma multidão de erros e fantasias, que surgiram pouco a pouco no desenvolvimento total do ser orgânico, cresceram entrelaçados e agora nos são legados como tesouro acumulado do passado. (...) O fato é que, desse mundo da representação, a ciência rigorosa só é capaz de livrar-nos em pequena medida - o que, aliás, nem é de desejar -, já que não é capaz de romper, no essencial, a força de hábitos antiquíssimos de sensação: mas pode aclarar a história da gênese desse mundo como representação, bem aos poucos e passo a passo - e elevar-nos, pelo menos por instantes, sobre o evento inteiro. Talvez reconheçamos então que a coisa em si é digna de uma homérica gargalhada: ela parecia tanto, e mesmo tudo, e, propriamente, é vazia, ou seja, vazia de significação.

O primeiro grau do [pensamento] lógico é o juízo: cuja essência consiste, segundo a afirmação dos melhores lógicos, na crença. Na base de toda crença está a sensação do agradável ou doloroso em referência ao sujeito da sensação. (...) O que está mais distante daquele grau primordial do [pensamento] lógico é o pensamento da causalidade: até hoje pensamos ainda, no fundo, que todas as sensações e ações são atos da vontade livre; se o indivíduo que sente considera a si mesmo, toma cada sensação, cada alteração, por algo isolado, isto é, incondicionado, desconexo: emerge em nós, sem ligação com o anterior ou o posterior. Temos fome, mas originariamente não pensamos que o organismo quer ser conservado, e esse sentimento parece fazer-se sentir sem fundamento e fim, isola-se e se toma por arbitrário. Portanto: a crença na liberdade da vontade é um erro originário comum a todo ser orgânico, tão antigo que existe desde que existem nele as emoções lógicas; a crença em substâncias incondicionadas e em coisas iguais é, do mesmo modo, um erro originário, igualmente antigo, de todo ser orgânico. (...) Um dos graus, certamente muito alto, da cultura, é alcançado quando o homem ultrapassa conceitos e medos supersticiosos e religiosos e, por exemplo, não acredita mais nos caros anjinhos ou no pecado hereditário, e até mesmo da salvação das almas desaprendeu a falar: nesse grau de libertação, ele ainda precisa, com suprema tensão de sua lucidez, superar a metafísica. (...) Os mais ilustrados só vão até o ponto de libertar-se da metafísica e lançar-lhe, para trás, um olhar de superioridade.

Friedrich Nietzsche (Humano, Demasiado Humano - Um Livro Para Espíritos Livres [Vol. 01]; págs: 73, 74 e 75)

6 de outubro de 2020

PERCEPÇÕES E IMPRESSÕES

Embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas ideias compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, pois o sentimento que temos de nós mesmos nos permite conceber a virtude e podemos uni-la à figura e forma de um cavalo, que é um animal bem conhecido. (...) A idéia de Deus, significando o Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, nasce da reflexão sobre as operações de nosso próprio espírito, quando aumentamos indefinidamente as qualidades de bondade e de sabedoria. (...) Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensações externas ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do espírito e da vontade. Ou melhor, para expressar-me em linguagem filosófica: todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões (...) pelo termo impressão, entendo, pois, todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. (...) ou percepções mais vivas. (...) Quando refletimos sobre nossas sensações e impressões passadas, nosso pensamento é um reflexo fiel e copia seus objetos com veracidade, porém as cores que emprega são fracas e embaçadas em comparação com aquelas que revestiam nossas percepções originais.

David Hume (Investigação Acerca do Entendimento Humano; págs: 35, 36 e 37)

4 de outubro de 2020

AUTOMAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO

Evgeny Zubkov
 
Se um médico humano fizer um diagnóstico errado, ele não vai matar todos os pacientes do mundo e não vai bloquear o desenvolvimento de todos os novos medicamentos. Em contraste, se todos os médicos são na verdade um único sistema, e se esse sistema comete um erro, os resultados podem ser catastróficos. No entanto, um sistema integrado de computadores pode maximizar as vantagens da conectividade sem perder os benefícios da individualidade. Podem-se rodar muitos algoritmos alternativos na mesma rede, de modo que um paciente numa aldeia remota na selva seja capaz de acessar com seu smartphone não apenas um único médico capacitado, mas cem médicos de IA diferentes, cujos desempenhos relativos são comparados o tempo inteiro. Você não gostou do que o médico da IBM lhe disse? Não tem problema. Mesmo que esteja enfurnado em algum lugar das encostas do Kilimanjaro, você pode contatar facilmente o médico da Baidu para ter uma segunda opinião. Os benefícios para a sociedade humana provavelmente serão imensos. A IA em medicina poderia prover serviços de saúde muito melhores e mais baratos a bilhões de pessoas, especialmente para as que hoje não têm acesso algum a esses serviços. Graças a algoritmos de aprendizagem e sensores biométricos, um aldeão pobre num país subdesenvolvido poderia usufruir de uma assistência médica muito melhor usando seu smartphone do que a pessoa mais rica do mundo obtém hoje em dia no mais avançado dos hospitais urbanos. Da mesma forma, veículos autodirigidos poderiam fornecer às pessoas serviços de transportes muito melhores e reduzir a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito. Hoje, cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem todo ano em acidentes de trânsito (o dobro das mortes causadas por guerra, crime e terrorismo somadas). Mais de 90% desses acidentes são causados por erros humano: alguém que bebeu e dirigiu, alguém digitando uma mensagem enquanto dirige, alguém que adormeceu ao volante, alguém sonhando acordado em vez de prestar atenção à estrada. A administração Nacional de Segurança de Trânsito em Estradas dos Estados Unidos estimou que, em 2012, 31% dos acidentes fatais no país envolveram uso abusivo de álcool, 30% envolveram excesso de velocidade e 21% envolveram desatenção do motorista. Veículos autodirigidos nunca farão nada disso. Embora tenham seus próprios problemas e limitações, e embora alguns acidentes sejam inevitáveis, espera-se que a substituição de motoristas humanos por computadores reduza mortes e ferimentos na estrada em cerca de 90%. Em outras palavras, a mudança para veículos autônomos pode poupar a vida de 1 milhão de pessoas por ano. Por isso seria loucura bloquear a automação em campos como o do transporte e o da saúde só para proteger empregos humanos. Afinal, o que deveríamos proteger são os humanos - não os empregos. Motoristas e médicos obsoletos simplesmente terão de achar outra coisa para fazer.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; págs: 45 e 46)

1 de outubro de 2020

BOTÕES BIOQUÍMICOS

Quando avaliamos arte tendemos a julgá-la segundo seu impacto emocional no público. Mas se a arte é definida pelas emoções humanas, o que acontecerá quando algoritmos externos forem capazes de compreender e manipular emoções humanas melhor do Shakespeare, Frida Kahlo ou Beyoncé? Afinal, emoções não são um fenômeno místico - são resultado de um processo bioquímico. Daí que num futuro não muito distante um algoritmo de aprendizado de máquina será capaz de analisar dados biométricos de sensores em seu corpo, determinar o tipo de sua personalidade e suas variações de humor e calcular o impacto emocional que uma determinada canção - até mesmo uma certa tonalidade - terá sobre você. (...) Ao usar enormes bases de dados biométricos geradas a partir de milhões de pessoas, o algoritmo poderia saber quais botões bioquímicos acionar para produzir um sucesso global que faria todo mundo rebolar como louco nas pistas de dança. Se arte de fato tem a ver com inspirar (ou manipular) emoções humanas, poucos (se é que algum) músicos humanos terão a oportunidade de competir com um algoritmo desses, porque não podem se equiparar a ele na compreensão do principal instrumento que está tocando: o sistema bioquímico humano.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; págs: 47, 48, 50 e 51)