25 de outubro de 2019

INFORMAÇÃO E FRAUDES


Por que algumas pessoas mentem em seus impostos enquanto outras, não. (...) O que prediz quem vai mentir? O que há nesses lugares com maiores números de fraudadores e naqueles com números menores? Conseguimos correlacionar os índices de fraude com outros fatores demográficos da cidade e descobrimos dois fortes preditores: uma alta concentração de pessoas na área se qualificando para o crédito tributário sobre renda auferida e uma alta concentração de profissionais de contabilidade nos arredores. O que esses fatores indicam? Chetty e os autores tinham uma explicação. O principal motivador para fraudar seus impostos dessa maneira era a informação. A maioria dos contribuintes autônomos com um filho simplesmente não sabia que o número mágico para receber um gordo reembolso do governo era US$9 mil. Mas morar perto de quem sabe - sejam seus vizinhos ou contadores - aumentou drasticamente as chances de virem a conhecer este fato. (...) Quando se trata de descobrir quem vai fraudar seus impostos, a chave não é determinar quem é honesto ou desonesto. É determinar quem sabe ou não como o fazer.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 177 e 178)

16 de outubro de 2019

"TAMBÉM GOSTARAM"


Ele [Marc Keuschnigg] havia estudado vendas de livros em detalhe, tentando encontrar o segredo de como fazer um best-seller. Ele concordou comigo que uma grande parte da explicação do sucesso ou não de um livro está no quanto ele foi “também gostaram” na Amazon. Mas nem todos os livros e autores são iguais. “Há uma grande diferença entre estreantes e autores estabelecidos. São exatamente os estreantes que estão mais suscetíveis ao efeito dos pares”, ele me disse. “Quando as pessoas não têm informação sobre qual livro comprar, elas pesquisam para verificar o que seus pares compraram.”

Marc estudou vendas de ficção alemã em livrarias de 2001 a 2006, pouco antes de a Amazon se tornar dominante no mercado, e descobriu que, se um novato entrava na lista dos mais vendidos, então suas vendas eram impulsionadas em 73% na semana seguinte. A visibilidade em estar nas 20 primeiras posições aumentava ainda mais as vendas. A visibilidade em listas de mais vendidos era apenas parte da história. Outro fator que ajudou os estreantes eram as avaliações ruins na imprensa. Sim, é isso mesmo, não avaliações boas, mas ruins. Uma avaliação negativa em um jornal ou revista produzia normalmente 23% de aumento nas vendas para livros escritos por romancistas de primeira viagem. Avaliações positivas, por outro lado, não surtiam qualquer efeito. Marc me disse: “Há um alto risco de que as listas de best-sellers contenham, em sua maioria, livros medianos e de qualidade ruim.”

Marc me mostrou uma análise que ele havia feito relacionando vendas a avaliações on-line. Quanto mais exemplares um livro vendia, menos estrelas ele recebia na Amazon. Esta pode muito bem ser uma forma de vingança de leitores desapontados. Eles veem um livro escalar as listas, ou aparecer em uma relação de “também gostaram”, e são persuadidos a comprá-lo. Quando percebem que o livro é chato, descontam sua frustração atribuindo-lhe uma pontuação ruim na Amazon. Parece que os leitores nunca aprendem: ignoramos as avaliações e seguimos o público. Só depois que o público se engana é que as avaliações começam a refletir a qualidade do livro. Do meu ponto de vista, o papel do “também gostaram” na distorção da qualidade dá um gosto amargo ao sucesso.

David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 125 e 126)

8 de outubro de 2019

A IRRELEVÂNCIA DA REALIDADE NA SOBREVIVÊNCIA


Não tenho nenhuma razão para acreditar que os seres humanos evoluíram com a capacidade de compreender a realidade. Essa capacidade não é importante para a sobrevivência. Quando se trata de evolução, qualquer ilusão que nos mantenha vivos por tempo suficiente para procriar é boa o bastante. Uma vez que tenha compreendido que sua experiência de vida é uma interpretação da realidade, você não consegue voltar à velha maneira de pensar. A grande ilusão da vida é que nossa mente tem a capacidade de compreender a realidade. Uma clara visão da realidade não foi necessária para nossa sobrevivência. O resultado é que cada um de nós está, na verdade, vivendo no filminho que nosso cérebro criou para explicar nossas experiências.

As pessoas não mudam de opinião sobre questões emocionais apenas porque alguma informação provou que essa opinião é nonsense. Somos programados pela evolução para fazer com que novas informações apoiem opiniões existentes, desde que isso não nos impeça de procriar. A evolução não liga se você compreende ou não a realidade. A pior coisa que seu cérebro pode fazer é reinterpretar a realidade em um filme totalmente novo a cada nova peça de informação. Isso seria exaustivo e não traria nenhum benefício. Em vez disso, seu cérebro escolhe o caminho de menor resistência e instantaneamente interpreta suas observações para se adequar a sua visão de mundo.

Os seres humanos não veem a realidade como ela é. Não evoluímos para ter essa capacidade. O que temos é a habilidade de racionalizar nossas observações e transformá-las nos pequenos filmes sobre a realidade que criamos em nossa mente. A parte mais desafiadora é reconhecer que a mente humana não está equipada para compreender a realidade de qualquer maneira profunda. Os seres humanos apenas imaginam que os fatos importam para as decisões. A realidade é que inventamos nossos próprios fatos pessoais para se adequar aos filmes que estão passando em nossa cabeça.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 51, 56, 58, 74, 268, 273 e 278)

DISSONÂNCIA COGNITIVA


Condição mental na qual as pessoas racionalizam porque suas ações são inconsistentes com seus pensamentos e crenças. (...) Seu cérebro instantaneamente gerará uma ilusão para racionalizar a discrepância. (...) Em psicologia, dissonância cognitiva é o estresse ou desconforto mental experimentado pelo indivíduo que tem duas ou mais crenças, ideias e ou valores contraditórios. (...) O gatilho mais comum para a dissonância cognitiva ocorre quando a autoimagem de alguém não corresponde a suas observações. Se você acredita ser uma pessoa inteligente e bem-informada e faz algo nitidamente estúpido, isso o coloca em estado de dissonância cognitiva. Ao entrar nesse desconfortável estado mental, no mesmo instante seu cérebro gera uma ilusão para eliminar o desconforto. (...) E você não gosta de modificar sua autoimagem, a menos que seja na direção do aprimoramento.

Se você tem uma situação que pode ser explicada por uma única teoria razoável, essa teoria deve estar próxima da realidade. Mas ter várias explicações diferentes em geral é uma pista clara de dissonância cognitiva. Explicações múltiplas - não importa quão razoáveis pareçam depois - significam que as pessoas estão tentando compreender suas observações e gerando diferentes ilusões para isso. (...) Quando sua velha visão de mundo se desfaz, isso pode gerar todo tipo de comportamento irracional, até que seu cérebro reescreva o filme em sua cabeça e o torne consistente com sua nova visão de mundo. Todos nós temos filmes em nossa cabeça, que acreditamos serem visões acertadas da realidade. E esses filmes são muitos diferentes. Em geral, não notamos as diferenças ou não nos importamos com elas. Mas, quando há política envolvida, as apostas são mais altas. Então, notamos.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 27, 28, 61, 62 e 65)

7 de outubro de 2019

AQUELES CUJO SOM SE PROPAGADA MAIS LONGE

Não são apenas os piores líderes que correm o risco de ser escolhidos ou aceitos pelas multidões, são também as piores sugestões, dentre todas aquelas que emanam deles. Por que? De um lado, porque as emoções ou as idéias mais contagiosas são naturalmente as mais intensas, assim como são os sinos maiores, não os mais bem timbrados nem os mais afinados, aqueles cujo som se propaga mais longe; e, de outro lado, porque as idéias mais intensas são as mais estreitas ou as mais falsas, impressionando os sentidos e não o espírito, e as emoções mais intensas são as mais egoístas. Eis por que, numa multidão, é mais fácil propagar uma imagem pueril do que uma abstração verdadeira, uma comparação do que uma razão, a fé num homem do que a renúncia a um preconceito; e por que, sendo o prazer de denegrir mais intenso que o prazer de admirar e o sentimento da conversação mais forte que o sentimento do dever, as vaias nela se espelham com mais facilidade que os aplausos e os acessos de pânico são mais frequentes que os impulsos de bravura.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 158 e 159)

MULTIDÃO PRIMITIVA

Em todos os tempos e países, a multidão homicida e saqueadora acredita-se justiceira, e a justiça sumária que ela aplica lembra singularmente, pela natureza vingativa das penalidades, por sua crueldade inusitada, por seu próprio simbolismo - como demonstra a porção de feno na boca de Heuz -, a justiça dos tempos primitivos. A bem dizer, pode-se chamar de criminosa uma multidão transtornada pela persuação de que é traída, de que é reduzida à fome, de que querem exterminá-la? Em geral, o único criminoso aqui é o instigador ou o grupo de instigadores, o autor ou os autores das calúnias mortíferas. A grande escusa das multidões, em seus piores excessos, é sua prodigiosa credulidade, que lembra a do hipnotizado. A credulidade do público é bem menor e sua responsabilidade bem maior. Os homens reunidos são muito mais crédulos que cada um deles tomados à parte; pois o simples fato de sua atenção concentrar-se num único objeto, numa espécie de monoideísmo coletivo, os aproxima do estado de sonho ou de hipnose, em que o campo da consciência, singularmente retraído, é tomado por inteiro pela primeira idéia que se apresenta. De modo que, então, toda afirmação emitida por uma voz decidida e forte contém, por assim dizer, sua própria prova. (...) As multidões não são apenas crédula, são loucas. Várias das características que observamos nelas são as mesmas dos pacientes de nossos hospícios: hipertrofia do orgulho, intolerância, imoderação em tudo. Elas vão sempre, como os loucos, aos pólos extremos da excitação e da depressão, ora heroicamente furiosas, ora aniquiladas de pânico.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 50 e 51)

CAMBRIDGE ANALYTICA SOB MEDIDA


Depois da eleição presidencial americana de 2016, uma empresa chamada Cambridge Analytica anunciou que sua campanha orientada por dados tinha sido fundamental para a vitória de Donald Trump. (...) Ela havia usado a publicidade on-line direcionada e a pesquisa eleitoral em microescala para influenciar eleitores. (...) A Cambridge Analytica (CA) deu um grande destaque ao modelo de personalidade Big Five em seu material promocional. A empresa alega ter coletado centenas de milhões de pontos de dados sobre uma grande quantidade de eleitores americanos. A CA alegou que poderia usar esses dados para fornecer um quadro de personalidade dos eleitores que iria além das variáveis demográficas tradicionais, como gênero, idade e salário. (...) Se a CA tivesse acesso aos perfis do Facebook dos eleitores, ela poderia determinar quais tipos de propaganda teriam maior efeito sobre eles. (...) Os dados do Facebook podem ser usados para revelar nossas preferências, nosso QI e nossa personalidade. Essas dimensões poderiam então, pelo menos em teoria, ser utilizadas para nos direcionar mensagens que nos atraem como indivíduos: uma pessoa com o QI baixo pode ter sido bombardeada com teorias da conspiração não confirmadas sobre as contas de e-mail de Hillary Clinton; uma pessoa com o QI alto pode ter sido informada de que Donald Trump é um homem de negócios pragmático; uma pessoa com “afinidades afro-americanas” (como o Facebook as denomina) pode ter sido informada sobre uma restauração na periferia; um trabalhador branco desempregado pode ter recebido a informação de que um muro seria construído para manter imigrantes do lado de fora; e eleitores “com afinidade hispânica” podem ter sido informados sobre uma atitude firme em relação à Cuba de Castro. Personalidades neuróticas podem ser influenciadas com medo, pessoas solitárias, com empatia, e os extrovertidos, com um modo divertido de compartilhar a mensagem.

Em vez de focar numa mensagem central na mídia tradicional, o candidato de tal campanha pode se concentrar em desacreditar jornalistas e agências de notícias que estão tentando formar uma visão global da eleição. Com os meios de comunicação questionados, mensagens sob medida seriam enviadas diretamente aos indivíduos, fornecendo a eles uma propaganda que se adapta aos seus pontos de vista já estabelecidos.

David Sumpter (Dominados Pelos Números; pág: 45 e 46)

DEMÓGRAFAS TECH


Mike Campau

Estamos desenvolvendo algoritmos para reconhecer rostos, entender idiomas e aprender nossas preferências musicais. Estamos construindo assistentes pessoais e chatbots (interfaces conversacionais) que o ajudam a consertar seu computador. Estamos prevendo os resultados de eleições e de competições esportivas. Estamos encontrando o par perfeito para pessoas solteiras ou ajudando-as a conferir todas as possibilidades disponíveis. Estamos tentando veicular as notícias mais relevantes para você no Facebook e no Twitter. (...) O Facebook também está procurando maneiras de medir seu estado de espírito a partir de suas publicações, suas emoções a partir de suas expressões faciais em fotografias e seu nível de envolvimento a partir da sua taxa de interação com a tela. Por exemplo, a velocidade com a qual os usuários movem seu mouse durante uma tarefa rotineira no computador pode revelar o conteúdo emocional do que eles estão vendo na tela. Esses avanços sugerem um futuro em que o Facebook monitora cada uma de nossas emoções e continuamente nos manipula em nossas escolhas como consumidores, nossos relacionamentos e nossas oportunidades de trabalho. (...) Estamos nos certificando de que você encontre os melhores pacotes de viagens e voos promocionais. (...) Você está permitindo que sua personalidade seja tratada como um ponto em centenas de dimensões, que suas emoções sejam enumeradas e que seu comportamento futuro seja modelado e previsto.
 
David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 13 e 44)
 
 
O Facebook pode saber que você é um dos vários fãs de M&Ms e mandar ofertas de acordo com o seu gosto. Ele também sabe quando você terminou com o namorado, mudou-se para o Texas, começou a aparecer em várias fotos com o ex e voltou a namorá-lo. O Google sabe quando você está procurando um carro novo e pode mostrar a marca e o modelo pré-selecionados apenas pelo seu psicográfico. É uma pessoa do tipo B socialmente consciente, do sexo masculino, entre 25 e 34? Aqui está o seu Subaru. O Google também sabe se você é gay, está com raiva, é solitário, racista ou teme que a mãe esteja com câncer. Twitter, Reddit, Tumblr, Instagram, todas essas empresas são, acima de tudo, negócios, mas também são demógrafas em um alcance, em uma precisão e importância sem precedentes. Quase por acidente, os dados digitais agora podem mostrar como brigamos, amamos, envelhecemos, quem somos e como estamos mudando. Basta olhar: afastando-se apenas um pouco, os dados revelam o comportamento das pessoas quando acham que ninguém está olhando.

Christian Rudder (Dataclisma; pág: 12)

4 de outubro de 2019

BIG FIVE E SUA PERSONALIDADE NO FACEBOOK


Josan González

As coisas que escrevemos, compartilhamos e curtimos no Facebook se relacionam com nosso comportamento, nossas opiniões e nossa personalidade. (...) Michal descobriu que seriam necessários de 40 a 100 dimensões para nos classificar com precisão. (...) Enfatiza que os computadores descobrem mais relações sutis do que os humanos. “É fácil concluir que alguém que frequenta boates gays e compra revistas gays provavelmente é gay. Mas computadores podem tirar essa conclusões de sinais não tão evidentes para nós”, disse-me ele. De fato, somente 5% dos usuários rotulados como gays por esse algoritmo curtiram uma página explicitamente gay no Facebook. Foi a combinação de várias curtidas diferentes, variando de Britney Spears e Desperate Housewives, que permitiu ao algoritmo determinar a orientação sexual do usuário. (...). Gostamos de nos imaginar como sendo multidimensionais. Nós nos vemos como indivíduos complicados, com muitos aspectos diferentes de personalidade. Dizemos a nós mesmos que somos únicos, moldados pelos milhões de eventos específicos que ocorrem durante nossa vida. Mas a ACP pode reduzir esses milhões de dimensões de complexidade a um número muito menor de dimensões que podem ser usadas para nos colocar em caixas ou, usando uma metáfora visual mais apropriada, para nos representar com alguns símbolos diferentes. (...).

Foi por meio dessa missão de nos enxergar como um aglomerado de símbolos que chegamos à lista de traços de personalidades que os psicólogos chamam de Big Five, ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores. (...) Todos conhecemos pessoas que são amigáveis e comunicativas, que preferem estar entre outras pessoas e que gostam de sair. Nós as chamamos de “extrovertidas”. Também conhecemos pessoas que gostam de ler e programar computadores, que apreciam ficar sozinhas e que falam menos quando estão em grupos. Nós as chamamos de “introvertidas”. Estas não são apenas noções frívolas. Elas são maneiras corretas e úteis de descrever pessoas. (...) Os psicólogos chegam, na maioria dos casos, sempre nas mesmas componentes da personalidade, as Big Five: abertura a novas experiências, conscienciosidade, extroversão, amabilidade (ou simpatia) e neuroticismo (ou instabilidade emocional). Esses cinco traços não são escolhas arbitrárias, e sim medidas robustas e reproduzíveis que resumem o que significa ser humano. (...).

Pessoas extrovertidas no Facebook gostam de dançar, de teatro e de jogar Beer Pong. Pessoas tímidas gostam de anime, de jogos de RPG e dos livros de Terry Pratchett. Pessoas neuróticas gostam de Kurt Cobain, de música emo e de dizer “algumas vezes me odeio”. Pessoas calmas gostam de paraquedismo, de futebol e de administração de empresas. Muitos estereótipos foram confirmados pelas “curtidas” das pessoas, mas várias relações inesperadas também apareceram. (...) É o acúmulo de muitas curtidas diferentes que revela nossa personalidade. (...) Estamos clicando nossa personalidade para dentro do Facebook, hora após hora, dia após dia. Carinhas felizes, dedão de cima, “curtir”, carinhas tristes e corações. Estamos dizendo ao Facebook quem somos e o que pensamos. Estamos nos revelando para uma rede social num nível de detalhes que normalmente reservamos para os amigos mais próximos. E, ao contrário de nossos amigos - que tendem a esquecer dos detalhes e são tolerantes em relação às conclusões que tiram sobre nós -, o Facebook está sistematicamente armazenando, processando e analisando nosso estado emocional. (...) Os humanos pensam sobre outras pessoas usando um número pequeno de dimensões - idade, raça, gênero e, se as conhecemos um pouco melhor, personalidade -, enquanto os algoritmos já estão processando bilhões de pontos de dados e realizando classificações em centenas de dimensões. (...) Ele está rotacionando nossa personalidade em centenas de dimensões, de modo que possa encontrar a direção mais fria e racional para nos analisar. (...).

Os métodos utilizados pelo Facebook são baseados na aleatoriedade. Rotacionar um milhão de vezes os dados de um milhão de categorias diferentes de curtidas (...) leva algum tempo. Por isso, o algoritmo do Facebook começa escolhendo um conjunto aleatório de dimensões com as quais possa nos descrever. O algoritmo avalia, então, o desempenho dessas dimensões aleatórias, permitindo que ele encontre um novo conjunto de dimensões que melhore sua descrição. Depois de apenas algumas poucas iterações, o Facebook consegue ter uma ideia bastante boa das componentes mais importantes que descrevem seus usuários. Se, por um lado, o Facebook consegue reduzir milhões de curtidas para umas poucas centenas de componentes, a visualização dessas componentes não é algo fácil para nós. Nosso cérebro, que funciona em duas ou três dimensões, e não em algumas centenas, atinge seu limite bem rapidamente. Assim, a fim de nos ajudar a entender como ele nos enxerga, o Facebook criou nomes para as categorias que seus algoritmos encontraram. Para descobrir como a empresa o caracterizou, primeiro você deve fazer o login; depois, clique no menu de opções na parte superior à direita e escolha "configurações". Em configurações, escolha "anúncios", então clique em "seus interesses" e, depois, clique em "mais", última opção à direita; finalmente, escolha "estilo de vida e cultura".

David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 37, 38, 39, 40, 41, 42 e 43)

CONVERSAÇÃO


Gidding, em seus Princípios de sociologia, faz uma referência à conversação, e uma referência importante. Segundo ele, quando dois homens se encontram, a conversação que mantêm é apenas um complemento de seus olhares recíprocos, através dos quais se exploram e buscam saber se pertencem a mesma espécie social, ao mesmo grupo social. “Adoramos”, diz ele, “a ilusão que nos faz crer que conversamos porque nos preocupamos com as coisas de que falamos, do mesmo modo que adoramos esta ilusão, a mais doce de todas: a crença na arte pela arte. A verdade é que toda expressão, pelo homem comum ou pelo artista, e toda comunicação, desde a conversação acidental da entrada em relações até as profundas intimidades de um amor verdadeiro, tem sua origem na paixão elementar de conhecer-se e fazer-se conhecer mutuamente, de definir a consciência de espécie.” (...) Mas é certo que as conversações ulteriores que mantêm entre si, depois de se conhecerem mutuamente, têm um caráter bem diferente. Elas tendem a associá-los um ao outro, ou a fortalecer sua associação se já pertencem à mesma sociedade. Tendem, por conseguinte, a fazer surgir e a acentuar, a ampliar e a aprofundar a consciência de espécie, não simplesmente a defini-la. Não se trata de pôr a nu seus limites, mas de fazê-los constantemente recuar.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 114 e 115)

OPINIÃO PÚBLICA E A IMPRENSA

Tradição, resumo condensado e acumulado do que foi a opinião dos mortos, herança de necessários e salutares preconceitos, frequentemente onerosos para os vivos. A outra é o que me permitirei chamar, com um nome coletivo e abreviativo, de razão. Entendo dessa forma os juízos pessoais, relativamente racionais, embora muitas vezes insensatos, de uma elite pensante que se isola e se retira da corrente popular a fim de represá-la ou dirigi-la. A razão de hoje tornar-se-ia como que a opinião de amanhã e a tradição de depois de amanhã.

A conversação em todos os tempos e a principal fonte atual de conversação, a imprensa, são os grandes fatores da opinião, sem contar evidentemente a tradição e a razão, que não deixam jamais de participar dela e imprimir sua marca. Os fatores da tradição, além da própria opinião, são a educação familiar, a aprendizagem profissional e o ensino escolar, no que este tem de elementar, pelo menos. A razão, em todos os cenáculos judiciários, filosóficos, científicos e mesmo eclesiástico em que se elabora, tem por fontes características a observação, a experiência e a pesquisa, ou, em todo caso, o raciocínio, a dedução baseada nos textos.

Mas há sempre duas opiniões em confronto, a propósito de cada problema que se coloca. Só que uma das duas consegue rapidamente eclipsar a outra por irradiação mais rápida e mais brilhante, ou então porque, embora menos difundida, é a mais barulhenta. Por mais que uma opinião se difunda, ela pouco manifesta se for moderada; mas, por menos difundida que seja uma opinião violenta, ela manifesta muito.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 60, 61, 62 e 64)

CUMPLICIDADE PÚBLICA

Será que o público eleitoral que nomeou deputados sectários e fanáticos nada tem a ver com suas prevaricações, com seus atentados contra as liberdades, os bens e a vida dos cidadãos? Não é verdade que frequentemente os reelegeu, endossando assim seus procedimentos? Não há como o público eleitoral para ser cúmplice de criminosos. O próprio público não-eleitoral, puramente passivo em aparência, na realidade age por meio daqueles que buscam adulá-lo, captá-lo. É quase sempre de cumplicidade com um público celerado. desde a época em que o público começou a se formar, que os maiores crimes históricos foram cometidos. Num nível inferior de delito, as fraudes eleitorais, tais como se praticam corrente e abundantemente em certas cidades, não são delitos de grupo, realizados com a cumplicidade mais ou menos consciente de todo um público? Regra geral, ou quase: por trás das multidões criminosas há públicos mais criminosos ainda e, à frente destes, publicistas que o são ainda mais.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 53 e 54)