12 de novembro de 2019

VIDA DE GENTE HONESTA SÓ TEM PRIMEIRA INSTÂNCIA

A sua vida e a minha não tem muitas instâncias. A maioria dos nossos prosaicos problemas diários precisam ser resolvidos em primeira instância mesmo. Ou quando o dinheiro acaba no banco, seu gerente paga umas três instâncias das suas contas antes de informar que você está quebrado? Doenças não dão direito a recurso. Chefe não espera segunda instância para demitir. Gente honesta precisa decidir quase tudo em primeira instância. Mas por alguma razão indizível, canalhas tem direito a inúmeras instâncias para se defender. A Justiça não é cega. É míope. Por isso o STF compreendeu que é assim mesmo que tem que ser. Enquanto tudo que a nação pede, há anos, é que se faça justiça, que se reduza a violência, que se acabe com a corrupção, a Corte Suprema decidiu que são necessárias mais instâncias para se comprovar o que duas cortes já comprovaram. Ao lixo com o julgamento de primeira e segunda instância, pagos com nosso dinheiro. Não valeu. Começa de novo, porque o imposto da gente de bem está aí pra isso mesmo. Em nenhum outro canto da nossa vida existe tanta oportunidade. No Enem não tem segunda instância. No hospital não tem segunda instância. Dívida não tem segunda instância. Falência não tem segunda instância. Assassinato tem. Bandidagem tem. Assalto a banco tem. Corrupção tem. Enquanto você e eu temos que correr para acertar na primeira, para ganhar na primeira, para pagar na primeira, para salvar na primeira, o STF - que deveria nos defender - criou uma casta seleta, formada pela escória do país. E deu a eles chance, deu tempo, deu prazo, deu esperanças. As mesmas chances que faltam a 13 milhões de desempregados, o mesmo tempo que não tem quem precisa trabalhar e estudar, o mesmo prazo que não pode contar quem espera um transplante no SUS. Corruptos, canalhas, fascínoras, bandidos voltam às ruas, livres, esperando por mais instâncias de injustiça. Enquanto a vida de quem é honesto está transitada em julgado.

5 de novembro de 2019

O PODER DO BIG DATA



Palavras são dados. Cliques são dados. Links são dados. Erros de digitação são dados. Bananas em sonhos são dados. O tom de voz é um dado. Assobios na respiração são dados. Ritmo cardíaco é dado. Tamanho do baço é dado. As buscas são, é o que defendo, os dados mais reveladores. (...) Os dados de busca do Google são de longe a fonte predominante de Big Data. (...) O sucesso do Google é também construído sobre a coleta de um novo tipo de dados. (...) A revolução do Big Data tem menos relação com coletar cada vez mais dados e mais com coletar os dados certos. (...) Oferecer novos tipos de dados é o primeiro poder do Big Data. (...) Nos permite finalmente ver o que as pessoas realmente querem e realmente fazem, não o que dizem que querem e que fazem. Oferecer dados honestos é o segundo poder do Big Data. (...) Permitir a análise de pequenos subconjuntos de pessoas é o terceiro poder. (...) Permite uma diferenciação significativa em pequenos segmentos de um conjunto de dados para obter novas perspectivas sobre quem somos. E podemos analisar de perto outras dimensões além da idade. Se tivermos dados suficientes, podemos ver como as pessoas em determinadas cidades e bairros se comportam. E podemos descobrir como as pessoas se comportam mal hora a hora ou até minuto a minuto. (...) Permitir a realização de muitos experimentos causais é o quarto poder do Big Data. (...) É aqui que a grandiosidade do Big Data realmente entra em cena. Você precisa de muitos píxeis em uma foto para ser capaz de a ampliar com nitidez em determinado ponto. Da mesma forma, são necessárias muitas observações em um conjunto de dados para possibilitar a identificação clara de um pequeno subconjunto daqueles dados - por exemplo, qual é a popularidade do Mets entre homens nascidos em 1978. Uma pequena pesquisa de alguns milhares de pessoas não terá uma amostra grande o suficiente desses homens. (...) “Big Data não quer dizer fazer apenas a mesma coisa que você faria com a pesquisa, exceto pela utilização de mais dados”, explica Chetty. Eles estavam fazendo perguntas mais apropriadas para poucos dados para a gigantesca coleção de dados que tinham em mãos. “Big Data deveria na verdade permitir a utilização de arranjos totalmente diferentes daqueles usados na pesquisa comum”, explica Chetty.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 53, 54, 60, 62, 97, 169, 170 e 171)