14 de janeiro de 2019

TRABALHOS MODERNOS



DC: Começando pela questão do setor de serviços, historicamente os serviços públicos (nível Brasil) são péssimos, não é a toa que qualquer pessoa que tenha alguma condição financeira melhor, opta, invariavelmente, por serviços do setor privado. Vale ressaltar que o Brasil tem um dos piores índices de retorno sobre os impostos arrecadados para o bem estar social, também somos um dos países de maior carga tributária, ou seja, pagamos muito caro, recebemos pouco e o pouco que recebemos ainda é ruim. Então, o tal serviço público sem fins lucrativos está longe de ser um ponto positivo por si só, como parece dar a entender no vídeo, ao menos, não é o nosso caso aqui. Já que o assunto é sobre trabalhadores e serviços: "para se ter uma ideia, em 2013, os tributos comprometeram cerca de 41% da renda do trabalhador".

Se fala muito sobre classes de trabalhadores, pra mim trabalhador é trabalhador, todos têm sua importância no funcionamento do todo e trabalhadores existem porque existe trabalho, quem o usufrui desse trabalho e quem gera esse trabalho, o nome disso é mercado. Há uma dinâmica, uma lógica e os trabalhadores, de qualquer classe, também fazem parte disso. O exemplo do Uber é legal. No vídeo ele diz, em tom crítico, que os trabalhadores alugam seus instrumentos de trabalho e seu trabalho e uma grande corporação lucra 20% ou 30% numa corrida de automóvel, mesmo sem a empresa bancar a manutenção do carro, alimentação do trabalhador etc. A princípio não entendi bem a crítica visto que ninguém é obrigado a ser Uber e nem a baixar o aplicativo, e mesmo assim o Uber é uma empresa que a sociedade aprova, usuários e motoristas, do contrário ela nem existiria. O sucesso do Uber como alternativa ao táxi, prova que mesmo sendo apenas uma espécie de intermediador entre quem está disposto a fazer uma corrida e entre quem busca uma corrida, é melhor do que o que havia antes em se tratando de serviço de transporte particular.

A questão do trabalho intermitente, achei uma negação da realidade, isso é um traço dos novos tempos, tem a ver com mudanças que os próprios trabalhadores também vem obtendo com o tempo e de como a sociedade, junto as mudanças tecnológicas, vem passando a ser. As coisas mudam. A época que nosso primeiro trabalho era o mesmo que passaríamos o resto da vida também é um traço de um outro tempo, em que as dinâmicas do mercado de trabalho funcionavam de outra forma, é verdade que a sociedade tem se tornado mais complexa, heterogênea e fragmentada como ele diz, e isso é justamente um traço da liberdade, dá indefinição do amanhã, o que gera a possibilidade maior de podermos ser outra coisa em várias etapas da vida.

Por último, nesse vídeo, o que ao meu ver, foi mais desonesto, foi a ligação dessa ideia de trabalho intermitente com a falta de perspectiva, o que resultaria então em suicídio, parece piada, mas foi no mínimo uma bela forçação de barra essa análise. Ok, que aquela depressão que antecede o suicídio envolve algum grau da falta de sentido, falta de perspectivas etc, mas vamos concordar que a sociedade é complexa, fragmentada e heterogênea o suficiente para que as motivações de um suicídio não se resumam somente a questões trabalhistas...

Contra-argumento: Sobre a tributação. Sobre a reversão dos impostos serem ruins, não é só o modelo que torna ele pior que em outros países, mas principalmente a posição que o país ocupa na divisão internacional do trabalho. A produção de matéria-prima e os chamados "produtos de baixo valor agregado", junto a exportação de lucros e dividendos, a transferência via balança comercial de parte da riqueza produzida aqui para os países centrais (E.U.A, Inglaterra e etc) fazem com que parte da riqueza se esvaia por esses canais. Isso faz com que o Estado tenha um papel muito maior no reinvestimento do capital aqui do que tem na Alemanha, por exemplo. Isso faz com que a tributação não apenas se converta em capital adicional para os capitalistas. Ainda nesse tópico, a dominação do Estado entre os próprios capitais requer uma taxa de corrupção para as alianças, aprovação de projetos que as vezes beneficiam alguns e prejudicam outros e etc. Para observar com clareza esse exemplo, basta ver o processo da proibição de importação de cereais na Inglaterra no século XVIII e XIX e a luta pela abolição dessa leis e os conchavos feitos pelos industriais para derrubar os latifundiários.

Então o Estado brasileiro tem esse peso em corrupção e reinvestimento dos capitais. Fora isso, tem uma situação que se agrava desde os anos 70, que é o peso necessários que o Estado passou a exercer na economia em todo o globo. Agora ele passa a ser crucial para compra das mercadorias e também com massas maiores da riqueza apropriada via tributação para investimentos privados (geralmente via bancos públicos e comprar massivas de mercadorias, quase sempre sem utilidade alguma). Como exemplo, podemos observar o gasto bélico Norte-americano, que possui depósitos e mais depósitos de armas que nunca serão usadas, uma quantidade de armas que mesmo que cada americano recebesse uma em sua casa, ainda seria uma porcentagem muito pequena do que está armazenado.

Sobre trabalhadores. Trabalhadores existem porque existe trabalho assalariado, servos existiram porque existiu trabalho servil e escravos existiram porque existia trabalho escravo. Algo tão óbvio, mas parece que às vezes se esquece que nem sempre foi assim e nem sempre será assim. O mercado gerou o trabalho? Não, é justamente o inverso, afinal, o trabalho que produz comida, ferramentas e etc existiu e existe antes mesmo que a humanidade sequer imaginasse que algo como relações mercantis pudessem existir, afinal, se não fosse assim nem estaríamos aqui, comida e ferramentas para produzi-la são o primeiro ato histórico da humanidade. A troca de produtos do trabalho criou o mercado e a partir dai o trabalho virou trabalho também mercantil, ou assalariado. E a condição de sobrevivência daqueles sem o capital, passou a depender da venda da sua capacidade (potência) de trabalhar, ou força de trabalho. Isso já explica exatamente porque pessoas viram uber, porque pessoas trabalham em serviços, porque quando o trabalho (produzir os meios de subsistência e produção) foram transformados em capital e com isso o trabalho se transformou em assalariado, todo o restante das atividades humanas pode ser mercantilizada. E o trabalho assalariado virou a única possibilidade para todos os indivíduos sem propriedade do capital, ou seja, a classe trabalhadora.

Os motoristas escolhem o uber porque não tem outra forma de viver, assim como os consumidores porque despendem menos dinheiro e não existem opções melhores de locomoção. Quando você diz que as coisas mudam, ora é óbvio, a questão é que você trata isso como natural. Não é nada natural, é a lógica do capital que torna o desemprego de parte da humanidade uma condição da sua existência. E o trabalho intermitente a regra atual (e aqui entram os problemas da aposentaria, a insegurança com o próprio desemprego). E me desculpe, ninguém se realiza sendo secretário hoje, trabalhando de garçom amanhã e não sabendo se terá emprego no dia seguinte, pois isso significa não saber se vai comer no dia seguinte. Não ter garantias mínimas para absolutamente nada.

Parece Alice no país das maravilhas pensar que alguém pode desenvolver qualquer capacidade humana trabalhando em um caixa do supermercado, telemarketing no outro mês, três meses procurando emprego, um ano trabalhando como chofer e etc. A indefinição é justamente o que o mercado reserva, é a liberdade da não-liberdade, da iliberdade, justamente porque a única liberdade que se tem é buscar alguém disposta a comprar a única propriedade que ainda resta, a força de trabalho.

É um absurdo achar que um indivíduo possa se locupletar por não saber se vai ou não ter salário no mês seguinte. Principalmente quando os critérios da venda da força de trabalho não são nem definidos por ele, mas por quem a compra. Critérios de idade (indivíduos com 40 anos, 50 anos já tem grandes problemas para contratação).

O suicídio nunca teve números tão elevados na história. Mas primeiro, qual o critério valorativo que essa sociedade tem? Em primeiro lugar, como um indivíduo valora sua própria existência como uma existência plena de sentido? Fundamentalmente os critérios são objetivos, começa na confirmação por parte do próprio mercado que esse indivíduo tem valor. Por que um mendigo ou os hippies são tão desprezados socialmente? Porque do ponto de vista da acumulação capitalista eles são inúteis, pesos mortos da dinâmica social e por isso mesmo são desprezados, são inúteis para o capital. O indivíduo se confirma como tal nessa sociedade em que momento? Quando ele recebe a confirmação de seu valor pelo mercado. Ora, não vem justamente dessa confirmação o sentido da vida nessa sociabilidade? Não há desonestidade alguma do Antunes, mesmo que eu discorde bastante desse conceito de proletário dele.


DC: Quanto a essa questão da tributação, entendo que o papel do país na sua relação com as outras economias, na dinâmica internacional, exista as influências etc. Mas me refiro as questões que competem a assuntos mais internos, mudanças, por exemplo, que poderiam tecnicamente serem feitas do dia pra noite.

Definitivamente não existe trabalhador somente porque existe trabalho assalariado. Há quem trabalhe com outros fins que não o dinheiro, há aposentados que se mantêm ativos com tarefas produtivas, há hobbys que são puro trabalho sem retorno financeiro algum, com fins de prazer, busca de sentido etc, as motivações podem ser as mais diversas, vão além da grana, e não deixam de ser trabalho, por definição.

Quanto a sua pergunta: “mercado gerou o trabalho?” eu não disse isso... E outra, relações mercantis e mercado são inseparáveis, se um existe o outro necessariamente existe... Então, não sei o porque desse comentário.

Bom, não acho também que as pessoas escolhem Uber porque não têm outra forma de viver, optam em trabalhar como Uber porque, antes de mais nada, é uma forma melhor do que alguma outra que uma pessoa pode encontrar de sobreviver. Vale ressaltar que o Uber gera uma opção a mais de trabalho, de gerar valor para os outros por meio do transporte, uma opção que não tem obrigação de existir. E do ponto de vista do consumidor, em meio a inexistência de opções melhores de locomoção, uma alternativa que nos faça despender menos dinheiro... Ué, é genial não? rsr

“A lógica do capital que torna o desemprego de parte da humanidade uma condição da sua existência”, isso é discutível, entendo que há várias formas de um sistema se expressar. Tudo bem que, como regra geral, o sistema não é perfeito e querer ver uns 8 bilhões pessoas felizes ao mesmo tempo, já acho que estamos falando de alguma utopia mas o que se sabe é que o sistema capitalista é o que mais tem produzido avanços e melhorias na humanidade, apesar dos seus defeitos. O desemprego ou a garantia de desigualdade não é um atributo do capitalismo, tem muito mais a ver com a forma que experimentamos um sistema, seja capitalista ou socialista, tem a ver com poder, e os jogos de poder estarão presentes em qualquer sistema político.

Quanto a ideia de se realizar e a de não ter garantias, bem.. São questões complicadas ai né, sobretudo, quando o Estado legisla nesse intuito... Em resumo, creio não ser possível possibilitar garantias à todos, mesmo no melhor dos mundos, é um luxo muito grande ter a garantia de que você não vai ter a possibilidade de se ferar muito feio na vida. O mundo não é mesmo um “Alice no país das maravilhas”... Mas talvez seja possível um lugar em que todos se realizem e que na pior das hipóteses, consigam ficar numa boa. Eu, pessoalmente, só não consigo nem imaginar. Mas seria um sonho.

“A liberdade da não-liberdade”? Não entendi.. Mas vou ser mais claro. Liberdade não é um mar de rosas, há até quem não a queira, a maioria, arisco dizer. A liberdade que me refiro é aquela em que somos convidados a tomar de forma mais intensa as rédeas da nossa vida em mais aspectos, pois não caminhamos para um mundo em que temos o caminho das pedras e isso é em relação a qualquer questão, inclusive, o trabalho. Entendo isso tudo como uma mudança natural, sim, tão natural quanto foi produzirmos os primeiros machados, que acarretaram mudanças no modo de vida, assim como coisas como o Uber, são presságios das mudanças também, que apontam para que tipo de relações teremos.

Claro que não vou poder definir o preço da minha força de trabalho, por exemplo, se não iria cobrar fortunas para fazer qualquer besteira. Imagine se um motorista do Uber pudesse cobrar 1mil reais para leva-lo a qualquer lugar, não funcionaria. Simples assim. Realmente, os critérios da venda da força de trabalho são definidos, em parte, por quem compra, no sentido de que as pessoas estão dispostas a pagar até determinado limite, limite esse definido por uma questão de poder de compra e de reconhecimento de valor. Em resumo, se não existe ninguém pra comprar determinado produto/serviço, não haverá força de trabalho para fazer esse tal produto/serviço. Portanto, realmente, não é o lado da força de trabalho que diz qual o seu valor, em parte, quem compra mesmo é que diz. É uma espécie de equilíbrio de valores entre a troca dos dois lados, daí o surgimento do preço.

Algumas perguntas existências aí são muito profundas e compete a cada um encontrá-las... E na verdade acho que a realidade é um pouco mais cruel do que dizer que os mendigos ou os hippies são inúteis para o capital, eles podem ser desprezados, serem pesos mortos da dinâmica social por causa de nós mesmos, antes de apontar o dedo para um sistema ou o capital, basta se perguntar que valor um mendigo ou um hippie tem pra você mesmo, e verá que, na verdade, quem os despreza, quem não os valoriza na sociedade são as pessoas comuns, é a própria sociedade, eu, você e etc.

“Quando ele recebe a confirmação de seu valor pelo mercado. Ora, não vem justamente dessa confirmação o sentido da vida nessa sociabilidade?”

Companheiro, com essa reflexão me parece que você é visceralmente capitalista hein.. hehe

Mas não, não acho que o sentido da vida se faça por meio do mercado, o sentido da vida é algo tão pessoal e complexo, que não cabe em nenhum sistema e nenhum sistema consegue definir essa questão, está para além de qualquer coisa, qualquer país, qualquer realidade existente, é algo que internamente você constrói apesar de tudo. Quanto a isso, a publicidade pode até tentar vender algum ideal de vida, da mesma forma que o marketing político busca vender uma percepção. E há quem compre.

Diego Cosmo

8 de janeiro de 2019

ENGAJAMENTO

Engajamento diz respeito ao nível de interação dos diferentes tipos de usuários com o conteúdo publicado. O conteúdo é a mola propulsora que movimenta a internet, e o engajamento se tornou a principal referência de como o conteúdo impacta as pessoas.

Engajamento de Propagação: é o tipo de conteúdo que visa obter o maior alcance possível entre o público com o intuito de aumentar sua popularidade. É ideal para ações de posicionamento de marca, branding e para conseguir grande volume de seguidores.

Engajamento de Ação: todo o conteúdo cujo objetivo é direcionar tráfego para um site, hotsite ou landing page. Este tipo de engajamento é mais complexo e tem como objetivo algum tipo de conversão dos usuários direcionados.

Tércio Strutzel (Presença Digital; pág: 16)

CADA ESCOLHA UMA RENÚNCIA

O paradoxo é pensarmos que queremos mais escolhas, porém, quanto mais opções temos, menos satisfeitos ficamos. Esse conceito foi formulado primeiramente por Barry Shwartz no livro O Paradoxo da Escolha: Porque Mais é Menos. Nesta obra, o autor aponta quatro principais razões para a insatisfação em relação ao grande número de possibilidades:
 
O CUSTO DE OPORTUNIDADE: Ao fazer uma escolha baseada em um grande número de opções, o consumidor tem de abrir mão de todas as outras alternativas. Por outro lado, quando precisa selecionar apenas entre duas opções, é mais fácil e rápido analisar os prós e contras de cada item. Ao se decidir por um produto, a pessoa sabe que está abrindo mão de alguma vantagem que o outro produto ofereceria, este é o custo de oportunidade. Ele sempre tem alguma influência em uma situação de escolha, porém tem um peso muito maior quando as opções são muitas. ARREPENDIMENTO: O ato de não escolher é, por si só, uma escolha. Dessa forma as pessoas não se arrependem somente do que escolheram, mas também do que deixaram de escolher. Por isso, quanto maior o número de possibilidades, menor o prazer das escolhas. CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO: Acontece quando a escolha que parecia a mais correta até ontem, hoje se mostra não tão vantajosa diante de um novo produto. O PESO DA COMPARAÇÃO: É inevitável que as pessoas em geral estejam sempre fazendo comparações com tudo a sua volta e quanto mais possibilidades existem, mais as pessoas têm a sensação de que fizeram as escolhas erradas.

Tércio Strutzel (Presença Digital; pág: 12)