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5 de outubro de 2021

ENCONTRANDO PADRÕES


Biologicamente, não somos muito diferentes dos nossos antepassados. Entretanto, alguns pontos fortes da Idade da Pedra tornaram-se pontos fracos na era da informação. Os seres humanos não dispõem de muitas defesas naturais. Não somos tão rápidos, nem tão fortes. Não temos garras ou presas, nem carapaça. Não cuspimos veneno. Não sabemos nos camuflar. E não podemos voar. Ao contrário, é nossa sagacidade o que nos permite sobreviver. Nossa mente é rápida. Fomos programados para detectar padrões e reagir a oportunidades e ameaças sem muita hesitação. (...) O problema, afirma Poggio, é que esses instintos evolutivos às vezes nos levam a detectar padrões quando, na verdade, eles não existem. "As pessoas vem fazendo isso o tempo todo", explicou Poggio. "Encontrando padrões em ruídos aleatórios". (...) Alvin Toffler, no livro Choque do futuro, de 1970, previu algumas consequências do que chamou de "sobrecarga de informação". Em sua opinião, nosso mecanismo de defesa seria simplificar o mundo de maneiras que confirmassem nossas tendenciosidades, mesmo que o mundo em si estivesse se tornando mais diverso e mais complexo.

Nate Silver (O Sinal e o Ruído; págs: 19 e 20)

16 de julho de 2021

OS LOOPS DOS HÁBITOS


Hábitos em sua definição técnica: as escolhas que todos fazemos deliberadamente em algum momento, e nas quais paramos de pensar depois mas continuamos fazendo, normalmente todo dia. (...) Mecanismos subconscientes que impactam as inúmeras escolhas que parecem ser fruto de um pensamento racional, mas na verdade são influenciadas por impulsos que a maioria de nós mal reconhece ou compreende. (...) Sem os loops dos hábitos, nossos cérebros entrariam em pane, sobrecarregados com as minúcias da vida cotidiana. (...) Esse processo dentro dos nossos cérebros é um loop de três estágios. Primeiro há uma deixa, um estímulo que manda seu cérebro entrar em modo automático, e indica qual hábito ele deve usar. Depois há a rotina, que pode ser física, mental ou emocional. Finalmente, há uma recompensa, que ajuda seu cérebro a saber se vale a pena memorizar este loop específico para o futuro. (...) As deixas podem ser quase qualquer coisa, desde um estímulo visual, como um doce ou um comercial de tevê, até certo lugar, uma hora do dia, uma emoção, uma sequência de pensamentos, ou a companhia de pessoas específicas. As rotinas podem ser incrivelmente complexas ou fantasticamente simples (alguns hábitos, como aqueles relacionados a emoções, são medidos em milissegundos). As recompensas podem variar desde comida ou drogas que causam sensações físicas, até compensações emocionais, tais como os sentimentos de orgulho que acompanham os elogios ou as autocongratulações. (...) É assim que novos hábitos são criados: juntando uma deixa, uma rotina e uma recompensa, e então cultivando um anseio que movimente o loop.

Charles Duhigg (O Poder do Hábito; págs: 15, 24, 36, 38, 42, 43 e 66)

30 de maio de 2021

ANSEIOS


A simples visão de um cigarro é suficiente para que o cérebro anseie por uma dose de nicotina. Se essa dose não chega, o anseio cresce até que o fumante, sem pensar, estenda a mão e pegue o cigarro. Ou pensemos no e-mail, por exemplo. Quando um computador toca um sininho ou um smartphone vibra com uma nova mensagem, o cérebro começa a antecipar a distração momentânea que abrir um e-mail proporciona. Essa expectativa, se não for satisfeita, pode se acumular até que uma reunião esteja cheia de executivos irrequietos conferindo seus BlackBerries vibrantes embaixo da mesa, mesmo sabendo que provavelmente são só os últimos resultados de um jogo de futebol virtual. (Por outro lado, se alguém desabilita o vibracall - e assim remove a deixa -, as pessoas conseguem trabalhar durante horas sem pensar em conferir sua caixa de entrada). Cientistas estudaram os cérebros de alcoólatras, fumantes e comedores compulsivos, e mediram como sua neurologia - as estruturas de seus cérebros e o fluxo de substâncias neuroquímicas dentro de suas cabeças - se altera conforme seus anseios se tornam arraigados. Hábitos especialmente fortes, escreveram dois pesquisadores da Universidade de Michigan, geram reações semelhantes às de vícios, de modo que “o desejo evolui para um anseio obsessivo” que pode forçar nossos cérebros a entrar em piloto automático, “mesmo diante de fortes desincentivos, incluindo perda de reputação, emprego, lar e família”. (...) “Não há nada programado em nossos cérebros que nos faça ver uma caixa de donuts e automaticamente querer algo doce”, Schultz me disse. “Mas uma vez que nosso cérebro aprende que uma caixa de donuts contém um açúcar delicioso e outros carboidratos, ele começa a antecipar o efeito do açúcar. Nossos cérebros nos impulsionam em direção à caixa. Então, se não comermos o donut, vamos nos sentir decepcionados.” (...) No entanto, esses anseios não têm plena autoridade sobre nós. (...) Há mecanismos que podem nos ajudar a ignorar as tentações. Mas para superar o hábito, precisamos reconhecer que anseio está acionando o comportamento. Se não temos consciência do prazer antecipado, então somos como os compradores que, como se atraídos por uma força invisível, acabam entrando na Cinnabon. (...) A maioria dos vendedores de comida instala seus quiosques em praças de alimentação, mas a Cinnabon tenta instalar suas lojas longe de outras lojas de comida. Por que? Porque os executivos da Cinnabon querem que o cheiro dos pãezinhos de canela se espalhe por corredores e cantos sem interferência, de modo que os compradores comecem a ansiar inconscientemente por um pãozinho.

Charles Duhigg (O Poder do Hábito; págs: 65, 67 e 68)

2 de fevereiro de 2021

CHUNKING (AGRUPAMENTO)

Conforme cada rato aprendia a se orientar no labirinto, sua atividade mental diminuía. À medida que o caminho se tornava cada vez mais automático, os ratos começaram a pensar cada vez menos. (...) Ele não precisava escolher para que direção virar, portanto, os centros de tomada de decisão do cérebro ficavam em silêncio. (...) Quando um hábito surge, o cérebro para de participar totalmente da tomada de decisões. Ele para de fazer tanto esforço, ou desvia o foco para outras tarefas. (...) Este processo - em que o cérebro converte uma sequência de ações numa rotina automática - é conhecido como “chunking” (agrupamento) e está na raiz de como os hábitos se formam. Há dezenas - se não centenas - de blocos (chunks) comportamentais dos quais dependemos todos os dias. Alguns são simples: você automaticamente põe pasta de dente na escova antes de colocá-lo na boca. Alguns, tais como se vestir ou preparar o almoço das crianças, são um pouco mais complexos. (...) Uma vez que esse hábito começa a se desenrolar, nossa massa cinzenta está livre para ficar em silêncio ou dar sequência a outros pensamentos. (...) Os hábitos, dizem os cientistas, surgem porque o cérebro está o tempo todo procurando maneiras de poupar esforço. Se deixado por conta própria, o cérebro tentará transformar quase qualquer rotina num hábito, pois os hábitos permitem que nossas mentes desacelerem com mais frequência. Este instinto de poupar esforço é uma enorme vantagem. (...) Um cérebro eficiente também nos permite parar de pensar constantemente em comportamentos básicos, tais como andar e escolher o que comer, de modo que podemos dedicar energia mental para inventar lanças, sistemas de irrigação e, por fim, aviões e video games.

Charles Duhigg (O Poder do Hábito; págs: 32, 33, 34, 35 e 37)

24 de setembro de 2020

COMPARTILHAR, COLABORAR E CRIAR

As tecnologias de Web 2.0 permitiram a realização de três primitivos e fundamentais desejos humanos: compartilhar, colaborar e criar. Dezenas de milhares de anos atrás, nossos antepassados neandertais primeiro se reuniam para compartilhar os despojos da caça, afiar ferramentas e pintar bisões nas paredes das cavernas. Hoje, pouco mudou, a não ser que as novas tecnologias vêm facilitando a realização desses três desejos primordiais.

Christer Holloman (MBA das Mídias Sociais; pág: 33)

8 de outubro de 2019

A IRRELEVÂNCIA DA REALIDADE NA SOBREVIVÊNCIA


Não tenho nenhuma razão para acreditar que os seres humanos evoluíram com a capacidade de compreender a realidade. Essa capacidade não é importante para a sobrevivência. Quando se trata de evolução, qualquer ilusão que nos mantenha vivos por tempo suficiente para procriar é boa o bastante. Uma vez que tenha compreendido que sua experiência de vida é uma interpretação da realidade, você não consegue voltar à velha maneira de pensar. A grande ilusão da vida é que nossa mente tem a capacidade de compreender a realidade. Uma clara visão da realidade não foi necessária para nossa sobrevivência. O resultado é que cada um de nós está, na verdade, vivendo no filminho que nosso cérebro criou para explicar nossas experiências.

As pessoas não mudam de opinião sobre questões emocionais apenas porque alguma informação provou que essa opinião é nonsense. Somos programados pela evolução para fazer com que novas informações apoiem opiniões existentes, desde que isso não nos impeça de procriar. A evolução não liga se você compreende ou não a realidade. A pior coisa que seu cérebro pode fazer é reinterpretar a realidade em um filme totalmente novo a cada nova peça de informação. Isso seria exaustivo e não traria nenhum benefício. Em vez disso, seu cérebro escolhe o caminho de menor resistência e instantaneamente interpreta suas observações para se adequar a sua visão de mundo.

Os seres humanos não veem a realidade como ela é. Não evoluímos para ter essa capacidade. O que temos é a habilidade de racionalizar nossas observações e transformá-las nos pequenos filmes sobre a realidade que criamos em nossa mente. A parte mais desafiadora é reconhecer que a mente humana não está equipada para compreender a realidade de qualquer maneira profunda. Os seres humanos apenas imaginam que os fatos importam para as decisões. A realidade é que inventamos nossos próprios fatos pessoais para se adequar aos filmes que estão passando em nossa cabeça.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 51, 56, 58, 74, 268, 273 e 278)

23 de setembro de 2019

RACIONALIDADE EVOLUTIVA


Ideias científicas sobre o funcionamento de nosso corpo e cérebro sugerem que nossos sentimentos não são uma qualidade espiritual exclusivamente humana, e não refletem nenhum tipo de “livre-arbítrio”. (...) Nas últimas décadas a pesquisa em áreas como a neurociência e a economia comportamental permitiu que cientistas hackeassem humanos e adquirissem uma compreensão muito melhor de como os humanos tomam decisões. Constatou-se que todas as nossas escolhas, desde comida até parceiros sexuais, resultam não de algum misterioso livre-arbítrio, e sim de bilhões de neurônios que calculam probabilidades numa fração de segundo. A tão propalada “intuição humana” é na realidade a capacidade de reconhecer padrões. (...) Também se constatou que os algoritmos bioquímicos do cérebro humano estão longe de ser perfeitos. Eles se baseiam em heurística, atalhos e circuitos ultrapassados, adaptados mais à savana africana do que à selva urbana. (...) Na verdade, sentimentos são mecanismos bioquímicos que todos os mamíferos e todas aves usam para calcular probabilidades de sobrevivência e reprodução. Sentimentos não se baseiam em intuição, inspiração ou liberdade - baseiam-se em cálculos. Quando um macaco, um camundongo ou um humano veem uma cobra, o medo surge porque milhões de neurônios no cérebro calculam rapidamente os dados relevantes e concluem que a probabilidade de morrer é alta. Sentimentos de atração sexual surgem quando outros algoritmos bioquímicos calculam que um indivíduo próximo oferece alta probabilidade de acasalamento bem-sucedido, ligação social ou algum outro objetivo almejado. Sentimentos morais como indignação, culpa ou perdão derivam de mecanismos neurais que evoluíram para permitir cooperação grupal. Todos esses algoritmos bioquímicos foram aprimorados durante milhões de anos de evolução. Se os sentimentos de algum antigo ancestral cometeram um erro, os genes que configuram esses sentimentos não foram passados à geração seguinte. Assim, sentimentos não são o contrário de racionalidade - eles incorporam uma racionalidade evolutiva. Normalmente não nos damos conta de que os sentimentos são na verdade cálculos, porque o intenso processo de cálculo ocorre abaixo do nível da consciência. (...) Nossos sentimentos, eles eram o melhor método em todo o universo para decidir o que estudar, com quem casar e em que partido votar.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; págs: 41, 42, 72 e 73)

12 de setembro de 2019

HOMEM PRIMATA



- Seu problema é que passou a vida toda pensando que há regras. Não há regras. Nós éramos gorilas. Tudo o que tínhamos era o que tomávamos e defendíamos. A verdade é que você é mais homem hoje do que era ontem.
- Como você sabe?
- Nossa vida é uma maré vermelha, Lester. A merda que nos fazem engolir, dia após dia, o chefe, a esposa e outras coisas acabam com a gente. Se não se impuser, e mostrar que, no fundo, ainda é um primata, você será sempre insignificante.
 
Fargo (1º Temporada/ Ep: 01)

19 de julho de 2019

AROMA BAUNILHA


Ser alimentado por sua mãe. A sensação de estar nos braços dela. Associações desse tipo são os motivos que fazem com que algumas empresas usem o aroma de baunilha - encontrado no leite materno (e que, não por coincidência, é o aroma mais popular nos Estados Unidos) - em seus produtos. (...) Na verdade, o aroma de baunilha é tão atraente que uma experiência realizada em uma loja de roupas no Noroeste do Pacífico mostrou que, quando “aromas femininos” como baunilha, foram borrifados nas seções de roupas femininas, as vendas dobraram. (...) De todos os sentidos, o olfato é o mais primitivo, o mais arraigado. Foi como nossos ancestrais desenvolveram o gosto por certos alimentos, era como procuravam parceiros e intuíam a presença de inimigos. Quando sentimos o cheiro de algo, os receptores de odores em nosso nariz traçam uma linha direta até o sistema límbico, que controla nossas emoções, nossas lembranças e nossa sensação de bem-estar. Por conseguinte, a reação dos nossos instintos é instantânea. (...) "No caso de todos os outros sentidos, pensamos antes de agir, mas, no caso do olfato, o cérebro reage antes de pensarmos."

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; págs: 128 e 129)

18 de julho de 2019

DOPAMINA


A dra. Susan Brookheimer destaca: “A atividade da dopamina no cérebro aumenta quando há expectativa de muitos tipos diferentes de recompensa, desde aquelas ligadas a jogos de azar até recompensar de ordem monetária ou social.” Em outras palavras, aquela louca descarga de prazer que sentimos quando estamos na expectativa de comprar, digamos, um BlackBerry ou um iPod Nano pode na verdade estar nos ajudando a incrementar nosso sucesso reprodutivo e nos preparando para a sobrevivência. Por quê? Porque, conscientemente ou não, calculamos as compras com base em sua possibilidade de nos trazer ou não status social - e o status está ligado ao sucesso reprodutivo. Está associada à percepção de si mesmo e às emoções sociais.

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; pág: 63)

3 de julho de 2015

SINFONIA NEURONAL


Uma analogia muito simples talvez ajude a esclarecer a principal distinção entre as duas visões que disputam a primazia de compreender como o cérebro humano funciona. Imagine, por exemplo, o papel desempenhado pelos músicos de uma orquestra. Se você tivesse comprado ingresso para assistir a uma apresentação dessa orquestra e, na noite do evento, chegasse ao teatro e descobrisse que apenas uma violinista apareceu para tocar, certamente se sentiria desapontado no final da noite. Afinal de contas, mesmo que essa violinista fosse uma virtuose de renome mundial, como Anne-Sophie Mutter, você não conseguiria de forma alguma absorver a mensagem contida em toda a partitura da sinfonia. Para realmente poder transmitir toda a riqueza sonora da peça musical em questão, essa orquestra precisaria contar com um número muito maior de músicos tocando em conjunto. Na visão dos distribucionistas, quando o cérebro cria uma mensagem complexa, destinada a se transformar num comportamento específico, ele está compondo uma espécie de sinfonia. Uma verdadeira sinfonia neuronal. Codificar uma mensagem neuronal e transformá-la em comportamentos e ações, por meio do trabalho coletivo de um grande número de elementos individuais, é uma tarefa semelhante ao penoso ofício de uma orquestra sinfônica, em que cada músico contribui para a elaboração de uma melodia mais complexa, mas não mais poderosa que a entoada de 1 milhão de vozes para destronar um ditador fardado e clamar por eleições presidenciais diretas.

Miguel Nicolelis (Muito Além do Nosso Eu; pags: 42 e 43)

SOBRE NEURÔNIOS

Os neurônios são altamente especializados em receber e transmitir diminutas mensagens eletroquímicas através de contatos celulares, chamados sinapses, que medeiam a maioria das comunicações entre populações dessas células. Grandes populações de células, localizadas em diferentes regiões do cérebro, contribuem, cada uma de uma maneira diminuta e peculiar, para a geração de um produto cerebral final.

Populações de neurônios individuais, comunicando-se com outros grupos de neurônios ao longo de diferentes regiões cerebrais, definem o arcabouço neurofisiológico que arquiteta e constrói todos os nossos comportamentos.

[o cérebro] ele não presta atenção às faíscas elétricas de um único neurônio ruidoso. Não, senhor, o cérebro precisa contar com milhares de suas células cantando conjuntamente a cada instante para ter a esperança de saber o que fazer no momento seguinte.

Miguel Nicolelis (Muito Além do Nosso Eu; pags: 18, 19, 20, 23 e 33)

20 de fevereiro de 2015

CONFLITO SEXUAL

Ainda mais aguçado que os conflitos sexuais entre jovens e mais velhos e entre indivíduos e a sociedade é o conflito entre homens e mulheres. Somos mamíferos, herdamos a assimetria que marca a classe: em todo ato reprodutivo, as fêmeas ficam comprometidas com longos períodos de gestação e lactação, enquanto os machos só precisam de uns poucos minutos de cópula. O macho pode ter uma prole maior se cruzar com várias fêmeas, enquanto a fêmea não vai ter uma prole maior se cruzar com vários machos - embora seus filhotes tenham um melhor desenvolvimento se ela escolher um parceiro disposto a investir neles ou que possa dotá-los de bons genes. Não surpreende que em todas as culturas os homens corram mais atrás de sexo, estejam mais dispostos a fazer sexo sem compromisso e sejam mais propensos a seduzir, enganar ou coagir para conseguir sexo. Sem levar em conta outras circunstâncias, o sexo sem compromisso favorece os homens, tanto genética quanto emocionalmente. Era de esperar que a fala descompromissada sobre sexo mostrasse a mesma assimetria, e é o que acontece. Os homens falam mais palavrão, na média, e muitos tabuísmos sexuais dão a sensação de ser especialmente degradantes para as mulheres - daí a antiga proibição de falar palavrão "quando há senhoras no recinto". (...) Embora as pessoas estejam mais dispostas a ver sexo, falar sobre sexo e fazer sexo hoje que no passado, o tema não está livre de tabu. A maioria das pessoas não copula em público, não faz troca de parceiros depois de um jantar, não mantém relações sexuais com irmãos e filhos nem troca abertamente favores por sexo. Mesmo depois da revolução sexual, ainda falta muito para que "exploremos nossa sexualidade" em toda a sua plenitude, e isso significa que as pessoas ainda instalam barreiras na mente para bloquear a passagem de determinados pensamentos. A linguagem do sexo pode esbarrar nesses bloqueios.

Steven Pinker (Do que é Feito o Pensamento; págs: 396 e 397)

30 de junho de 2014

A REVOLUÇÃO DAS SEMENTES

Os nossos longínquos antepassados (...) aprenderam a planejar o futuro só depois que descobriram a semente. O uso de sementes é uma descoberta que remonta a seis mil anos antes de Cristo e provoca uma verdadeira revolução. Desta vez as protagonistas foram as mulheres. É a grande fase matriarcal. Uma divisão sexual do trabalho já tinha ocorrido: o homem saía para caçar e a mulher, impossibilitada de locomover-se devido às maternidades frequentes, usava o tempo livre para a colheita de frutas. Contudo, aos poucos, o macho aprende que pode substituir o cansaço da caça por aquele, menor, da criação de animais: a caça implica perseguir animais adultos, muitas vezes perigosos, rebeldes e que fogem. A atividade de pastor, ao contrário, permite dominar os animais desde o seu nascimento.

A mulher, por sua vez, aprende que melhor do que recolher as frutas caídas é "cultivá-las" com a agricultura: pode plantas as sementes, regá-las e ver crescerem as plantas. Ambas as técnicas, pecuária e agricultura, produzem alimento dentro de um prazo previsível, diferido no tempo. Nesta fase, o ser humano aprende, justamente, a diferir, isto é, a adiar programando. Enquanto o animal deve satisfazer suas necessidades aqui e agora, o ser humano planeja o futuro e aprende que, trabalhando hoje, poderá obter alimento dali a seis meses. (...) Outra descoberta: a produção em série. Remontam a esta época os restos de algumas garrafas, fabricadas não por estrita necessidade, mas, evidentemente, para serem conservadas, trocadas ou vendidas. Pois bem, o animal faz somente aquilo que é necessário, aqui e agora, para si mesmo e para sua família. O ser humano, ao contrário, a partir dessa fase e daí para a frente, planeja o futuro e expande a produção, vendendo produtos a outros. Nasce o excesso de produção, um sistema econômico e de vida que dura até hoje.

Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 34 e 35)