14 de setembro de 2022

O LIMIAR DA DECISÃO


Duncan Watts, principal cientista de pesquisa no Yahoo! Research, (...) discute como o papel dos influenciadores pode não ser tão importante na divulgação de tendências quanto a estrutura atual de conexões nas networks das pessoas. Sua pesquisa investiga networks de “pessoas” com níveis variáveis de conectividade e diferentes níveis de “suscetibilidade” (por exemplo, qual a probabilidade de elas adotarem uma ideia nova ou experimentar um produto novo). Quando as networks eram fragmentadas e as pessoas não estavam bem conectadas, aqueles que tinham alta conectividade (por exemplo, os influenciadores) provavelmente foram os catalisadores na difusão das ideias. Entretanto, essas tendências permaneceram localizadas se os laços que conectaram diferentes grupos de pessoas eram pouco frequentes ou não existiam - as tendências se espalham, mas apenas entre pequenos grupos de pessoas. Isso pode explicar a natureza localizada e insular das mensagens divulgadas na bolha das mídias sociais, onde indivíduos altamente conectados e influentes podem causar uma explosão de conversas entre seus seguidores, mas que raramente permeiam o modo de pensar dominante.

Nas networks mais conectadas, porém, o impacto de indivíduos altamente conectados é menos significativo. Quando todos são altamente conectados, a influência relativa de uma só pessoa não é tão importante como em networks onde as pessoas têm menos conexões. A razão para esse fato está relacionada com a variável na experimentação que deu a cada pessoa um nível diferente de suscetibilidade para adotar uma ideia nova. Quando as pessoas mudam de ideia sobre um tópico, raramente fazem isso isoladamente ou simplesmente copiam a primeira pessoa de quem elas ouviram a informação. Em vez disso, pode ser necessário um determinado número de pessoas para convencê-las a mudar seu comportamento. Este tipping point, ou “ponto crítico”, é também conhecido como threshold ou o limiar.

São várias pressões que forçam ou encorajam a pessoa a tomar uma decisão. Isso pode ser desde aceitar as pressões sociais de amigos e colegas, até pressões financeiras para adotar as mais novas tecnologias. Mudar de comportamento não é algo tão simples como estar exposto uma vez a uma ideia nova: existe uma combinação de fatores que afeta a pessoa e a fazem mudar a maneira de pensar ou sentir sobre um assunto em especial. O limiar é o ponto no qual o status quo muda. Por exemplo, a água tem um limite de temperatura antes de ferver, você tem um limite no número de cervejas que pode beber antes de precisar ir ao banheiro, ou para o número de trens lotados no metrô que deixa passar de manhã, antes de enfrentá-lo e se espremer dentro dele. Os limiares têm um significado semelhante em relação à tomada de decisão e a criar tendências e normas sociais. (...) Portanto, quanto mais pessoas estiverem conectadas a você, mais pessoas serão necessárias para fazer você mudar de opinião. Essa é a razão porque pessoas altamente conectadas em networks altamente conectadas terão mais dificuldade de influenciar um indivíduo por causa do número de outras pessoas tentando expressar sua opinião. (...)

Os laços sociais são um dos fatores mais importantes na persuasão. O two-step communication model (modelo de comunicação em duas etapas) pressupõe que, enquanto a mídia de massa aumenta a consciência, na realidade, as comunicações interpessoais é que convencem alguém a se adaptar ou mudar de comportamento. Durante o processo de adesão, quando um número suficiente de pessoas muda seu comportamento, portanto influencia sua network, as atividades aleatórias de eventos aparentemente tornam-se mais previsíveis e uma espécie de auto-organização passa a assumir o lugar. Isso ocorre num ponto conhecido como massa crítica da rede, na qual, de repente, o ponto crucial da taxa de adesão alimenta seu próprio crescimento. (...) A massa crítica de uma tendência pode ser encontrada no ponto em que a aceleração da taxa de adesão decresce pela primeira vez. (...) O número total de eventuais adeptos será de cinco a dez vezes o número de pessoas no ponto da massa crítica. (...)

Conhecer os fatores que afetam a decisão de alguém pode ajudar as empresas a planejar suas atividades de comunicação de maneira a reduzir efetivamente os limiares de aceitação dos clientes e, com isso, aumentar a probabilidade de que adotem uma ideia e, assim, gerem ímpeto o bastante para ajudar a instigar uma tendência. Quando as pessoas estão em dúvida se devem ou não comprar um produto, passam por várias fases. Durante o primeiro estágio da compra, quando o consumidor está avaliando diferentes produtos no mercado, há uma oportunidade para as marcas se comunicarem com exemplos de recomendação social. Isso fica mais fácil para as empresas por causa do número crescente de canais que o público geral tem à disposição, nos quais as pessoas podem se comunicar umas com as outras. Um programa de extensão em um blog voltado para o grupo demográfico relevante permitiria que o consumidor visse recomendações de outras pessoas com pensamentos semelhantes ao seu. Tornar os comentários visíveis - como a otimização para mecanismos de busca - faria com que fossem mais facilmente encontrados pelo consumidor.

Em termos de redução do limiar mecânico, uma marca pode aumentar a percepção de que mais pessoas tenham adquirido o produto por publicidade ou por semear histórias na mídia. (...) O valor de risco de compra para o consumidor é reduzido quando é perceptível que mais pessoas adotaram o produto - se as pessoas já testaram o produto, a possibilidade de vir com defeito é menor.

Christer Holloman (MBA das Mídias Sociais; págs: 95, 96, 97, 98, 99, 102 e 103)

9 de setembro de 2022

A MAIOR QUALIDADE DA LINGUAGEM CONSISTE NA CLAREZA

A maior qualidade da linguagem consiste na clareza, sem vulgaridade. (...) Nobre e elevada é a que emprega termos raros. Denomino termos raros os metafóricos, os alongados, e todos os que fogem aos de uso corrente. (...) Expressões, por não pertencer à linguagem usual, conferem nobreza ao estilo. (...) Mais cuidado deve se tomar com o uso de metáforas, uma vez que estas não se aprendem; ao contrário, indicam dom natural; servir de belas metáforas é saber distinguir as semelhanças. (...) A particularidade do enigma é falar coisas certas reunindo termos absurdos, o que não se dá com a combinação de vocábulos correntes e sim com o emprego de metáforas, como em "vi um homem colando bronze no outro, com fogo" e outras construções semelhantes.

Aristóteles (Poética; págs: 65, 66 e 67)

8 de setembro de 2022

A MORALIDADE CONTRA O HOMEM

O monopólio da religião no campo da ética. (...) "Ética" enquanto abstração, o reino dos valores, o código humano do bem e do mal, com as conotações emocionais de altura, elevação, nobreza, reverência, grandiosidade, que dizem respeito ao reino dos valores do homem, mas que a religião usurpou para si, (...) tornou extremamente difícil comunicar o significado emocional e as conotações de uma perspectiva racional da vida. Assim como a religião apossou-se do campo da ética, voltando à moralidade contra o homem, usurpou também os conceitos morais mais elevados da nossa linguagem, colocando-os fora desse mundo e além do alcance do homem. A "exaltação" normalmente é compreendida como um estado emocional causado pela contemplação do sobrenatural. "Adoração" significa a experiência emocional da lealdade e a dedicação a alguma coisa que está acima do homem. "Reverência" significa a emoção de um respeito sagrado, algo que se experimenta quando se está de joelhos. "Sagrado" significa algo superior, e que não deve ser tocado por quaisquer preocupações do homem ou deste mundo. E assim por diante. Tais conceitos, porém, de fato nomeiam emoções existentes, ainda que não exista nenhuma dimensão sobrenatural; e essas emoções são experimentadas como edificantes ou enobrecedoras, sem o rebaixamento do homem exigido pelas definições religiosas. (...) É justo esse nível mais elevado das emoções do homem que deve ser redimido das trevas do misticismo e redirecionado ao seu objeto apropriado: o homem.

Ayn Rand (A Nascente; págs: 11 e 12)

7 de setembro de 2022

ANCORAGENS

Se se transcrevesse a conversa mais solta e mais livre, notar-se-ia imediatamente alguma coisa que a ligou em todas as suas transições. E se este princípio faltasse, quem quebrou o fio da conversa poderia ainda informar-vos que havia secretamente esclarecido em seu espírito uma sucessão de pensamentos, os quais o tinham desviado gradualmente do tema da conversa.

David Hume (Investigação Acerca do Entendimento Humano; págs: 39 e 40)

COMUNICAÇÃO DE EMOÇÕES

As numerosas operações do espírito humano dependem da conexão ou da associação de idéias. (...) As emoções despertadas por um objeto passam facilmente a um outro unido a ele, mas se misturam com dificuldade, ou de nenhum modo, com objetos diferentes e sem nenhuma conexão. Ao introduzir numa composição personagens e ações estranhas umas às outras, um autor imprevidente destrói esta comunicação de emoções, que é o único meio de interessar ao coração e despertar as paixões no grau desejado e no momento apropriado.

David Hume (Investigação Acerca do Entendimento Humano; pág: 47)

6 de setembro de 2022

VONTADE DE ILUSÃO

Vê-se que nesse livro o pessimismo, digamos mais claramente: o niilismo, é tomado como a “verdade”. Mas a verdade não é tomada como critério mais alto de valor, e menos ainda como potência mais alta. A vontade de aparência, de ilusão, de valor, de vir-a-ser e mudar (de engano objetivado), é tomada aqui como mais profunda, mais originária, mais “metafísica” do que a vontade de verdade, de efetividade, de aparência: mesmo esta última é meramente uma forma da vontade de ilusão. Do mesmo modo, o prazer é tomado como mais originário do que a dor: a dor somente como condicionada, como um fenômeno que decorre da vontade de prazer (da vontade de vir-a-ser, crescer, dar forma, isto é, de criar: e no criar está incluído o destruir). É concebido um estado supremo de afirmação da existência, do qual nem mesmo a suprema dor pode ser excluída: o estado trágico-dionisíaco.

Friedrich Nietzsche (A Arte em “O Nascimento da Tragédia”; pág: 50)

5 de setembro de 2022

A HISTÓRIA É UM RELATO TENDENCIOSO

Deduzindo-se que a história sempre é escrita pelos vencedores. Quando duas culturas entram em conflito, o perdedor é obliterado, e o vencedor escreve a história - livros que glorificam a sua própria causa e menosprezam a do inimigo perdedor. Como Napoleão disse certa vez: “O que é história, senão uma fábula sobre a qual todos concordam?” (...) Por sua própria natureza, a história sempre é um relato tendencioso.

Dan Brown (O Código Da Vinci; pág: 209)