9 de setembro de 2015

AMORTECEDORES MONROE

Em uma campanha para os amortecedores Monroe - nada a ver com a atriz, please - o texto era algo de fato inovador e provocativo. Mostrava a analogia e as diferenças entre os dois, alternando imagens da atriz e do amortecedor: famosos no mundo inteiro, como são bons de curvas e de retas, ambos são o sonho dos mecânicos; depois, as diferenças entre os dois, pedações de mau caminho (ela) e bom caminho (ele), todo mundo vibra com ela, mas ninguém vibra com ele. E fecha com a frase: "Amortecedores Monroe, uma segurança para sua família. Marilyn, um perigo para sua família."

João Wady Cury (Enquanto Eles Choram, Eu Vendo Lenços; págs: 67 e 68)

O PULO DO GATO DE NIZAN GUANAES

Nizan Guanaes

O verdadeiro produto que Nizan Guanaes entrega, além da propaganda comezinha, é uma grande repercussão editorial de suas campanhas na mídia, articuladas por uma equipe própria de divulgação para uma rede de veículos, jornalistas e blogueiros - sempre os mesmos, ávidos por publicar qualquer coisa que se refira a ele ou as empresas de seu grupo. É o seu pulo do gato. (...) Tudo começa na chave-mestra criada para disseminar a informação: um modelo existente há pelo menos vinte anos e que segue o mesmo ritual para que se obtenha o efeito-cascata. Inicia-se nas colunas sociais de publicações diárias na grande imprensa e nos veículos de entretenimento, de jornais diários a blogs de grande audiência, assinados por colunistas nos grandes portais, sites de celebridades - todos eles capazes de espalhar a informação rapidamente para um segundo nível, as páginas das redes sociais. São utilizados microblogs, como o Twitter, e redes de relacionamento, como o Facebook, e daí parte-se para blogs pessoais de profissionais que cobrem o mercado publicitário ou trabalham em agências e seguem até as páginas de personalidades envolvidas nas campanhas publicitárias, seus assessores e grupos de fãs organizados em clubes ou redes sociais.

O tratamento dado ao primeiro time de jornalistas, aqueles que serão fundamentais para que se obtenha o efeito desejado, é simples: oferecer permanentemente, com exclusividade, uma série de mimos, se podem ser chamados assim. Entrevistas exclusivas com Nizan e alguns executivos-chave do grupo, como seu sócio João Augusto Valente, convites para as melhores festas da cidade ou mesmo no Brasil, passagem e estadia internacionais para cobrir de festivais de publicidade ao Carnaval na Bahia e no Rio de Janeiro. Ou simplesmente ouvir - e publicar, claro - algo especial que seja dito por Nizan em um paraíso tropical como Saint Barth - a paradisíaca Saint Barthélemy, no mar do Caribe - Paris ou Nova York.

Certamente, tudo isso faz com que os poucos eleitos - jornalistas, tuiteiros ou blogueiros, alguns já se considerando em grau de celebridade - se sintam integrantes do círculo íntimo de um poder aparentemente cheio de glamour, no qual pululam atores globais, músicos, esportistas e apresentadores da TV. Ou seja, o mundo das celebridades. É esse o ponto em que a propaganda criada por Nizan Guanaes e sua equipe se concentra, como forma de turbinar o velho anúncio e transformá-lo em algo que, hoje, no mundo da informação que corre nos trilhos do sistema binário, se torne ainda mais rápido e ganhe ares de importância, apesar de descartável e irrelevante.

João Wady Cury (Enquanto Eles Choram, Eu Vendo Lenços; págs: 49, 51 e 52)

PLANO COLLOR

 
Collor acabara de ganhar as eleições presidenciais após um período de 25 anos de regime militar que relegara o país a eleições indiretas e violência contra civis, em um momento caótico da economia brasileira, com a inflação a 80% mensais. Sabia-se que, logo após a posse de Collor, em 15 de março de 1990, seria dado um choque na economia. (...) Fora criado um plano econômico. (...) Chamava-se Plano Brasil Novo, que acabou sendo batizado pela grande imprensa, (...) de Plano Collor. (...) Para as pessoas, o resumo do plano era o seguinte: a moeda mudaria de nome, de Cruzado Novo para Cruzeiro, haveria congelamento de preços e salários, (...) o chamado confisco da caderneta de poupança (...) que acabou por derrubar a atividade industrial e comercial. (...) E, a partir daquela data, todo brasileiro, independentemente do valor que sua conta corrente registrasse, só poderia dispor de Cz$ 50.000 (cinquenta mil cruzeiros) - o restante do dinheiro seria confiscado pelo governo e somente retornaria à conta do vivente 18 meses após aquela data. A ideia era reter o dinheiro, baixar o consumo mecanicamente ao enxugar a economia e o dinheiro que circulava e, com isso, deter a inflação. Tinha lógica. Uma lógica primária. Sim, mas só no papel. Na prática, jogou o país novamente de joelhos. (...) Curiosamente, a ação de Collor foi justamente a acusação pública que o próprio presidente eleito fizera a Luiz Inácio Lula da Silva durante o segundo turno da campanha naquela eleição de 1989. No fim, foi Collor quem sequestrou a poupança.

João Wady Cury (Enquanto Eles Choram, Eu Vendo Lenços; págs: 48, 77 e 78)