30 de novembro de 2021

EXPECTATIVA DE GOL


Enquanto os computadores são muito bons em acumular um grande número de medidas estatísticas, os humanos são muito bons em discernir as razões inerentes a essas medidas. Um dos meus colegas especialistas em números do futebol, Garry Gelade recentemente começou a desconstruir um modelo central de análise de futebol conhecido por "expectativa de gol". O conceito estatístico por trás da expectativa de gol é sólido. Dados são coletados em cada tentativa de gol no futebol de alto nível: a posição, dentro ou ao redor da área, em que a tentativa foi feita; se foi de cabeça ou se foi feita com o pé; se veio de um contra-ataque ou se foi uma construção mais lenta; o nível de marcação defensiva no momento em que a tentativa foi feita e assim por diante. Depois, esses dados são usados para estabelecer o valor da expectativa de gol para cada tentativa. Tentativas feitas centralmente, dentro da grande área e com o atacante na cara do gol, recebem valores de expectativa de gol mais altos. Tentativas feitas em ângulos oblíquos ou de fora da área recebem valores de expectativa de gol mais baixos. A cada tentativa que um time faz é associado um valor de 0 (nenhuma chance de marcar) a 1 (gol garantido). As expectativas de gols são úteis porque elas nos permitem avaliar como foi o desempenho de um time em jogos de poucos gols. Um jogo pode terminar 0x0, mas o time que criou muitas chances terá um total de expectativa de gols maior. Esses números têm poder preditivo: times com expectativas de gols maiores em jogos anteriores tendem a marcar mais gols reais em seus jogos subsequentes. (...) Podemos avaliar a acurácia de uma “grande oportunidade” de duas formas. Em primeiro lugar, podemos observar a proporção de tentativas que não resultaram em gol, mas que foram classificadas como "grande oportunidade" pelo operador. Este valor é a fração de falso positivo (...). Falsos positivos são a proporção de tentativas erradas que um operador classificou como "grande oportunidade". Em segundo lugar, podemos observar a proporção de gols que foram classificados como "grande oportunidade". Esta é a fração de positivos verdadeiros, quando o operador fez a predição correta. 

David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 78, 79 e 80)

25 de novembro de 2021

OS MAGNATAS

A intenção dos pequenos é mais honesto que o dos grandes; enquanto estes desejam oprimir, aqueles não querem ser oprimidos. Acresce ainda que diante de um povo hostil jamais um príncipe poderá sentir-se em segurança, por serem os inimigos demasiado numerosos. O inverso acontece com os grandes, pelo motivo mesmo de serem poucos. De uma plebe desfavorável, o máximo que um príncipe pode esperar é ser por ela abandonado. Dos magnatas, porém, deve recear não só o abandono, senão também a revolta. É que eles, sendo mais inteligentes e astutos, ao pressentirem a tempestade, têm sempre tempo de se pôr a salvo, lisonjeando aquele que julgam venha a triunfar.

"Esses homens, oriundos de uma revolução, nunca se dão por satisfeitos. Fizeram-na só para enriquecer, e a cobiça cresce-lhes com o que adquirem. Se antecipadamente se põem ao lado do partido que vai triunfar e o favorecem, é apenas para obter os seus favores. Depois, destruirão aquele a quem elevaram, quando ele não tiver mais nada para dar-lhes, porque continuarão a querer receber. Haverá sempre o maior perigo em nos servirmos de tais partidários." (Napoleão)

Nicolau Maquiavel (O Príncipe; pág: 99)

24 de novembro de 2021

A FUNÇÃO SOCIAL DO PODER

O poder tem uma função social. Seu papel não é só garantir a dominação ou estabelecer uma relação de vencedores e perdedores: ele também organiza comunidades, sociedades, mercados e o mundo. Hobbes explicou isso muito bem. Pelo fato de o desejo de poder ser primal, argumenta ele, os humanos são inerentemente conflituosos e competitivos. Se fossem deixados à vontade para expressar essa natureza sem a presença do poder para inibi-los ou direcioná-los, iriam lutar até que não sobrasse mais nada para disputar. Mas quando obedecem a um "poder comum”, podem colocar seus esforços para construir uma sociedade, e não para destruí-la. "Durante o tempo em que os homens vivem sem um 'poder comum’ que os intimide e organize, eles ficam naquela condição que chamamos de guerra", escreveu Hobbes, "e trata-se de uma guerra de todos contra todos."

Moisés Naím (O Fim do Poder; pág: 43)

4 de novembro de 2021

SINGULARIDADE TÉCNICA


O Deep Learning é apenas o primeiro passo para uma máquina obter conhecimento de forma semelhante aos humanos. (...) De acordo com a lei de Moore, o número de transistores dobra a cada 18 meses, ou seja, um ano e meio (SUGOMORI, 2016). De acordo com Sugomori, se essa técnica continuar nesse ritmo, o número de transistores ultrapassará dez bilhões, número esse que corresponde à quantidade de células no cérebro humano. Considerando a lei de Moore, em 2045, ele acredita que chegaremos a um ponto crítico chamado “Singularidade Técnica” (SUGOMORI, 2016). O termo “Singularidade Técnica” foi criado pelo cientista Vernor Vinge (...), Vinge descreve quatro itens tecnológicos que podem levar à “Singularidade Técnica” e à superação dos homens pelas máquinas: 1) A velocidade com que os computadores são aperfeiçoados e a evolução da Inteligência Artificial; 2) As redes de computadores se tornarem autoconscientes; 3) As interfaces homem-máquina se tornarem tão complexas que produziriam um estágio evolutivo do homem e 4) A ampliação da inteligência humana através de melhores técnicas da ciência biológica (Ibid).

Joyce Souza, Rodolfo Avelino e Sérgio Amadeu da Silveira (org.) (A Sociedade de Controle - Manipulação e Modulação nas Redes Digitais; págs: 76 e 77)


A IA está começando agora a superar os humanos em um número cada vez maior dessas habilidades, inclusive a de compreender as emoções humanas. (...) Quanto mais compreendermos os mecanismos bioquímicos que sustentam as emoções, os desejos e as escolhas humanas, melhores podem se tornar os computadores na análise do comportamento humano, na previsão de decisões humanas, e na substituição de motoristas, profissionais de finanças e advogados humanos.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; pág: 41)