12 de novembro de 2019

VIDA DE GENTE HONESTA SÓ TEM PRIMEIRA INSTÂNCIA

A sua vida e a minha não tem muitas instâncias. A maioria dos nossos prosaicos problemas diários precisam ser resolvidos em primeira instância mesmo. Ou quando o dinheiro acaba no banco, seu gerente paga umas três instâncias das suas contas antes de informar que você está quebrado? Doenças não dão direito a recurso. Chefe não espera segunda instância para demitir. Gente honesta precisa decidir quase tudo em primeira instância. Mas por alguma razão indizível, canalhas tem direito a inúmeras instâncias para se defender. A Justiça não é cega. É míope. Por isso o STF compreendeu que é assim mesmo que tem que ser. Enquanto tudo que a nação pede, há anos, é que se faça justiça, que se reduza a violência, que se acabe com a corrupção, a Corte Suprema decidiu que são necessárias mais instâncias para se comprovar o que duas cortes já comprovaram. Ao lixo com o julgamento de primeira e segunda instância, pagos com nosso dinheiro. Não valeu. Começa de novo, porque o imposto da gente de bem está aí pra isso mesmo. Em nenhum outro canto da nossa vida existe tanta oportunidade. No Enem não tem segunda instância. No hospital não tem segunda instância. Dívida não tem segunda instância. Falência não tem segunda instância. Assassinato tem. Bandidagem tem. Assalto a banco tem. Corrupção tem. Enquanto você e eu temos que correr para acertar na primeira, para ganhar na primeira, para pagar na primeira, para salvar na primeira, o STF - que deveria nos defender - criou uma casta seleta, formada pela escória do país. E deu a eles chance, deu tempo, deu prazo, deu esperanças. As mesmas chances que faltam a 13 milhões de desempregados, o mesmo tempo que não tem quem precisa trabalhar e estudar, o mesmo prazo que não pode contar quem espera um transplante no SUS. Corruptos, canalhas, fascínoras, bandidos voltam às ruas, livres, esperando por mais instâncias de injustiça. Enquanto a vida de quem é honesto está transitada em julgado.

5 de novembro de 2019

O PODER DO BIG DATA



Palavras são dados. Cliques são dados. Links são dados. Erros de digitação são dados. Bananas em sonhos são dados. O tom de voz é um dado. Assobios na respiração são dados. Ritmo cardíaco é dado. Tamanho do baço é dado. As buscas são, é o que defendo, os dados mais reveladores. (...) Os dados de busca do Google são de longe a fonte predominante de Big Data. (...) O sucesso do Google é também construído sobre a coleta de um novo tipo de dados. (...) A revolução do Big Data tem menos relação com coletar cada vez mais dados e mais com coletar os dados certos. (...) Oferecer novos tipos de dados é o primeiro poder do Big Data. (...) Nos permite finalmente ver o que as pessoas realmente querem e realmente fazem, não o que dizem que querem e que fazem. Oferecer dados honestos é o segundo poder do Big Data. (...) Permitir a análise de pequenos subconjuntos de pessoas é o terceiro poder. (...) Permite uma diferenciação significativa em pequenos segmentos de um conjunto de dados para obter novas perspectivas sobre quem somos. E podemos analisar de perto outras dimensões além da idade. Se tivermos dados suficientes, podemos ver como as pessoas em determinadas cidades e bairros se comportam. E podemos descobrir como as pessoas se comportam mal hora a hora ou até minuto a minuto. (...) Permitir a realização de muitos experimentos causais é o quarto poder do Big Data. (...) É aqui que a grandiosidade do Big Data realmente entra em cena. Você precisa de muitos píxeis em uma foto para ser capaz de a ampliar com nitidez em determinado ponto. Da mesma forma, são necessárias muitas observações em um conjunto de dados para possibilitar a identificação clara de um pequeno subconjunto daqueles dados - por exemplo, qual é a popularidade do Mets entre homens nascidos em 1978. Uma pequena pesquisa de alguns milhares de pessoas não terá uma amostra grande o suficiente desses homens. (...) “Big Data não quer dizer fazer apenas a mesma coisa que você faria com a pesquisa, exceto pela utilização de mais dados”, explica Chetty. Eles estavam fazendo perguntas mais apropriadas para poucos dados para a gigantesca coleção de dados que tinham em mãos. “Big Data deveria na verdade permitir a utilização de arranjos totalmente diferentes daqueles usados na pesquisa comum”, explica Chetty.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 53, 54, 60, 62, 97, 169, 170 e 171)

25 de outubro de 2019

INFORMAÇÃO E FRAUDES


Por que algumas pessoas mentem em seus impostos enquanto outras, não. (...) O que prediz quem vai mentir? O que há nesses lugares com maiores números de fraudadores e naqueles com números menores? Conseguimos correlacionar os índices de fraude com outros fatores demográficos da cidade e descobrimos dois fortes preditores: uma alta concentração de pessoas na área se qualificando para o crédito tributário sobre renda auferida e uma alta concentração de profissionais de contabilidade nos arredores. O que esses fatores indicam? Chetty e os autores tinham uma explicação. O principal motivador para fraudar seus impostos dessa maneira era a informação. A maioria dos contribuintes autônomos com um filho simplesmente não sabia que o número mágico para receber um gordo reembolso do governo era US$9 mil. Mas morar perto de quem sabe - sejam seus vizinhos ou contadores - aumentou drasticamente as chances de virem a conhecer este fato. (...) Quando se trata de descobrir quem vai fraudar seus impostos, a chave não é determinar quem é honesto ou desonesto. É determinar quem sabe ou não como o fazer.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 177 e 178)

16 de outubro de 2019

"TAMBÉM GOSTARAM"


Ele [Marc Keuschnigg] havia estudado vendas de livros em detalhe, tentando encontrar o segredo de como fazer um best-seller. Ele concordou comigo que uma grande parte da explicação do sucesso ou não de um livro está no quanto ele foi “também gostaram” na Amazon. Mas nem todos os livros e autores são iguais. “Há uma grande diferença entre estreantes e autores estabelecidos. São exatamente os estreantes que estão mais suscetíveis ao efeito dos pares”, ele me disse. “Quando as pessoas não têm informação sobre qual livro comprar, elas pesquisam para verificar o que seus pares compraram.”

Marc estudou vendas de ficção alemã em livrarias de 2001 a 2006, pouco antes de a Amazon se tornar dominante no mercado, e descobriu que, se um novato entrava na lista dos mais vendidos, então suas vendas eram impulsionadas em 73% na semana seguinte. A visibilidade em estar nas 20 primeiras posições aumentava ainda mais as vendas. A visibilidade em listas de mais vendidos era apenas parte da história. Outro fator que ajudou os estreantes eram as avaliações ruins na imprensa. Sim, é isso mesmo, não avaliações boas, mas ruins. Uma avaliação negativa em um jornal ou revista produzia normalmente 23% de aumento nas vendas para livros escritos por romancistas de primeira viagem. Avaliações positivas, por outro lado, não surtiam qualquer efeito. Marc me disse: “Há um alto risco de que as listas de best-sellers contenham, em sua maioria, livros medianos e de qualidade ruim.”

Marc me mostrou uma análise que ele havia feito relacionando vendas a avaliações on-line. Quanto mais exemplares um livro vendia, menos estrelas ele recebia na Amazon. Esta pode muito bem ser uma forma de vingança de leitores desapontados. Eles veem um livro escalar as listas, ou aparecer em uma relação de “também gostaram”, e são persuadidos a comprá-lo. Quando percebem que o livro é chato, descontam sua frustração atribuindo-lhe uma pontuação ruim na Amazon. Parece que os leitores nunca aprendem: ignoramos as avaliações e seguimos o público. Só depois que o público se engana é que as avaliações começam a refletir a qualidade do livro. Do meu ponto de vista, o papel do “também gostaram” na distorção da qualidade dá um gosto amargo ao sucesso.

David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 125 e 126)

8 de outubro de 2019

A IRRELEVÂNCIA DA REALIDADE NA SOBREVIVÊNCIA


Não tenho nenhuma razão para acreditar que os seres humanos evoluíram com a capacidade de compreender a realidade. Essa capacidade não é importante para a sobrevivência. Quando se trata de evolução, qualquer ilusão que nos mantenha vivos por tempo suficiente para procriar é boa o bastante. Uma vez que tenha compreendido que sua experiência de vida é uma interpretação da realidade, você não consegue voltar à velha maneira de pensar. A grande ilusão da vida é que nossa mente tem a capacidade de compreender a realidade. Uma clara visão da realidade não foi necessária para nossa sobrevivência. O resultado é que cada um de nós está, na verdade, vivendo no filminho que nosso cérebro criou para explicar nossas experiências.

As pessoas não mudam de opinião sobre questões emocionais apenas porque alguma informação provou que essa opinião é nonsense. Somos programados pela evolução para fazer com que novas informações apoiem opiniões existentes, desde que isso não nos impeça de procriar. A evolução não liga se você compreende ou não a realidade. A pior coisa que seu cérebro pode fazer é reinterpretar a realidade em um filme totalmente novo a cada nova peça de informação. Isso seria exaustivo e não traria nenhum benefício. Em vez disso, seu cérebro escolhe o caminho de menor resistência e instantaneamente interpreta suas observações para se adequar a sua visão de mundo.

Os seres humanos não veem a realidade como ela é. Não evoluímos para ter essa capacidade. O que temos é a habilidade de racionalizar nossas observações e transformá-las nos pequenos filmes sobre a realidade que criamos em nossa mente. A parte mais desafiadora é reconhecer que a mente humana não está equipada para compreender a realidade de qualquer maneira profunda. Os seres humanos apenas imaginam que os fatos importam para as decisões. A realidade é que inventamos nossos próprios fatos pessoais para se adequar aos filmes que estão passando em nossa cabeça.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 51, 56, 58, 74, 268, 273 e 278)

DISSONÂNCIA COGNITIVA


Condição mental na qual as pessoas racionalizam porque suas ações são inconsistentes com seus pensamentos e crenças. (...) Seu cérebro instantaneamente gerará uma ilusão para racionalizar a discrepância. (...) Em psicologia, dissonância cognitiva é o estresse ou desconforto mental experimentado pelo indivíduo que tem duas ou mais crenças, ideias e ou valores contraditórios. (...) O gatilho mais comum para a dissonância cognitiva ocorre quando a autoimagem de alguém não corresponde a suas observações. Se você acredita ser uma pessoa inteligente e bem-informada e faz algo nitidamente estúpido, isso o coloca em estado de dissonância cognitiva. Ao entrar nesse desconfortável estado mental, no mesmo instante seu cérebro gera uma ilusão para eliminar o desconforto. (...) E você não gosta de modificar sua autoimagem, a menos que seja na direção do aprimoramento.

Se você tem uma situação que pode ser explicada por uma única teoria razoável, essa teoria deve estar próxima da realidade. Mas ter várias explicações diferentes em geral é uma pista clara de dissonância cognitiva. Explicações múltiplas - não importa quão razoáveis pareçam depois - significam que as pessoas estão tentando compreender suas observações e gerando diferentes ilusões para isso. (...) Quando sua velha visão de mundo se desfaz, isso pode gerar todo tipo de comportamento irracional, até que seu cérebro reescreva o filme em sua cabeça e o torne consistente com sua nova visão de mundo. Todos nós temos filmes em nossa cabeça, que acreditamos serem visões acertadas da realidade. E esses filmes são muitos diferentes. Em geral, não notamos as diferenças ou não nos importamos com elas. Mas, quando há política envolvida, as apostas são mais altas. Então, notamos.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 27, 28, 61, 62 e 65)

7 de outubro de 2019

AQUELES CUJO SOM SE PROPAGADA MAIS LONGE

Não são apenas os piores líderes que correm o risco de ser escolhidos ou aceitos pelas multidões, são também as piores sugestões, dentre todas aquelas que emanam deles. Por que? De um lado, porque as emoções ou as idéias mais contagiosas são naturalmente as mais intensas, assim como são os sinos maiores, não os mais bem timbrados nem os mais afinados, aqueles cujo som se propaga mais longe; e, de outro lado, porque as idéias mais intensas são as mais estreitas ou as mais falsas, impressionando os sentidos e não o espírito, e as emoções mais intensas são as mais egoístas. Eis por que, numa multidão, é mais fácil propagar uma imagem pueril do que uma abstração verdadeira, uma comparação do que uma razão, a fé num homem do que a renúncia a um preconceito; e por que, sendo o prazer de denegrir mais intenso que o prazer de admirar e o sentimento da conversação mais forte que o sentimento do dever, as vaias nela se espelham com mais facilidade que os aplausos e os acessos de pânico são mais frequentes que os impulsos de bravura.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 158 e 159)

MULTIDÃO PRIMITIVA

Em todos os tempos e países, a multidão homicida e saqueadora acredita-se justiceira, e a justiça sumária que ela aplica lembra singularmente, pela natureza vingativa das penalidades, por sua crueldade inusitada, por seu próprio simbolismo - como demonstra a porção de feno na boca de Heuz -, a justiça dos tempos primitivos. A bem dizer, pode-se chamar de criminosa uma multidão transtornada pela persuação de que é traída, de que é reduzida à fome, de que querem exterminá-la? Em geral, o único criminoso aqui é o instigador ou o grupo de instigadores, o autor ou os autores das calúnias mortíferas. A grande escusa das multidões, em seus piores excessos, é sua prodigiosa credulidade, que lembra a do hipnotizado. A credulidade do público é bem menor e sua responsabilidade bem maior. Os homens reunidos são muito mais crédulos que cada um deles tomados à parte; pois o simples fato de sua atenção concentrar-se num único objeto, numa espécie de monoideísmo coletivo, os aproxima do estado de sonho ou de hipnose, em que o campo da consciência, singularmente retraído, é tomado por inteiro pela primeira idéia que se apresenta. De modo que, então, toda afirmação emitida por uma voz decidida e forte contém, por assim dizer, sua própria prova. (...) As multidões não são apenas crédula, são loucas. Várias das características que observamos nelas são as mesmas dos pacientes de nossos hospícios: hipertrofia do orgulho, intolerância, imoderação em tudo. Elas vão sempre, como os loucos, aos pólos extremos da excitação e da depressão, ora heroicamente furiosas, ora aniquiladas de pânico.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 50 e 51)

CAMBRIDGE ANALYTICA SOB MEDIDA


Depois da eleição presidencial americana de 2016, uma empresa chamada Cambridge Analytica anunciou que sua campanha orientada por dados tinha sido fundamental para a vitória de Donald Trump. (...) Ela havia usado a publicidade on-line direcionada e a pesquisa eleitoral em microescala para influenciar eleitores. (...) A Cambridge Analytica (CA) deu um grande destaque ao modelo de personalidade Big Five em seu material promocional. A empresa alega ter coletado centenas de milhões de pontos de dados sobre uma grande quantidade de eleitores americanos. A CA alegou que poderia usar esses dados para fornecer um quadro de personalidade dos eleitores que iria além das variáveis demográficas tradicionais, como gênero, idade e salário. (...) Se a CA tivesse acesso aos perfis do Facebook dos eleitores, ela poderia determinar quais tipos de propaganda teriam maior efeito sobre eles. (...) Os dados do Facebook podem ser usados para revelar nossas preferências, nosso QI e nossa personalidade. Essas dimensões poderiam então, pelo menos em teoria, ser utilizadas para nos direcionar mensagens que nos atraem como indivíduos: uma pessoa com o QI baixo pode ter sido bombardeada com teorias da conspiração não confirmadas sobre as contas de e-mail de Hillary Clinton; uma pessoa com o QI alto pode ter sido informada de que Donald Trump é um homem de negócios pragmático; uma pessoa com “afinidades afro-americanas” (como o Facebook as denomina) pode ter sido informada sobre uma restauração na periferia; um trabalhador branco desempregado pode ter recebido a informação de que um muro seria construído para manter imigrantes do lado de fora; e eleitores “com afinidade hispânica” podem ter sido informados sobre uma atitude firme em relação à Cuba de Castro. Personalidades neuróticas podem ser influenciadas com medo, pessoas solitárias, com empatia, e os extrovertidos, com um modo divertido de compartilhar a mensagem.

Em vez de focar numa mensagem central na mídia tradicional, o candidato de tal campanha pode se concentrar em desacreditar jornalistas e agências de notícias que estão tentando formar uma visão global da eleição. Com os meios de comunicação questionados, mensagens sob medida seriam enviadas diretamente aos indivíduos, fornecendo a eles uma propaganda que se adapta aos seus pontos de vista já estabelecidos.

David Sumpter (Dominados Pelos Números; pág: 45 e 46)

DEMÓGRAFAS TECH


Mike Campau

Estamos desenvolvendo algoritmos para reconhecer rostos, entender idiomas e aprender nossas preferências musicais. Estamos construindo assistentes pessoais e chatbots (interfaces conversacionais) que o ajudam a consertar seu computador. Estamos prevendo os resultados de eleições e de competições esportivas. Estamos encontrando o par perfeito para pessoas solteiras ou ajudando-as a conferir todas as possibilidades disponíveis. Estamos tentando veicular as notícias mais relevantes para você no Facebook e no Twitter. (...) O Facebook também está procurando maneiras de medir seu estado de espírito a partir de suas publicações, suas emoções a partir de suas expressões faciais em fotografias e seu nível de envolvimento a partir da sua taxa de interação com a tela. Por exemplo, a velocidade com a qual os usuários movem seu mouse durante uma tarefa rotineira no computador pode revelar o conteúdo emocional do que eles estão vendo na tela. Esses avanços sugerem um futuro em que o Facebook monitora cada uma de nossas emoções e continuamente nos manipula em nossas escolhas como consumidores, nossos relacionamentos e nossas oportunidades de trabalho. (...) Estamos nos certificando de que você encontre os melhores pacotes de viagens e voos promocionais. (...) Você está permitindo que sua personalidade seja tratada como um ponto em centenas de dimensões, que suas emoções sejam enumeradas e que seu comportamento futuro seja modelado e previsto.
 
David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 13 e 44)
 
 
O Facebook pode saber que você é um dos vários fãs de M&Ms e mandar ofertas de acordo com o seu gosto. Ele também sabe quando você terminou com o namorado, mudou-se para o Texas, começou a aparecer em várias fotos com o ex e voltou a namorá-lo. O Google sabe quando você está procurando um carro novo e pode mostrar a marca e o modelo pré-selecionados apenas pelo seu psicográfico. É uma pessoa do tipo B socialmente consciente, do sexo masculino, entre 25 e 34? Aqui está o seu Subaru. O Google também sabe se você é gay, está com raiva, é solitário, racista ou teme que a mãe esteja com câncer. Twitter, Reddit, Tumblr, Instagram, todas essas empresas são, acima de tudo, negócios, mas também são demógrafas em um alcance, em uma precisão e importância sem precedentes. Quase por acidente, os dados digitais agora podem mostrar como brigamos, amamos, envelhecemos, quem somos e como estamos mudando. Basta olhar: afastando-se apenas um pouco, os dados revelam o comportamento das pessoas quando acham que ninguém está olhando.

Christian Rudder (Dataclisma; pág: 12)

4 de outubro de 2019

BIG FIVE E SUA PERSONALIDADE NO FACEBOOK


Josan González

As coisas que escrevemos, compartilhamos e curtimos no Facebook se relacionam com nosso comportamento, nossas opiniões e nossa personalidade. (...) Michal descobriu que seriam necessários de 40 a 100 dimensões para nos classificar com precisão. (...) Enfatiza que os computadores descobrem mais relações sutis do que os humanos. “É fácil concluir que alguém que frequenta boates gays e compra revistas gays provavelmente é gay. Mas computadores podem tirar essa conclusões de sinais não tão evidentes para nós”, disse-me ele. De fato, somente 5% dos usuários rotulados como gays por esse algoritmo curtiram uma página explicitamente gay no Facebook. Foi a combinação de várias curtidas diferentes, variando de Britney Spears e Desperate Housewives, que permitiu ao algoritmo determinar a orientação sexual do usuário. (...). Gostamos de nos imaginar como sendo multidimensionais. Nós nos vemos como indivíduos complicados, com muitos aspectos diferentes de personalidade. Dizemos a nós mesmos que somos únicos, moldados pelos milhões de eventos específicos que ocorrem durante nossa vida. Mas a ACP pode reduzir esses milhões de dimensões de complexidade a um número muito menor de dimensões que podem ser usadas para nos colocar em caixas ou, usando uma metáfora visual mais apropriada, para nos representar com alguns símbolos diferentes. (...).

Foi por meio dessa missão de nos enxergar como um aglomerado de símbolos que chegamos à lista de traços de personalidades que os psicólogos chamam de Big Five, ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores. (...) Todos conhecemos pessoas que são amigáveis e comunicativas, que preferem estar entre outras pessoas e que gostam de sair. Nós as chamamos de “extrovertidas”. Também conhecemos pessoas que gostam de ler e programar computadores, que apreciam ficar sozinhas e que falam menos quando estão em grupos. Nós as chamamos de “introvertidas”. Estas não são apenas noções frívolas. Elas são maneiras corretas e úteis de descrever pessoas. (...) Os psicólogos chegam, na maioria dos casos, sempre nas mesmas componentes da personalidade, as Big Five: abertura a novas experiências, conscienciosidade, extroversão, amabilidade (ou simpatia) e neuroticismo (ou instabilidade emocional). Esses cinco traços não são escolhas arbitrárias, e sim medidas robustas e reproduzíveis que resumem o que significa ser humano. (...).

Pessoas extrovertidas no Facebook gostam de dançar, de teatro e de jogar Beer Pong. Pessoas tímidas gostam de anime, de jogos de RPG e dos livros de Terry Pratchett. Pessoas neuróticas gostam de Kurt Cobain, de música emo e de dizer “algumas vezes me odeio”. Pessoas calmas gostam de paraquedismo, de futebol e de administração de empresas. Muitos estereótipos foram confirmados pelas “curtidas” das pessoas, mas várias relações inesperadas também apareceram. (...) É o acúmulo de muitas curtidas diferentes que revela nossa personalidade. (...) Estamos clicando nossa personalidade para dentro do Facebook, hora após hora, dia após dia. Carinhas felizes, dedão de cima, “curtir”, carinhas tristes e corações. Estamos dizendo ao Facebook quem somos e o que pensamos. Estamos nos revelando para uma rede social num nível de detalhes que normalmente reservamos para os amigos mais próximos. E, ao contrário de nossos amigos - que tendem a esquecer dos detalhes e são tolerantes em relação às conclusões que tiram sobre nós -, o Facebook está sistematicamente armazenando, processando e analisando nosso estado emocional. (...) Os humanos pensam sobre outras pessoas usando um número pequeno de dimensões - idade, raça, gênero e, se as conhecemos um pouco melhor, personalidade -, enquanto os algoritmos já estão processando bilhões de pontos de dados e realizando classificações em centenas de dimensões. (...) Ele está rotacionando nossa personalidade em centenas de dimensões, de modo que possa encontrar a direção mais fria e racional para nos analisar. (...).

Os métodos utilizados pelo Facebook são baseados na aleatoriedade. Rotacionar um milhão de vezes os dados de um milhão de categorias diferentes de curtidas (...) leva algum tempo. Por isso, o algoritmo do Facebook começa escolhendo um conjunto aleatório de dimensões com as quais possa nos descrever. O algoritmo avalia, então, o desempenho dessas dimensões aleatórias, permitindo que ele encontre um novo conjunto de dimensões que melhore sua descrição. Depois de apenas algumas poucas iterações, o Facebook consegue ter uma ideia bastante boa das componentes mais importantes que descrevem seus usuários. Se, por um lado, o Facebook consegue reduzir milhões de curtidas para umas poucas centenas de componentes, a visualização dessas componentes não é algo fácil para nós. Nosso cérebro, que funciona em duas ou três dimensões, e não em algumas centenas, atinge seu limite bem rapidamente. Assim, a fim de nos ajudar a entender como ele nos enxerga, o Facebook criou nomes para as categorias que seus algoritmos encontraram. Para descobrir como a empresa o caracterizou, primeiro você deve fazer o login; depois, clique no menu de opções na parte superior à direita e escolha "configurações". Em configurações, escolha "anúncios", então clique em "seus interesses" e, depois, clique em "mais", última opção à direita; finalmente, escolha "estilo de vida e cultura".

David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 37, 38, 39, 40, 41, 42 e 43)

CONVERSAÇÃO


Gidding, em seus Princípios de sociologia, faz uma referência à conversação, e uma referência importante. Segundo ele, quando dois homens se encontram, a conversação que mantêm é apenas um complemento de seus olhares recíprocos, através dos quais se exploram e buscam saber se pertencem a mesma espécie social, ao mesmo grupo social. “Adoramos”, diz ele, “a ilusão que nos faz crer que conversamos porque nos preocupamos com as coisas de que falamos, do mesmo modo que adoramos esta ilusão, a mais doce de todas: a crença na arte pela arte. A verdade é que toda expressão, pelo homem comum ou pelo artista, e toda comunicação, desde a conversação acidental da entrada em relações até as profundas intimidades de um amor verdadeiro, tem sua origem na paixão elementar de conhecer-se e fazer-se conhecer mutuamente, de definir a consciência de espécie.” (...) Mas é certo que as conversações ulteriores que mantêm entre si, depois de se conhecerem mutuamente, têm um caráter bem diferente. Elas tendem a associá-los um ao outro, ou a fortalecer sua associação se já pertencem à mesma sociedade. Tendem, por conseguinte, a fazer surgir e a acentuar, a ampliar e a aprofundar a consciência de espécie, não simplesmente a defini-la. Não se trata de pôr a nu seus limites, mas de fazê-los constantemente recuar.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 114 e 115)

OPINIÃO PÚBLICA E A IMPRENSA

Tradição, resumo condensado e acumulado do que foi a opinião dos mortos, herança de necessários e salutares preconceitos, frequentemente onerosos para os vivos. A outra é o que me permitirei chamar, com um nome coletivo e abreviativo, de razão. Entendo dessa forma os juízos pessoais, relativamente racionais, embora muitas vezes insensatos, de uma elite pensante que se isola e se retira da corrente popular a fim de represá-la ou dirigi-la. A razão de hoje tornar-se-ia como que a opinião de amanhã e a tradição de depois de amanhã.

A conversação em todos os tempos e a principal fonte atual de conversação, a imprensa, são os grandes fatores da opinião, sem contar evidentemente a tradição e a razão, que não deixam jamais de participar dela e imprimir sua marca. Os fatores da tradição, além da própria opinião, são a educação familiar, a aprendizagem profissional e o ensino escolar, no que este tem de elementar, pelo menos. A razão, em todos os cenáculos judiciários, filosóficos, científicos e mesmo eclesiástico em que se elabora, tem por fontes características a observação, a experiência e a pesquisa, ou, em todo caso, o raciocínio, a dedução baseada nos textos.

Mas há sempre duas opiniões em confronto, a propósito de cada problema que se coloca. Só que uma das duas consegue rapidamente eclipsar a outra por irradiação mais rápida e mais brilhante, ou então porque, embora menos difundida, é a mais barulhenta. Por mais que uma opinião se difunda, ela pouco manifesta se for moderada; mas, por menos difundida que seja uma opinião violenta, ela manifesta muito.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 60, 61, 62 e 64)

CUMPLICIDADE PÚBLICA

Será que o público eleitoral que nomeou deputados sectários e fanáticos nada tem a ver com suas prevaricações, com seus atentados contra as liberdades, os bens e a vida dos cidadãos? Não é verdade que frequentemente os reelegeu, endossando assim seus procedimentos? Não há como o público eleitoral para ser cúmplice de criminosos. O próprio público não-eleitoral, puramente passivo em aparência, na realidade age por meio daqueles que buscam adulá-lo, captá-lo. É quase sempre de cumplicidade com um público celerado. desde a época em que o público começou a se formar, que os maiores crimes históricos foram cometidos. Num nível inferior de delito, as fraudes eleitorais, tais como se praticam corrente e abundantemente em certas cidades, não são delitos de grupo, realizados com a cumplicidade mais ou menos consciente de todo um público? Regra geral, ou quase: por trás das multidões criminosas há públicos mais criminosos ainda e, à frente destes, publicistas que o são ainda mais.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 53 e 54)

24 de setembro de 2019

PEDANTISMO AO FALAR

Uma coisa é cultura e outra é instrução. A pessoa instruída é a que dispõe de muitos conhecimentos, acumula dados e ganha o concurso Um, Dois, Três. Quando esse sabe-tudo, no entanto, chega perto de um grupo de amigos e, em vez de compartilhar com eles e se divertir, exige sua erudição e põe-se a enrolar o rolo idiomático, não exibe mais cultura, e sim menos. Não se comunica com os demais, não consegue se fazer entender. A culpa é sua, não dos outros. A incultura é sua. O ridículo também. Esta é a primeira erva daninha que devemos arrancar pela raiz, destruir com o veneno mais implacável: o pedantismo ao falar. Na realidade, não falam: escutam a si mesmos.

O que está por trás de tais poses e pretensões? A inflação de palavras costuma estar em relação direta com o vazio de idéias. "Já que não somos profundos" - sugere um grafite -, "ao menos sejamos obscuros!" Outras vezes, são desejos de poder. Se o outro não domina o código em que me expresso, sou eu que domino o outro. É com essa intenção que falam, para deslumbrar os ingênuos e ganhar votos fáceis daqueles que durante anos e anos se convenceram que são broncos porque não entendem o jargão dos doutos.

José Ignacio López Vigil (Manual Urgente Para Radialistas Apaixonados; págs: 63 e 64)

23 de setembro de 2019

RACIONALIDADE EVOLUTIVA


Ideias científicas sobre o funcionamento de nosso corpo e cérebro sugerem que nossos sentimentos não são uma qualidade espiritual exclusivamente humana, e não refletem nenhum tipo de “livre-arbítrio”. (...) Nas últimas décadas a pesquisa em áreas como a neurociência e a economia comportamental permitiu que cientistas hackeassem humanos e adquirissem uma compreensão muito melhor de como os humanos tomam decisões. Constatou-se que todas as nossas escolhas, desde comida até parceiros sexuais, resultam não de algum misterioso livre-arbítrio, e sim de bilhões de neurônios que calculam probabilidades numa fração de segundo. A tão propalada “intuição humana” é na realidade a capacidade de reconhecer padrões. (...) Também se constatou que os algoritmos bioquímicos do cérebro humano estão longe de ser perfeitos. Eles se baseiam em heurística, atalhos e circuitos ultrapassados, adaptados mais à savana africana do que à selva urbana. (...) Na verdade, sentimentos são mecanismos bioquímicos que todos os mamíferos e todas aves usam para calcular probabilidades de sobrevivência e reprodução. Sentimentos não se baseiam em intuição, inspiração ou liberdade - baseiam-se em cálculos. Quando um macaco, um camundongo ou um humano veem uma cobra, o medo surge porque milhões de neurônios no cérebro calculam rapidamente os dados relevantes e concluem que a probabilidade de morrer é alta. Sentimentos de atração sexual surgem quando outros algoritmos bioquímicos calculam que um indivíduo próximo oferece alta probabilidade de acasalamento bem-sucedido, ligação social ou algum outro objetivo almejado. Sentimentos morais como indignação, culpa ou perdão derivam de mecanismos neurais que evoluíram para permitir cooperação grupal. Todos esses algoritmos bioquímicos foram aprimorados durante milhões de anos de evolução. Se os sentimentos de algum antigo ancestral cometeram um erro, os genes que configuram esses sentimentos não foram passados à geração seguinte. Assim, sentimentos não são o contrário de racionalidade - eles incorporam uma racionalidade evolutiva. Normalmente não nos damos conta de que os sentimentos são na verdade cálculos, porque o intenso processo de cálculo ocorre abaixo do nível da consciência. (...) Nossos sentimentos, eles eram o melhor método em todo o universo para decidir o que estudar, com quem casar e em que partido votar.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; págs: 41, 42, 72 e 73)

20 de setembro de 2019

DESAFIO PEPSI


Executivos da Pepsi-Cola Company decidiram lançar uma experiência muito divulgada conhecida como “Desafio Pepsi”. Centenas de representantes da Pepsi armavam mesas em shopping e supermercados de todo o mundo e distribuíam dois copos iguais para cada homem, mulher e criança que parasse para ver o porquê de toda aquela comoção. Um copo continha Pepsi; o outro, Coca-Cola. Perguntava-se qual bebida as pessoas preferiam. Se os resultados fossem os esperados, a Pepsi finalmente poderia dar o primeiro passo para acabar com a longa dominação da Coca-Cola no mercado de refrigerantes norte-americano. Mais de metade dos voluntários afirmara que preferia o sabor da Pepsi ao da Coca-Cola. Então, de acordo com os dados, a Pepsi deveria estar dando uma surra na Coca-Cola em todo o mundo. Mas não estava.

Mas, em 2003, o dr. Read Montague, diretor do Laboratório de Neuroimagem Humana na Faculdade Baylor de Medicina, em Houston, decidiu sondar os resultados dos testes com mais profundidade. Vinte e oito anos depois do Desafio Pepsi original, ele revisou o estudo, usando dessa vez um aparelho de IRMf para monitorar o cérebro de 67 pessoas. Primeiro, perguntou aos voluntários se eles preferiam Coca-Cola, Pepsi ou se não tinham preferência. Os resultados corresponderam quase exatamente às descobertas da experiência original: mais de metade dos pesquisados relataram uma preferência clara pela Pepsi. O cérebro deles também. Ao tomar um gole de Pepsi, esse conjunto totalmente diferente de voluntários registrou uma rajada de atividade no putâmen ventral, uma região do cérebro que é estimulada quando gostamos de um sabor.

Uma nova descoberta fascinante apareceu na segunda parte da experiência. Dessa vez, o dr. Montague decidiu deixar os pesquisados saberem se beberiam Pepsi ou Coca-Cola antes de realmente provarem o refrigerante. O resultado: 75% dos pesquisados disseram que preferiam Coca-Cola. E mais, Montague também observou uma mudança na localização da atividade cerebral. Além do putâmen ventral, houve fluxos sanguíneos registrados no córtex pré-frontal, uma parte do cérebro responsável, entre outras coisas, pelo raciocínio e discernimento mais altos. Tudo isso indicou ao dr. Montague que duas áreas no cérebro estavam participando de um cabo de guerra entre pensamento racional e emocional. E, durante aquele milésimo de segundo de luta e indecisão, as emoções se rebelaram, como soldados amotinados, para subjugar a preferência racional dos pesquisados por Pepsi. E foi nesse momento que a Coca-Cola venceu. Todas as associações positivas que os pesquisados tinham em relação à Coca-Cola — história, logomarca, cor, design e aroma; suas próprias lembranças de infância que remetiam à Coca-Cola, os anúncios na televisão e na mídia impressa ao longo dos anos, a indiscutível, inexorável, inelutável emoção ligada à marca Coca-Cola — derrotaram sua preferência racional e natural pelo sabor da Pepsi. Por quê? Porque é por meio das emoções que o cérebro codifica as coisas que têm valor.

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; págs: 30, 31 e 32)

31 DICAS DE PERSUASÃO

[1] Quando nos identificamos como parte de um grupo, nossas opiniões tendem a seguir o consenso desse grupo. (...) [2] Seres humanos são programados para retribuir favores. Se quiser a cooperação de alguém no futuro, faça algo por essa pessoa hoje. (...) [3] A persuasão é efetiva mesmo quando o receptor reconhece a técnica. Todo mundo sabe que as lojas usam etiquetas de R$ 9,99 porque R$ 10,00 parece mais caro. Mesmo assim, funciona. (...) [4] As coisas nas quais você mais pensa crescerão irracionalmente em importância em sua mente. (...) [5] Um “erro” intencional nos detalhes de sua mensagem atrairá críticas. A atenção fará com que a mensagem cresça em importância - ao menos na mente das pessoas - apenas porque todo mundo estará falando a respeito. (...) [6] Se você não é um mestre persuasor concorrendo à presidência, encontre um agradável meio-termo entre desculpar-se demais, o que assinala falta de confiança, e jamais de desculpar, o que o faz parecer um sociopata. (...) [7] É fácil adequar explicações completamente diferentes aos fatos observados. Não confie em qualquer interpretação da realidade que não seja capaz de prever. (...) [8] As pessoas são mais influenciadas pela direção das coisas que por seu estado atual. (...) [9] Exiba confiança (real ou simulada) para aumentar seu poder de persuasão. Você precisa acreditar em si mesmo, ou ao menos comportar-se como se acreditasse, para que qualquer outra pessoa acredite. (...) [10] A persuasão é mais forte quando o mensageiro é confiável. (...) [11] Adivinhe o que alguém está pensando - no exato momento em que estiver pensando - e diga em voz alta. Se estiver certo, a pessoa formará um elo com você, por acreditar que têm mentes parecidas. (...) [12] Se quiser que a audiência aceite seu conteúdo, deixe de fora qualquer detalhe que seja desimportante e que possa dar a ela razão para concluir: esse não sou eu. Deixe suficiente espaço em branco em seu conteúdo para que as pessoas possam preenchê-lo com aquilo que as deixa mais felizes. (...) [13] Use a manobra do terreno elevado para se apresentar como o adulto sábio da discussão. Isso forçará os outros a se unirem a você ou serem vistos como preocupados com mesquinharias. (...) [14] Quando você ataca as crenças de alguém, a pessoa sob ataque tem mais probabilidade de enrijecer essas crenças do que abandoná-las, mesmo que seu argumento seja impecável. (...) [15] Estudos mostram que seres humanos viciam mais rapidamente nas recompensas imprevisíveis que nas previsíveis. (...) [16] É mais fácil persuadir uma pessoa que acredita que você é persuasivo. (...) [17] As pessoas preferem certeza a incerteza, mesmo quando a certeza é errônea. (...) [18] Se todos os outros fatores forem iguais, a persuasão visual é mais poderosa que a não visual. E por uma grande diferença. (...) [19] No contexto da persuasão, você não precisa de uma imagem física se puder fazer com que alguém imagine a cena. (...) [20] As pessoas são mais persuadidas pelo contraste que pelos fatos ou pela razão. Escolha seus contrastes com sabedoria. (...) [21] Quando você associa duas ideias ou imagens, a reação emocional a elas começa a se fundir. (...) [22] Com o passar do tempo, as pessoas automaticamente se acostumam a pequenas contrariedades. (...) [23] O que você diz é importante, mas nunca tão importante quanto o que as pessoas acham que você está pensando. (...) [24] Se puder enquadrar sua estratégia preferida como duas maneiras de vencer e nenhuma de perder, quase ninguém discordará do caminho sugerido, porque essa é uma manobra natural do terreno elevado. (...) [25] Se estiver vendendo, peça a seu potencial cliente que compre. Pedidos diretos são persuasivos. (...) [26] Repetição é persuasão. Repetição é persuasão. Eu já mencionei que repetição é persuasão? (...) [27] Imite o estilo de fala de sua audiência. Quando as pessoas o virem como uma delas, será mais fácil liderá-las. (...) [28] Explicações simples parecem mais críveis que explicações complicadas. (...) [29] A simplicidade torna as ideias mais fáceis de compreender, mais fáceis de lembrar e mais fáceis de disseminar. Você só pode ser persuasivo quando também é memorável. (...) [30] Ambiguidade estratégica” é a escolha deliberada de palavras que permite que as pessoas leiam na mensagem aquilo que querem ler. Dito de outras maneira, a mensagem intencionalmente deixa de fora qualquer coisa que possa gerar objeção. As pessoas preenchem os vazios com sua imaginação, e a imaginação pode ser mais persuasiva que qualquer coisa que você tenha a dizer. (...) [31] Se estiver tentando conseguir uma decisão de alguém que está em cima do muro, mas tendendo em sua direção, arrisque um “falso porquê” para dar a essa pessoa “permissão” para concordar com você. A razão que você oferece não precisa ser boa. Qualquer “falso porquê” funcionará se a pessoa estiver procurando uma razão para se voltar em sua direção.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 17, 32, 34, 35, 37, 67, 82, 87, 91, 93, 120, 124, 131, 136, 141, 157, 158, 172, 175, 193, 195, 219, 226, 227, 228, 229, 231 e 280)

18 de setembro de 2019

DEMOCRACIA EMOCIONAL

"A democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si." (Aristóteles)

Referendos e eleições sempre dizem respeito a sentimentos humanos, não à racionalidade humana. Se a democracia fosse questão de tomadas de decisão racionais, não haveria nenhum motivo para dar a todas as pessoas direitos iguais em seus votos - ou talvez nem sequer o direito de votar. Existe ampla evidência de que algumas pessoas são muito mais informadas e racionais que outras, principalmente, quando se trata de questões econômicas e políticas específicas.

É o mesmo que convocar um plebiscito nacional para decidir se a álgebra de Einstein estava correta, ou deixar os passageiros votarem para decidir em que pista o piloto deve pousar.(Richard Dawkins)

A democracia supõe que sentimentos humanos refletem um misterioso e profundo “livre-arbítrio”, que este “livre-arbítrio” é a fonte definitiva da autoridade e que, apesar de algumas pessoas serem mais inteligentes do que outras, todos os humanos são igualmente livres. Assim como Einstein e Dawkins, uma trabalhadora doméstica sem instrução também tem livre-arbítrio, e por isso no dia de eleições seus sentimentos - representados por seu voto - contam tanto quanto os de qualquer outra pessoa. (...) Essa lealdade ao próprio coração pode acabar sendo o calcanhar de aquiles da democracia liberal. Pois se alguém (seja em Pequim ou em San Francisco) adquirir capacidade tecnológica para hackear e manipular o coração humano, a política democrática vai se tornar um espetáculo de fantoches emocional.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; págs: 70, 71 e 72)
 

Meu voto não acrescentava nada à qualidade do resultado. Até onde posso dizer, ninguém adiciona inteligência ao resultado de uma eleição, mas a maioria dos eleitores acredita que sim. E essa ilusão é necessária para dar suporte ao governo. Ela dá aos eleitores um senso de poder e adesão. Isso cria estabilidade nacional. A ilusão da democracia é provavelmente uma das mais benéficas alucinações que a humanidade já concebeu. Se você acredita que a democracia funciona e age como se ela funcionasse, ela de fato funciona. Acho que a democracia é mais uma condição mental que um sistema político.

Todos sabemos que a vasta maioria de nossos colegas cidadãos é desinformada e simplista demais para tomar boas decisões eleitorais. E, mesmo assim, há uma aceitação disseminada do sistema de eleição pela maioria. Mas, se aceitássemos as limitações de nossas próprias habilidades de previsão, não votaríamos, não sentiríamos muita lealdade em relação a nosso país e todo o sistema entraria em colapso. Claramente, não posso prever quem fará um bom trabalho como presidente. Ninguém pode. Mas a maioria de nós acha que sim.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 245, 246 e 247)

14 de setembro de 2019

EFEITO VAMPIRO

Os pesquisadores concluíram que, aparentemente, “o sexo não vende nada além de si mesmo”. Em alguns casos, os estímulos sexuais na verdade interferem na eficácia de um anúncio. Não é de surpreender que os homens tenham gastado muito tempo passando seus mouses sobre os seios das modelos. Mas, ao fazer isso, muitos deles contornavam o nome e a logomarca do produto, e o resto do texto. Em outras palavras, o material sexualmente sugestivo os deixava cegos em relação a todas as outras informações no anúncio - até mesmo o próprio nome do produto. A equipe de pesquisa apelidou esse fenômeno de Efeito Vampiro, referindo-se ao fato de que o conteúdo excitante roubava a atenção da verdadeira mensagem do anúncio.

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; págs: 156 e 157)

12 de setembro de 2019

HOMEM PRIMATA



- Seu problema é que passou a vida toda pensando que há regras. Não há regras. Nós éramos gorilas. Tudo o que tínhamos era o que tomávamos e defendíamos. A verdade é que você é mais homem hoje do que era ontem.
- Como você sabe?
- Nossa vida é uma maré vermelha, Lester. A merda que nos fazem engolir, dia após dia, o chefe, a esposa e outras coisas acabam com a gente. Se não se impuser, e mostrar que, no fundo, ainda é um primata, você será sempre insignificante.
 
Fargo (1º Temporada/ Ep: 01)

5 de setembro de 2019

RITUAIS SUPERSTICIOSOS

Quanto mais imprevisível o mundo se torna, mais buscamos uma sensação de controle sobre nossa vida. E quanto mais ansiedade e incerteza sentimos, mais adotamos comportamentos e rituais supersticiosos para nos guiar. (...) Superstição e ritual foram cientificamente relacionados à necessidade humana de controle em um mundo turbulento. (...) A maioria dos rituais e comportamentos supersticiosos está tão arraigada em nossa cultura e em nossa vida quotidiana que, muitas vezes, nem nos perguntamos por que estamos fazendo aquilo. (...) Produtos e marcas associados a rituais ou superstições são muito mais “grudentos” do que os outros. Em um mundo inconstante e veloz, estamos todos buscando estabilidade e familiaridade, e os rituais de produtos nos proporcionam a ilusão de conforto e participação. (...) Eu até me arriscaria a dizer que há algo tão atraente nessa sensação de estabilidade e familiaridade que muitos consumidores têm um sentimento de lealdade quase religioso em relação a suas marcas e produtos favoritos. (...) A obsessão por uma marca tem muito em comum com rituais e comportamentos supersticiosos - ambos envolvem ações habituais, reincidentes, com pouca ou nenhuma base lógica, e ambos nascem da necessidade de ter uma sensação de controle em um mundo opressivo e complexo.

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; págs: 84, 87, 90, 91, 94 e 95)

4 de setembro de 2019

A LÓGICA DE LINCOLN

A democracia baseia-se no princípio de Abraham Lincoln de que “é possível enganar todas as pessoas por algum tempo, e algumas pessoas o tempo todo, mas não é possível enganar todas as pessoas o tempo todo”. Se um governo é corrupto e não melhora a vida das pessoas, em algum momento os cidadãos se darão conta disso e substituirão o governo. Mas o controle de mídia pelo governo solapa a lógica de Lincoln, porque impede que os cidadãos conheçam a verdade. Mediante seu monopólio da mídia, a oligarquia governante pode sempre culpar os outros por suas falhas e desviar a atenção para ameaças externas - reais ou imaginárias.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; pág: 32)

TRABALHO IRRELEVANTE

As revoluções gêmeas na tecnologia da informação e na biotecnologia enfrentam os maiores desafios com que nossa espécie já deparou. A fusão das duas áreas pode em breve expulsar bilhões de seres humanos do mercado de trabalho e solapar a liberdade e a igualdade. Algoritmos de Big Data poderiam criar ditaduras digitais nas quais todo o poder se concentra nas mãos de uma minúscula elite enquanto a maior parte das pessoas sofre não em virtude de exploração, mas de algo muito pior: irrelevância. (...) No século XX, as massas se revoltaram contra a exploração, e buscaram traduzir seu papel vital na economia em poder político. Agora as massas temem a irrelevância. Talvez no século XXI as revoltas populares sejam dirigidas não contra uma elite econômica que explora pessoas, mas contra a elite econômica que já não precisa delas. Talvez seja uma batalha perdida. É muito mais difícil lutar contra a irrelevância do que contra a exploração.  
 
Yuval Noah Harari (21 Lições Para o Século 21; págs: 15 e 28)
 
 
Eu estaria louco se negasse que existe ainda uma massa numerosa de operários e trabalhadores manuais. A questão é que eles não encarnam mais problemas universais, deixaram de ser uma "força revolucionária" e não são mais "centrais" na estratégia para que se consiga pôr fim à exploração. Esta estratégia passa, agora, sobretudo pela mão de obra do terceiro mundo e pela "mente de obra" do primeiro mundo. De todo modo, o fato é que o trabalho manual não aumenta e sim diminui, enquanto o intelectual aumenta. Como eu já disse, nos tempos de Marx, de cada cem dependentes de uma fábrica, noventa e seis eram operários e só quatro eram executivos. Hoje, num grande número de empresas, noventa são executivos e só dez, operários. O trabalho manual dentro das empresas é sempre mais delegado às máquinas, o que, além de ser economicamente conveniente, reduz o potencial de conflitos. (...) "O futuro", publicou a Newsweek, "pertence àqueles que serão mais capazes de usar as próprias cabeças do que as próprias mãos", ou seja, a pessoas que se dedicarão à análise de sistemas, à pesquisa científica, à psicologia, ao marketing, às relações públicas, ao tratamento da saúde, à organização de viagens, ao jornalismo e à formação, isto é, educação nos campos que acabei de enumerar. Estas são as atividades do futuro, em lugar da guerra, do petróleo ou da fabricação de geladeiras.

Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 106 e 111)

A COSMOVISÃO



A visão de mundo comum, partilhada pela maioria dos seres humanos, afirma que existe uma realidade objetiva e que podemos compreendê-la por meio da rigorosa aplicação da razão sobre os fatos. Essa visão de mundo imagina que algumas pessoas já adquiriram certo tipo de iluminação, baseada em fatos e compatível com a ciência e a lógica, e tentam ajudar o restante de nós a enxergar o mundo da maneira “correta”. Até onde posso dizer, a maioria das pessoas partilha dessa interpretação. O único senão é que todos acreditamos ser iluminados. E assumimos que aqueles que discordam só precisam de fatos melhores, e talvez de cérebros melhores, para concordar conosco. Esse filtro deixa a maioria de nós felizes - porque nos vemos como os inteligentes da história - e é bastante bom em prever o futuro, mas apenas porque o viés de confirmação (nossa tendência de interpretar os dados como apoiando nossas opiniões) fará com que o futuro se pareça com o que queiramos que pareça, dentro do razoável. (...)

O conceito-chave de um filtro é que ele não pretende fornecer uma visão acertada da realidade. Tudo que se espera dele é que dê resultados melhores que os outros filtros. Proponho que a melhor maneira de determinar objetivamente a utilidade de um filtro é perguntar se ele o deixa feliz e se faz um bom trabalho ao prever o futuro. (...) Quando eu era criança. (...) Meu filtro em relação à vida permitia a existência de todos os tipos de criaturas mágicas. A parte interessante - e a lição aqui - é que essa concepção totalmente errada da realidade fez um excelente trabalho em me manter feliz e prever o futuro, sem qualquer penalidade por não corresponder à realidade.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 14, 15, 51 e 52)

18 de agosto de 2019

FICA MAIS FÁCIL


Fica mais fácil. Fica um pouco mais fácil a cada dia. (...) Mas você tem que correr todo dia. Essa é a parte difícil. Mas fica mais fácil.

Bojack Horseman (2º Temporada/Ep: 12)


"Nós somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito." 
Aristóteles

"Os homens todos se assemelham por natureza. Eles se fazem diferentes pelo hábitos que adquirem." 

Confúcio

7 de agosto de 2019

HABITUA O CORPO AO IMPÉRIO DA INTELIGÊNCIA E TEMPERA-O NO TRABALHO E NO SUOR


Talvez sustentem muitos de nossos pretensos filósofos que o homem justo jamais se torna injusto nem o sábio, insolente. Que uma vez de posse de uma ciência, nunca mais se esquece o que se aprendeu. De minha parte, estou longe de pensar como eles. Vejo, com efeito, que, se não exercitarmos o corpo, tornamo-nos inaptos para os trabalhos corporais, e que, da mesma forma, se não o exercitarmos, o espírito se tornará incapaz dos trabalhos espirituais, não se podendo fazer o que se deve nem se abster do que se deve evitar. Noto ainda que aqueles que se entregam ao vinho e aos prazeres dos sentidos são menos capazes de fazer o que devem e de resguardar-se do que é necessário evitar. Muitos há que antes de amar sabiam administrar seus bens. Amando, já não o sabem. E perdidos seus haveres, já não se acautelam de ganhos de que se mantinham castos por considerá-los vergonhosos. Penso que todas as virtudes requerem prática, notadamente a temperança. Inatas na alma com o corpo, as paixões incitam a pôr de lado a sabedoria e a satisfazer imediatamente os apetites sensuais.

Ignoras que graças a certos exercícios pessoas fracas de corpo se tornam mais fortes e os suportam mais facilmente do que aquelas que, nascidas mais fortes, foram descuidadas? Não acreditas que eu, que habituei meu corpo a resistir a todas as influências, sofra menos que tu, que não te exercitaste? Se não sou escravo do ventre, do sono, da volúpia, é porque conheço prazeres mais doces que não deliciam apenas no momento, mas proporcionam vantagens contínuas. Sabes que sem a esperança do sucesso nenhum prazer experimentamos, de modo que, se se pensa obter bom êxito, seja na agricultura, seja na navegação, seja em outra profissão qualquer, a elas nos dedicamos com tanta energia como se já tivéssemos triunfado.

Quem sofre voluntariamente se consola de seus males com uma doce esperança, como vemos os caçadores suportarem garbosamente as fadigas pela esperança de uma captura. Semelhante recompensa é bem pouca coisa para suas penas. Mas os que trabalham para ter bons amigos ou para triunfar dos inimigos, para robustecer o corpo e a alma e assim bem gerir sua casa, fazer bem aos amigos, prestar serviços à pátria, como não acreditar que com tais objetivos suportem com prazer todas as fadigas e vivam felizes, contentes de si próprios, louvados e invejados por outros homens? Mais: os hábitos de indolência e os prazeres fáceis não podem, no dizer dos ginastas, dar boa compleição ao corpo nem fazer penetrar no espírito algum conhecimento apreciável. Ao contrário, os exercícios que requerem constância nos conduzem à prática de belas e boas ações, como dizem os grandes homens. Disse em algum lugar Hesíodo: O vício é sedutor e fácil, seu caminho liso e breve. Antes da virtude, porém, colocaram os deuses o suor, e a vereda que leva ao cume é áspera, agreste e árdua: ganhando-se o alto, contudo, aplaina-se o caminho.

Do que existe realmente de honesto e belo, nada concedem os deuses aos homens sem sacrifício e dedicação. Queres que os deuses te sejam propícios? Homenageia-os. Ambiciona a estima de teus amigos? Beneficia-os. Desejas que uma nação te honre? Serve-a. Queres que a Grécia inteira admire teu valor? Procura ser-lhe útil. Desejas que a terra te forneça seus frutos? Cultiva-a. Preferes enriquecer com rebanhos? Apascenta-os. Aspiras a fazer-te grande pela guerra? Querer tornar livres teus amigos e triunfar de teus inimigos? Aprende a arte da guerra com aqueles que a conhecem, exercita-te em pôr-lhes em prática as lições. Desejas adquirir força física? Habitua o corpo ao império da inteligência e tempera-o no trabalho e no suor.

Sócrates (Xenofonte - Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates; págs: 88, 89, 112, 124, 125 e 126)

SER ÚTIL

Enquanto vivo, dizia, o homem corta com as próprias mãos ou faz cortar por outrem o que em seu corpo, objeto de sua mais viva afeição, lhe parece inútil e supérfluo. Assim os homens cortam de vontade própria as unhas, os cabelos, os calos. Entregam-se aos médicos para que os cortem e queimem, com dores e sofrimentos indizíveis e ainda se crêem na obrigação de recompensá-los. Afinal cospem a saliva o mais longe possível da boca, porque de nada lhes serve o guardá-la, sendo até prejudicial. O que é inútil deve ser desprezado, instava seus discípulos a envidarem todos os esforços por tornar-se o mais sóbrios e úteis possível, a fim de que, se desejassem granjear a estima dos pais, irmãos ou não importa quem, não se fiassem apenas nas ligações de parentesco, mas procurassem ser úteis àqueles cuja estima ambicionassem.

Sócrates (Xenofonte - Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates; págs: 95 e 96)

29 de julho de 2019

A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA


Como um homem e uma mulher se unem? (...) Podemos prever se um homem e uma mulher terão um segundo encontro com base em como falam no primeiro. (...) O que os dados linguísticos nos disseram? Primeiro, como um homem ou mulher comunica seu interesse. Uma das maneiras de um homem sinalizar que sente atração é óbvia: ele ri das piadas da mulher. Outra é menos óbvia: ao falar, restringe a amplitude do tom de voz. Há pesquisas que indicam que uma voz uniforme é frequentemente vista pelas mulheres como masculina, o que sugere que os homens, talvez de modo subconsciente, exageram sua masculinidade quando gostam de uma mulher. Os cientistas descobriram que uma mulher sinaliza seu interesse variando o tom de voz, usando um tom mais suave e falando trechos mais curtos. Há também pistas importantes sobre o interesse de uma mulher com base em determinadas palavras que usa. É improvável que uma mulher esteja interessada quando usa palavras e frases como “provavelmente” ou “eu acho”. Camaradas, se uma mulher usar essas palavras - ou se gosta “mais ou menos” da bebida, “acha” que está com frio ou “pode ser” que queira outro aperitivo - pode apostar que ela “provavelmente” não está nem “mais ou menos” a fim de você.

Uma mulher provavelmente está interessada quando fala de si mesmo. Ocorre que, para um homem a fim em busca de um sinal, a palavra mais bonita que pode ouvir de uma mulher é: “eu”. Isto é um sinal de que ela se sente confortável. Ela provavelmente também está interessada se usar marcadores discursivos, como “sabe” e “quero dizer”. Por que? Os cientistas observaram que essas frases chamam a atenção do interlocutor. Elas são amigáveis e calorosas e sugerem uma pessoa buscando se conectar, entende o que quero dizer? (...) Mulheres gostam de homens que seguem suas indicações. (...) Um mulher tem mais probabilidade de relatar uma conexão se um homem rir de suas piadas e mantiver a conversa em assuntos que ela introduz em vez de constantemente mudar de assunto para outros sobre o qual queira falar. Mulheres também gostam de homens que expressam apoio e simpatia. Se um homem diz: “Isso é sensacional” ou “Isso é muito legal”, uma mulher é significativamente mais propensa a relatar haver uma conexão. O mesmo acontece se ele usar frases como: “Nossa, que difícil” ou “Você deve estar triste”. (...) Para as mulheres tenho uma má notícia: os dados parecem confirmar uma verdade detestável sobre os homens. A conversa desempenha apenas um pequeno papel em como reagem às mulheres. A aparência física supera todo o resto como preditor do relato de um homem sobre a conexão no contato.

Se há muitas perguntas durante o encontro, é menos provável que tanto o homem quanto a mulher relatem ter havido uma conexão. Isto parece contraintuitivo, você pode pensar que perguntas são um sinal de interesse. Mas nem tanto no primeiro encontro, a maioria das perguntas nesse momento são sinais de tédio. “Quais são seus hobbies?”, “Quantos irmãos e irmãs você tem?” Esses são os tipos de coisas que pessoas dizem quando a conversa empaca. Um ótimo primeiro encontro inclui uma única pergunta no final: “Quer sair comigo de novo?” Se essa for a única pergunta do encontro, a resposta provavelmente será “sim”.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 79, 80, 81 e 82)

19 de julho de 2019

MÚSICA CLÁSSICA


Foi descoberto que música clássica pode reduzir o vandalismo, a ociosidade e até mesmo os crimes violentos em parques, estacionamentos de lojas de conveniência e metrôs no Canadá. Números publicados em 2006 mostraram que, quando música clássica era difundida por alto-falantes no metrô de Londres, os furtos caíam 33%; as agressões contra funcionários, 25%; e o vandalismo em trens e estações, 37%.

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; pág: 137)

AGREGAÇÃO POLÍTICA ONLINE


As pessoas, se puderem decidir por si mesmas, tendem a buscar pontos de vistas que confirmem suas crenças. Assim, certamente, a internet cria extrema segregação política. (...) A probabilidade de que duas pessoas que visitam o mesmo site de notícias tenham visões políticas diferentes é de 45%. Em outras palavras, a internet está muito mais perto da perfeita agregação do que da total segregação. Liberais e conservadores se “encontram” na web o tempo todo. (...) Quais as probabilidades de dois membros da mesma família terem visões políticas diferentes? Dois vizinhos? Dois colegas? Dois amigos? Usando os dados da General Social Survey, Gentzkow e Shapiro descobriram que todos esses números eram menores do que as chances de duas pessoas no mesmo site de notícias terem visões políticas diferentes.

PROBABILIDADE DE QUE ALGUÉM QUE VOCÊ CONHEÇA TENHA VISÃO POLÍTICA OPOSTA
Em um site de notícias 45,2%
Colega de trabalho 41,6%
Vizinho offline 40,3%
Familiar 37,0%
Amigo 34,7%

Em outras palavras, você tem mais probabilidade de encontrar alguém com visões opostas online do que offline. (...) Há sites para todo mundo, não importa o ponto de vista. (...) Muitas pessoas com fortes opiniões políticas visitam sites de pontos de vista opostos, nem que seja apenas para ficar irritada e discutir. Viciados em política não se limitam apenas a sites que defendam suas posições. (...) Muitas pessoas fazem buscas sobre um candidato porque gostam dele. Um número semelhante de pessoas faz buscas sobre um candidato porque o odeia. (...) O aumento da mídia social deveria significar um aumento nas câmaras de eco. Certo? Novamente, a história não é simples. (...) Há um motivo crucial para que o Facebook possa levar a uma discussão política mais diversificada do que a socialização offline. Pessoas, em média, têm substancialmente mais amigos no Facebook do que offline. E esses laços de amizades frágeis facilitados pelo Facebook têm maior probabilidade de envolver pessoas com visões políticas opostas. Em outras palavras, o Facebook nos expõe a conexões sociais frágeis - o conhecido dos tempos de colégio, o primo maluco de terceiro grau, o amigo do amigo do amigo que você meio que talvez conheça. Essas são pessoas com quem você provavelmente nunca sairá para jogar boliche ou convidará para um churrasco. Não chamará para festas. Mas você os adiciona como amigos no Facebook. E visualiza os links para os artigos postados por eles com visões que nunca consideraria. Resumindo, a internet de fato aproxima pessoas de diferentes visões políticas.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 9, 140, 141, 142 e 143)

AROMA BAUNILHA


Ser alimentado por sua mãe. A sensação de estar nos braços dela. Associações desse tipo são os motivos que fazem com que algumas empresas usem o aroma de baunilha - encontrado no leite materno (e que, não por coincidência, é o aroma mais popular nos Estados Unidos) - em seus produtos. (...) Na verdade, o aroma de baunilha é tão atraente que uma experiência realizada em uma loja de roupas no Noroeste do Pacífico mostrou que, quando “aromas femininos” como baunilha, foram borrifados nas seções de roupas femininas, as vendas dobraram. (...) De todos os sentidos, o olfato é o mais primitivo, o mais arraigado. Foi como nossos ancestrais desenvolveram o gosto por certos alimentos, era como procuravam parceiros e intuíam a presença de inimigos. Quando sentimos o cheiro de algo, os receptores de odores em nosso nariz traçam uma linha direta até o sistema límbico, que controla nossas emoções, nossas lembranças e nossa sensação de bem-estar. Por conseguinte, a reação dos nossos instintos é instantânea. (...) "No caso de todos os outros sentidos, pensamos antes de agir, mas, no caso do olfato, o cérebro reage antes de pensarmos."

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; págs: 128 e 129)

BANDITISMO SOCIAL

Estádio do Pacaembu - São Paulo

Nada mais próprio para favorecer o que poderemos chamar de banditismo social. Pode-se todavia afirmar, quando se trata de uma promessa feita a uma multidão, que é difícil sancioná-la juridicamente, em razão do caráter essencialmente passageiro da multidão, que se reúne apenas por um instante e nunca é a mesma. Uma vez dissipada a multidão, não há mais ninguém, mesmo tendo feito parte dela, que possa pretender representá-la, agir em seu nome.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 47 e 48)

UM OFERECIMENTO NETFLIX


A Netflix percebeu algo estranho nos dados. Os usuários enchiam suas listas com inúmeros filmes. Mas dias depois, quando eram notificados, raramente clicavam no link. Qual era o problema? Pergunte aos usuários a quais filmes planejam assistir dentro de alguns dias e eles lotarão a lista com filmes cultos e inspiradores como documentários em preto e branco sobre a Segunda Guerra Mundial ou filmes “cabeça” estrangeiros. Alguns dias depois, porém, eles preferem assistir aos mesmos filmes a que costumam assistir: comédias bobas ou filmes românticos. As pessoas mentiam para si mesmas reiteradamente. Diante dessa disparidade, a Netflix parou de perguntar aos usuários ao que queriam assistir no futuro e começou a criar um modelo baseado em milhões de cliques e visualizações de clientes semelhantes. A empresa começou a oferecer aos usuários listas de filmes sugeridos com base não no que alegavam gostar, mas no que os dados disseram que gostariam de assistir. O resultado: os clientes visitavam o site da Netflix com mais frequência e assistiam a mais filmes.
 
"Os algoritmos conhecem você melhor do que você mesmo", diz Xavier Amatriain, ex-cientista de dados da Netflix

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; pág: 155)




DIGAM XIS!

Os rostos médios ao longo de mais de um século, separados por gênero:


Os rostos mudaram de sérios no início do século XX para sorridentes no final. Por que a mudança? Os norte-americanos ficaram mais felizes? Não. (...) Quando a fotografia foi inventada, as pessoas pensavam nelas como quadros. Não havia algo que pudesse servir de comparação. Assim, pessoas fotografadas copiavam as pessoas nos quadros. E como nos quadros era impossível manter um sorriso pelas muitas horas que levavam para ficar prontas, as pessoas adotavam uma fisionomia séria. E assim, ao serem fotografadas, faziam o mesmo.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; pág: 98)

18 de julho de 2019

MARCADORES SOMÁTICOS


Sua decisão foi racional? Você pode ter achado que sim ao fazer a escolha, mas não foi, de jeito nenhum. Se o processo de tomada de decisões foi consciente - e articulado -, acho que deve ter sido algo mais ou menos assim: 
 
“Associo a Skippy à infância… existe desde sempre, então acho que é confiável… mas não está cheia de açúcar e outros conservantes que eu não deveria comer?... O mesmo se aplica à Peter Pan; além disso, o nome é tão infantil… E não vou comprar aquela marca genérica. Custa trinta centavos menos, o que me deixa desconfiado. Pelo que sei, você leva o que está pagando... As orgânicas? Sem gosto, das poucas vezes que experimentei… também sempre precisa de sal… E também li em algum lugar que ‘orgânico’ não significa necessariamente uma vantagem, e além disso custa o dobro do preço… Jif… Qual é aquele velho slogan deles? ‘Mães exigentes exigem Jif’... Bem, sou uma pessoa criteriosa...”

Essas são as conversas subconscientes que passam por nossa cabeça toda vez que escolhemos um produto em detrimento de outro. (...) Mais uma vez, vamos imaginar a conversa racional que pode acontecer dentro de sua cabeça enquanto você decide qual comprar:

Dasani… não, essa é fabricada pela Coca-Cola… Alguém me disse que não passa de água da torneira com um nome metido à besta… Não quero que minha água engarrafada seja ‘comercial’; ela deve ser especial, chique… Espere, e essa aqui? Iskilde. De longe, a garrafa mais bonita da prateleira. Da Dinamarca… Não faço ideia do Iskilde quer dizer, mas a Dinamarca não é uma terra cheia de neve, córregos e pessoas saudáveis esquiando nas montanhas? Até as letras no rótulo da garrafa são azul-claro, como olhos escandinavos… A garrafa é tão moderna, clean e de aparência glacial - como a água de uma torrente dinamarquesa… Iskilde, parece até um dinamarquês dizendo: ‘É gelada.’ E também é cara, o que provavelmente significa que é especial...”

A verdadeira base lógica por trás das suas escolhas estava alicerçada sobre as associações de toda uma vida. (...) Ao tomarmos decisões a respeito do que compramos, nosso cérebro evoca e rastreia uma quantidade incrível de lembranças, fatos e emoções; e as compacta em uma reação rápida. (...) Essa cadeia de conceitos, partes do corpo e sensações cria o que o cientista António Damásio chama de marcador somático - uma espécie de lembrete, ou atalho, em nosso cérebro. (...) Esses marcadores servem para conectar uma experiência ou emoção a uma reação específica necessária. Ao nos ajudar instantaneamente a reduzir as possibilidades disponíveis em uma situação, os marcadores somáticos nos guiam em direção a uma decisão que sabemos que irá gerar o melhor resultado, ou o resultado menos doloroso.

São esses mesmos atalhos cognitivos que estão por trás da maioria das nossas decisões de compra. Lembre-se: você levou menos de dez segundos para escolher os produtos das marcas Jif e Iskilde, com base em uma série completamente inconsciente de avisos em seu cérebro que o levaram diretamente para uma reação emocional. De repente, você “simplesmente sabia” qual marca queria, mas não tinha consciência alguma dos fatores - a forma da embalagem do produto, lembranças de infância, preço e um monte de outras considerações - que o levaram a tomar aquela decisão. (...) Você segue automaticamente, por exemplo, para a seção da loja com onde estão os pneus Michelin. Você sabe está fazendo a escolha certa, mas, na verdade, não consegue explicar por quê. Na verdade, sua preferência por uma marca tem muito pouco a ver com os próprios pneus, mais sim com os marcadores somáticos que a marca cuidadosamente criou.

Como os marcadores somáticos se baseiam em experiências passadas de recompensa e punição, o medo também pode criar alguns dos marcadores somáticos mais poderosos, e muitos publicitários ficam bem felizes de tirar proveito de nossa natureza estressada, insegura e cada vez mais vulnerável. Praticamente todas as categorias de marcas de que consigo me lembrar usam o medo de forma direta ou indireta. Compramos remédios para afastar a depressão, pílulas para controlar o apetite e nos matriculamos em academias de ginástica para evitar a obesidade; aplicamos cremes e unguentos para aplacar o medo de envelhecer e até compramos softwares para evitar o terror de uma pane no disco rígido. Prevejo que, no futuro próximo, a publicidade vai se basear cada vez mais em marcadores somáticos guiados pelo medo à medida que os anunciantes tentam nos assustar e nos fazer acreditar que, se não comprarmos um determinado produto, estaremos menos seguros, felizes e livres, e teremos menos controle sobre nossa vida.

Martin Lindstrom (A Lógica do Consumo; págs: 114, 115, 116, 117, 118 e 122)


Citando a pesquisa Pew Global Attitudes ProjectCastells ressalta que somente cerca de 7% das matérias publicadas na mídia nos Estados Unidos da América despertaram muita atenção dos telespectadores, a maioria delas é relativa à segurança ou às violações de normas sociais. “O ódio, a ansiedade, o medo e o grande entusiasmo são particularmente estimulantes e também são retidos na memória de longo prazo” (CASTELLS, 2017, p. 209), escreve. Quando mecanismos emocionais são estimulados, o cérebro ativa a capacidade de decisão de nível superior, buscando e dando mais atenção às informações que recebe. É por isso que o enquadramento (framing) é baseado na provocação de emoções (ibid., p. 210). Como consequência, o jornalismo abusa do sensacionalismo e o marketing procura atingir os sentimentos dos consumidores.

Joyce Souza, Rodolfo Avelino e Sérgio Amadeu da Silveira (org.) (A Sociedade de Controle - Manipulação e Modulação nas Redes Digitais; pág: 16)