21 de novembro de 2023

DO LADO DO CLIENTE

Sempre busquei sentar no mesmo lado da mesa que meus clientes para ver os problemas por sua própria perspectiva. Compro ações de suas empresas para poder pensar como um membro de sua família. Quando possuo uma visão total do seu negócio, estou mais capacitado a dar-lhes conselhos acertados. Se me elegessem para seu Conselho Diretor, seria ainda mais fácil identificar-me com seus melhores interesses. (...) Uso sempre os produtos de meus clientes. Isso não é bajulação, mas boas maneiras elementares. Quase tudo que consumo é fabricado por um de meus clientes. (...) E por que não? Eles são ou não são os melhores produtos e serviços do mundo? Acho que são - e é por isso que faço a sua publicidade.

David Ogilvy (Confissões de um Publicitário; págs: 104 e 106)

26 de setembro de 2023

VIGIE

Vigie seus pensamentos, eles tornam-se palavras. Vigie suas palavras, elas tornam-se ações. Vigie suas ações, elas tornam-se hábitos. Vigie seus hábitos, eles formam seu caráter. Vigie seu caráter, ele se torna seu destino.

Frank Outlaw

11 de agosto de 2023

BASTA APENAS OUSAR

Por que eu sou tão tolo que, se os outros são tolos, se eu sei ao certo que são tolos, por que eu mesmo não quero ser mais inteligente? (...) Se a gente for esperar que todos fiquem inteligentes, isso irá demorar demais... Depois fiquei sabendo ainda que isso nunca vai acontecer, que as pessoas não vão mudar, que não há ninguém que possa refazê-las e não vale a pena perder tempo. Sim, isso é assim! É a lei delas. (...) Quem é vigoroso e forte de inteligência e espírito é o senhor delas! Quem muito ousa é que tem razão entre elas. Quem pode se lixar para mais coisas é o legislador delas, e quem pode ousar mais que todos tem mais razão do que todos! Assim tem sido até hoje e assim será sempre! Só um cego não vê. (...) Eu adivinhei que o poder só se deixa agarrar por aquele que ousa inclinar-se e tomá-lo. Aqui só há uma coisa, uma só: basta apenas ousar! (...) Como é que ninguém até então, ao passar ao lado de todo esse absurdo, havia ousado e não ousava pura e simplesmente agarrar tudo pelo rabo e arremessar para o diabo!

Fiódor Dostoiévski (Crime e Castigo; págs: 426 e 427)

26 de junho de 2023

REFLEXOS

A maioria das pessoas apega-se aos "reflexos" das idéias no mundo dos sentidos. (...) O que Platão descreve é o caminho percorrido pelo filósofo. Podemos considerar sua filosofia a descrição da atividade de um filósofo. Quando você vê uma sombra, Sofia, na mesma hora você pensa que alguma coisa deve estar projetando esta sombra. Por exemplo, pode acontecer de você ver a sombra de um animal. Talvez a de um cavalo, mas você não está bem certo. Então você se vira e vê o animal verdadeiro, que, naturalmente, é muito mais bonito e de contornos mais nítidos do que a imprecisa sombra. É POR ISSO QUE PLATÃO CONSIDERA TODOS OS FENÔMENOS DA NATUREZA MEROS REFLEXOS DAS FORMAS ETERNAS, OU IDÉIAS. Só que a maioria das pessoas está satisfeita com sua vida em meio a esses reflexos sombreados. Elas acreditam que as sombras são tudo o que existe, e por isso não as vêem como sombras. Com isto, esquecem-se também da imortalidade da alma.

Jostein Gaarder (O Mundo de Sofia; pág: 104)

21 de junho de 2023

O IMPACTO É CONSTRUÍDO AO LONGO DO TEMPO

Parte do meu conselho seria provavelmente só relaxar. Faça as coisas que são significativas pra você e com as quais se importa, leve elas a sério. Mas não aja pensando tanto em ter que provar alguma coisa pra alguém. E eu acho que quando você ainda está nos trinta, às vezes você ainda perde muito tempo pensando o que as outras pessoas querem que você seja, diferente de saber o que você quer ser. Acho que há várias formas de impactar o mundo. Muitas pessoas jovens estão numa corrida pra dizer: "sou impactante." E acho que o impacto é construído ao longo do tempo. É uma série de passos. É aquela soma quando você olha pra trás. E você diz: "Sabe, acho que fiz a diferença."

Barack Obama

Netflix (Trabalho - Ep: 03)

2 de junho de 2023

FAÍSCAS

- Godot, por que você é ferreiro?

- Todos os meus ancestrais foram ferreiros.

- Você gosta de ser ferreiro?

- Quem sabe. (...) Eu já estava com o martelo na mão antes de aprender a andar. Antes que eu pudesse pensar se gostava ou não, já estava martelando o ferro na minha frente. Eu estava sempre pensando que queria ser melhor, que queria fazer algo melhor. E quando fui perceber, já estava velho assim. Por que eu martelo ferro? Eu não sei a resposta. No entanto, eu gosto de uma coisa. Das faíscas. Eu gosto das faíscas. Elas me atraem. É como se minha própria vida explodisse diante dos meus olhos por um segundo. 

Godot


Também sou atraído pelas faíscas? A pequena luz que é criada por duas espadas. A pequena luz que se dispersa quando minha vida e a do meu oponente, nossas existências se chocam. É como se fosse a personificação da vida. No final, é tudo que eu tenho. Eu empunharei minha espada. Não por outra pessoa, mas por mim mesmo. Para dispersar minha própria faísca.

Guts

Berserk [Ep. 20]

1 de junho de 2023

FOGUEIRA DE SONHOS

Por que os homens gostam tanto de derramar sangue?” (...) Os homens tendem a ter um lado selvagem assim. Mas essa é uma ferramenta que usamos para obter e proteger o que é precioso. É uma faca de dois gumes. (...) Há outra coisa mais preciosa que se apresenta diante de qualquer homem. Trata-se de um sonho que você deve realizar para si mesmo e para mais ninguém. Alguns sonham em governar o mundo. Alguns dedicam suas vidas inteiras para aprimorar sua esgrima. Alguns sonhos são perseguidos sozinhos enquanto outros devoram os sonhos de milhares ou dezenas de milhares, como a tempestade. Os sonhos os levam para frente, os fazem sofrer. Os sonhos os mantêm vivos, os sonhos os levam à morte. Depois de serem abandonados por seus sonhos, ele continua ardendo em seus corações. Todo homem imaginou viver uma vida assim pelo menos uma vez. Ser martirizado por seu deus, seu sonho. Simplesmente seguindo os movimentos da vida por ter nascido. Eu nunca serei capaz de suportar esse tipo de vida. (...) Quanto mais batalharmos, mais homens eu vou perder. (...) Tudo o que fiz foi pensar racionalmente. Ir para a batalha dez vezes e perder centenas dos meus homens ou seduzir um velho rico. O que é menos arriscado? (...) Não me sinto responsável pelos colegas que morreram por causa de minhas ordens. Isso porque eles escolheram lutar essas batalhas sozinhos. Isso vale para mim também. Mas se há algo que eu posso fazer por eles, pelos que morreram, seria ganhar. Devo continuar ganhando para realizar meu sonho, ao qual arriscaram a vida para realizar. Só posso realizar o meu sonho estando em cima dos seus cadáveres. É um sonho manchado de sangue. Não me arrependo nem me culpo por isso. Mas depois de arriscar centenas e milhares de vidas, não espero ficar limpo. Meu sonho não é algo que eu possa realizar tão facilmente.

Griffith


Griffith sonha em realizar algo do qual todos desistiram há muito tempo. Mas pelo fato de o sonho que ele escolheu ser tão puro e tremendamente grande, ele tem que carregar um fardo muito pesado. Na minha opinião, os que estão tentando alcançar grandes coisas também estão suportando algo maior do que outros. Não que Griffith seja forte. Ele não tem outra escolha a não ser ser forte.

Cascka


Não é só você. O Griffith também. Vocês têm algo pelo qual estão dispostos a arriscar a vida. Acho isso mais impressionante. Comparado a isso, quaisquer cem homens, ou até mesmo mil homens com os quais me deparo sem pensar na batalha não são nada. (...) Gaston disse que a vida no exército não é para ele. Quando esta batalha acabar, ele planeja usar o dinheiro que economizou para se tornar alfaiate. (...) Nicole pediu uma mulher em casamento, e ela riu da ideia de se casar com um mero cabo. Ele quer ser promovido e pedir novamente o quanto antes. Mesmo que isso signifique colocar-se em perigo no campo de batalha. Apesar de todos acharem que ele não vai conseguir. Observando daqui de cima, cada uma dessas luzes parece conter os sonhos ou sentimentos de alguém. Como se tivessem sobrevivido.

Guts


Uma fogueira de sonhos? (...) Cada pessoa carrega uma pequena chama que trouxe enquanto está aqui. 

Cascka

E para impedir que essa pequena chama seja extinta, eles a jogam no maior fogo de todos. O inferno em chamas, que é o Griffith. Dito isso, minha chama não está aqui. (...) Enquanto eu tiver isto [espada], estou confiante de que sobrevivo a qualquer batalha. (...) Mesmo antes de entrar no Bando do Falcão, não importando o quão terrível fosse a batalha, eu sempre sobrevivi sozinho. Desta vez também. Mas mesmo assim, não é nada significativo. Sempre estive em batalha. O chefe mercenário que me criou se recusou a me ensinar qualquer coisa além de manusear uma espada. Esta espada é tudo que eu tenho. Claro, não quero morrer. Mas é só por causa deste desejo de sobreviver, porque conheci apenas a espada, que venho lutando todo esse tempo. Talvez seja melhor dizer que deixei as razões mais importantes para lutar para os outros.

Guts

Berserk [Eps. 10, 12 e 14]

31 de maio de 2023

CLASSE PRIVILEGIADA

 

No campo de batalha, a vida de um soldado vale menos do que uma moeda de prata. A vida da maioria das pessoas está à mercê de alguns nobres e da realeza. Disto isto, até mesmo o próprio rei não está vivendo a vida como quer. Todos apenas se deixam dominar por uma enorme força chamada destino. E eles eventualmente desaparecem. Usam a vida antes de descobrirem quem são. Neste mundo, há humanos que nascem para mudar o mundo, independentemente de sua classe ou status social. Essa é a verdadeira classe privilegiada. Eles têm a autoridade de Deus. Quero saber que papel desempenho neste mundo. A que estou destinado?

Griffith

Berserk (Ep. 04)

22 de maio de 2023

O ESTADO DA ARTE

Terence Fletcher é um personagem realmente controverso, mas confesso nutrir uma certa identificação com a sua visão. De alguma forma, às vezes, experimento a frustração que permeia o tom do diálogo que fiz questão de transcrever aqui. Whiplash é um filme simples sobre excelência. Mostra o grande papel que um mentor pode ter na saga de alguém em busca de alcançar algo significativo. Embora faça uma diferença absoluta quando acreditam em você, boa parte do processo é solitário. Ao contrário de Charlie Parker, a metamorfose que ocorre nos bastidores é cheia de altos e baixos, faz parte do esforço. Eventualmente tal hora uma rasteira acaba te acertando, é inevitável, uma vez que também fazemos nossas apostas. Já noutras, acertamos, é aquela dinâmica dos investimentos, na média, o que importa é acertar mais do que errar. Mas, como diria Sartre: “⁠Não importa o que a vida fez de você, mas o que você faz com o que a vida fez de você.”

Por fim, o diálogo a seguir nos aponta o que separa os profissionais dos amadores:


- Na verdade, acho que as pessoas não entenderam o que eu estava fazendo na Shaffer. Eu não estava lá para reger. Qualquer imbecil pode agitar os braços para marcar o andamento. Eu estava lá para incentivar vocês além do que se esperava. Creio que isso é uma absoluta necessidade. Ou privaremos o mundo do próximo Louis Armstrong. Do próximo Charlie Parker. Já contei como Charlie Parker se tornou Charlie Parker, não é?

- Jo Jones atirou um prato nele.

- Exatamente. Parker era um garoto bom no sax. Levantou para tocar numa sessão animal e errou feio. E o Jones quase o decapitou por isso. Ele saiu do palco sob risos e chorou até dormir naquela noite. Mas, no dia seguinte, o que fez? Ele praticou e praticou, com um único objetivo em mente: jamais ser motivo de riso de novo. Um ano depois, ele volta a Reno. Sobe naquele palco e toca o melhor solo que o mundo já ouviu. Então, imagine se Jones só tivesse dito: "Ora, tudo bem, Charlie. Mandou bem. Bom trabalho." E o Charlie pensasse: "Caramba. Eu mandei bem mesmo." Fim da história. Nada do Bird. Isso, para mim, é uma tragédia absoluta. Mas é isso que o mundo quer agora. E as pessoas se perguntam por que o jazz está morrendo. Eu lhe digo, cara... e todo disco de "jazz" Starbucks confirma o que eu digo. Não há duas palavras mais danosas na nossa língua do que "bom trabalho".

- Mas há um limite? Talvez você vá longe demais e desmotive o próximo Charlie Parker de se tornar Charlie Parker?

- Não, cara. Porque o próximo Charlie Parker jamais seria desmotivado.


Whiplash: Em Busca da Perfeição

7 de fevereiro de 2023

O VÁCUO DINÂMICO DO MUNDO

SE TE queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente…
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém…
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros….

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada…
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a familia a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas…
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além....
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo…

Fernando Pessoa (Ficções do Interlúdio; págs: 328, 329 e 330)