No outono de 2008, no entanto, a "crise das hipotecas subprime", (...) levou ao desmantelamento de todos os grandes bancos de investimento de Wall Street, com mudanças de estatuto, fusões forçadas ou falências. O dia em que o banco de investimentos Lehman Brothers desabou - em 15 de setembro de 2008 - foi um momento decisivo. Os mercados globais de crédito congelaram, assim como a maioria dos empréstimos no mundo. (...) Até o outono de 2008, tremores quase fatais já haviam se espalhado para o exterior, dos bancos aos principais credores da dívida hipotecária. As instituições de crédito Fannie Mae e Freddie Mac, licenciadas pelo governo dos Estados Unidos, tiveram de ser nacionalizadas. Seus acionistas foram destruídos, mas os portadores de títulos, incluindo o Banco Central chinês, mantiveram-se protegidos. Investidores incautos em todo o mundo, como fundos de pensão, pequenos bancos regionais europeus e governos municipais da Noruega à Florida, que haviam sido atraídos para investir em carteiras de hipoteca com "muita garantia de retorno", terminaram segurando pedaços de papel sem valor e incapazes de cumprir suas obrigações ou pagar seus empregados. (...) Os mercados de ações se desintegraram na medida em que especialmente as ações de bancos perderam quase todo o seu valor; fundos de pensão racharam sob a tensão; orçamentos municipais encolheram; e espalhou-se o pânico em todo o sistema financeiro.
Tornou-se cada vez mais claro que só um maciço plano de socorro do governo poderia restaurar a confiança no sistema financeiro. A Federal Reserve reduziu as taxas de juro a quase zero. Pouco depois da falência do Lehman, alguns funcionários e banqueiros do Tesouro, incluindo o secretário do Tesouro, que era um ex-presidente da Goldman Sachs e atual diretor executivo da Goldman, surgiram de uma sala de conferência com um documento de três páginas exigindo 700 bilhões de dólares para socorrer o sistema bancário, prenunciando um Armageddon nos mercados. (...) Algumas semanas depois, (...) o Congresso e, em seguida, o presidente George Bush cederam e o dinheiro foi enviado, sem qualquer controle, para todas as instituições financeiras consideradas "grandes demais para falir". (...) Na primavera de 2009, o Fundo Monetário Internacional estimava que mais de 50 trilhões de dólares em valores de ativos (quase o mesmo valor da produção total de um ano de bens e serviços no mundo) haviam sido destruídos. A Federal Reserve estimou em 11 trilhões de dólares a perda de valores de ativos das famílias dos EUA apenas em 2008. Naquele período, o Banco Mundial previa o primeiro ano de crescimento negativo da economia mundial desde 1945. (...).
As pessoas por trás do financiamento da catástrofe das hipotecas
inicialmente pareceram não se abalar. Em janeiro de 2008, os bônus em
Wall Street somaram 32 bilhões de dólares, apenas uma fração menor do
que o total em 2007. Esta foi uma recompensa notável pela destruição do
sistema financeiro mundial. As perdas dos que estão na base da pirâmide
social quase se igualaram aos extraordinários ganhos dos financistas na
parte superior. (...) Os principais gestores de fundos de cobertura em Nova York tiveram
remunerações pessoais de 250 milhões de dólares cada em 2005, enquanto
em 2006 o gestor mais bem-sucedido fez 1,7 bilhão de dólares e, em 2007,
que foi um ano desastroso nas finanças globais, cinco deles (incluindo
George Soros) ganharam 3 bilhões de dólares cada.
David Harvey (O Enigma do Capital; págs: 10, 12, 13 e 44)
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