Se alguém nos pedir para identificar a causa de o fósforo acender, destacamos o ato de riscá-lo, não a presença de oxigênio, a secura do fósforo ou a presença de quatro paredes e um teto. Pelo mesmo motivo não consideramos o casamento a causa da viuvez, ou roubar jóias a causa da polícia as descobrir, embora nos dois casos o acontecimento posterior não pudesse ter acontecido sem o anterior. (...) As pessoas distinguem apenas uma das condições necessárias para um acontecimento como sua causa e as outras como meras possibilitadoras ou contribuidoras, embora todas sejam igualmente necessárias. A diferença não está na cadeia de acontecimentos físicos nem nas leis que eles seguem, mas numa comparação implícita com determinadas situações outras (...) que mantemos guardadas em nossa cabeça como alternativas razoáveis ao status quo. Como o oxigênio está sempre por aqui, não pensamos em sua presença como uma causa da ignição do fósforo. Mas, como passamos mais tempo sem riscar fósforos que riscando, e achamos que cabe a nós decidir a qualquer momento se o riscamos ou não, atribuídos a causa ao ato de riscar. Mude-se a comparação e se mudará a causa. (...) Um problema semelhante com a teoria contrafactual é que a causação é transitiva: se A causa B, e B causa C, então A causa C. Se fumar causa câncer, e câncer causa a morte, então fumar causa a morte. Mas condições necessárias (as que estão por trás das inferências contrafactuais) não são transitivas. Soa razoável dizer que, se Kennedy não tivesse sido presidente, ele não teria sido morto. Também soa razoável dizer que, se Kennedy não tivesse sido assassinado, ele teria sido reeleito. Mas é bem pouco razoável dizer que, se Kennedy não tivesse sido presidente, ele teria sido reeleito!
Um outro problema da teoria é a chamada preempção. Dois atiradores conspiram para assassinar um ditador num ato público. Eles combinam que o primeiro a conseguir uma boa mira vai atirar, enquanto o outro vai se misturar à multidão. O Assassino 1 derruba o ditador com seu primeiro tiro, e obviamente seu ato é a causa da morte do ditador. Mas não é verdade que, se o Assassino 1 não tivesse atirado, o ditador não teria morrido, porque nesse caso o Assassino 2 teria concluído a missão.
Steven Pinker (Do Que é Feito o Pensamento; págs: 248 e 249)
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