30 de abril de 2020

"BOM SENSO"

Não temos tempo nem recursos para investigar cientificamente cada decisão que tomamos. Assim, usamos nosso “bom senso” e nossos “instintos” para seguir em frente. Essa é a visão de mundo típica. (...) A maioria de nós acredita ter bom senso. E, mesmo assim, discordamos uns dos outros sobre o que ele representa. Isso é tudo o que você precisa saber a respeito. A ilusão é que você tem essa coisa chamada bom senso e muitas outras pessoas, não. O filtro de persuasão dá um passo adiante e diz que ninguém tem bom senso. De acordo com o filtro, às vezes fazemos boas escolhas e às vezes, não. Quando as coisas dão errado, culpamos o ambiente ou o azar ou imaginamos que foi um raro erro do bom senso. Quando as coisas dão certo, acreditamos ser porque temos bom senso e ele nos serviu bem. Em ambos os casos, isso é apenas racionalização após o fato.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; pág: 125)

O ABSURDO NO TWITTER


Até onde posso dizer, as pistas mais frequentes de dissonância cognitiva no Twitter assumem esta forma:

[palavra ou acrônimo zombeteiro] + [absoluto absurdo]
ou
[palavra ou acrônimo zombeteiro] + [insulto pessoal mais agressivo do que a situação parece suscitar]


As palavras e abreviações zombeteiras mais comuns no Twitter são:
Uau
OMG
Então...
Em outras palavras…
HAHAHAHA! (a risada exagerada)
Cara


A lista não é exaustiva, mas acho que você percebeu o padrão. O início do tuíte geralmente contém desdém, zombaria ou sarcasmo. A segunda parte inclui um insulto que parece agressivo demais para a situação ou a distorção de sua opinião em um absoluto absurdo.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 69 e 70)

24 de abril de 2020

A TEMPERATURA DA OPINIÃO

Onde a opinião é móvel, agitada, onde passa de um extremo a outro, as conversações são frequentes, ousadas, emancipadas. Onde a opinião é fraca, é porque se conversa sem animação; onde ela é forte, é porque se discute muito; onde é violenta, é porque há paixão em discutir; onde é exclusiva, exigente, tirânica, é porque os participantes estão às voltas com alguma obsessão coletiva; onde é liberal, é porque os assuntos de conversa são variados, livres, alimentados inteiramente por idéias gerais.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; pág: 119)

O PRÓPRIO JORNAL

Não há uma seita que não queira ter seu jornal próprio para cercar-se de um público que se irradie bem além dela, espécie de atmosfera ambiental em que será banhada, de consciência coletiva na qual será iluminada. A imprensa mobiliza tudo o que ela toca e vivifica, e não há aparentemente igreja tão imutável que, a partir do momento em que se submete à moda da publicação sem interrupção, não dê sinais visíveis de mutações interiores impossíveis de dissimular. É a divisão social por grupos de idéias teóricas, de aspirações ideais, de sentimentos, que recebe da imprensa uma acentuação e uma preponderância visíveis. Os interesses só se exprimem por meio dela - e nisso está seu prestígio.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 23, 24 e 25)

23 de abril de 2020

CAIXA

A atual revolução tecnológica e científica implica não que indivíduos autênticos e realidades autênticas podem ser manipuladas por algoritmos e câmeras de televisão, e sim que a autenticidade é um mito. As pessoas têm medo de ficar presas numa armadilha dentro de uma caixa, mas não se dão conta de que já estão presas dentro de uma caixa - seu cérebro - que está trancada dentro de uma caixa maior - a sociedade humana com suas incontáveis ficções. Quando você escapa da matrix, a única coisa que descobre é uma matrix maior. Quando camponeses e trabalhadores se revoltaram contra o tsar em 1917, eles acabaram com Stálin; e, quando você começa a explorar as múltiplas maneiras com que o mundo o manipula, no fim você constata que sua identidade mais íntima é uma ilusão completa criada por redes neurais. (...) Tudo o que você experimentar na vida está dentro de seu próprio corpo e sua própria mente.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; pág: 307)

13 de abril de 2020

GENTILEZA GERA GENTILEZA


- Não tergiverses, meu caro. Trata de adoçar teu irmão, que logo se renderá. Não vês como ele é nobre e generoso? As almas tacanhas compram-se com presentes. As almas generosas conquistam-se com mostras de amizade.

Querécrates: E se, apesar disso, ele não se tornar melhor para comigo?

- Que arriscas com isso? - retrucou Sócrates. - No mínimo mostras que és um espírito nobre e bom irmão, ao passo que ele é vil e indigno de afeto. Mas não creio que nada disso aconteça. Logo que se sinta provocado a esta luta, ele se esforçará por vencer-te em generosidade.

Sócrates (Xenofonte - Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates; pág: 136)

ALEGORIA DA CAVERNA

A alegoria da caverna dramatiza a ascese do conhecimento. (...) Descreve um prisioneiro que contempla, no fundo de uma caverna, os reflexos de simulacros que - sem que ele possa ver - são transportados à frente de um fogo artificial. Como sempre viu essas projeções de artefatos, toma-os por realidade e permanece iludido. A situação desmonta-se e inverte-se desde que o prisioneiro se liberta: reconhece o engano em que permanecera, descobre a “encenação” que até então o enganara e, depois de galgar a rampa que conduz à saída da caverna, pode lá fora começar a contemplar a verdadeira realidade. Aos poucos, ele, que fora habituado à sombra, vai podendo olhar o mundo real: primeiro através de reflexos - como o do céu estrelado refletido na superfície das águas tranquilas -, até finalmente ter condições para olhar diretamente o Sol, fonte de toda luz e de toda realidade. (...) Aquele que se liberta das ilusões e se eleva à visão da realidade é o que pode e deve governar para libertar os outros prisioneiros das sombras.

Platão (Vida e Obra; pág: 26)

VIRTUDE E RIQUEZA

É a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada.

Sócrates (Vida e Obra; pág: 7)


Não deveis vos preocupar nem com o corpo, nem com as riquezas, nem com qualquer outra coisa antes e mais que com a alma, a fim de que ela se torne excelente e muito virtuosa, e de que das riquezas não se origina a virtude, mas da virtude se originam as riquezas e todas as outras coisas que são venturas para os homens, tanto para os cidadãos individualmente como para o Estado.

Platão (Apologia de Sócrates; pág: 82)
 

9 de abril de 2020

ESPONTÂNEA, REFLEXA E INCONSCIENTE

O aprendizado dependia da convivência com o mestre, de infinita paciência e repetição, de tal forma que se internalizasse a técnica, a ponto de ela se tornar - como devia ser - espontânea, reflexa e inconsciente. A necessidade do pensamento consciente, da deliberação, da escolha, só poderia significar incerteza, indecisão e atraso, perda de espontaneidade e falta de mestria - um despreparo revelador da insuficiente integração de sua pessoa e de sua arte com a espontaneidade e a urgência da realidade, sempre diversa e volátil. No fundo, para Musashi, a chave da vitória se encontrava antes de mais nada no espírito, ainda que, obviamente, o corpo devesse estar “mil e dez mil vezes” treinado para adequadamente executar seus propósitos.

Musashi (O Livro dos Cinco Anéis; págs: 19 e 20)

O AMOR PELO JOGO

Eventualmente todos perdem, ficam velhos ou mudam. E os pequenos triunfos são importantes - uma grande jogada, um momento de verdadeira competitividade esportiva - mesmo que não se ganhe o jogo. Por estranho que pareça, conseguir aceitar a mudança, ou a derrota, com equanimidade oferece a liberdade necessária para se entrar na quadra o oferecer o nosso melhor naquela partida. O budismo nos ensina que só quando aceitamos a morte é que descobrimos a vida. Da mesma maneira, só reconhecendo a possibilidade da derrota é que podemos experimentar completamente a alegria da competição. Nossa cultura nos fez acreditar que aceitar a derrota é a mesma coisa que se dispor a perder. Mas não é possível vencer o tempo todo; a obsessão com a vitória coloca uma pressão desnecessária, restringe o corpo e o espírito e, em última análise, rouba nossa liberdade de fazer o melhor.

Quando aprendi a mudar o meu foco - dois passos para a frente, um para trás - tirando-o do perder e ganhar, e colocando-o no meu amor pelo jogo, a dor da derrota começou a diminuir.

Phil Jackson e Hugh Delehanty (Cestas Sagradas; págs: 188 e 189)

MEDITAÇÃO

A perspectiva básica ensinada por Mumford é a seguinte: Sente-se em uma cadeira com a coluna reta, e os olhos voltados para baixo. Focalize sua atenção na respiração, à medida que inspira e expira. Quando a mente se distrair (o que vai acontecer repetidamente), observe a origem da distração (um barulho, um pensamento, uma emoção, uma sensação corporal) e gentilmente retorne sua atenção para a respiração. O processo de observar os pensamentos e as sensações, e a seguir retornar a atenção para a respiração, é repetido por todo o tempo da meditação. A prática pode parecer tediosa, mas é curioso observar como qualquer experiência, inclusive o tédio, torna-se interessante quando é o objeto de investigação atenta e contínua. Aos poucos, por meio da prática regular, a pessoa começa a distinguir os eventos sensoriais das suas reações a eles. Mais tarde, a pessoa começa a experimentar um ponto de quietude interno. À medida que a quietude se torna mais estável, a pessoa vai se identificando menos com pensamentos e sentimentos passageiros, tais como medo, raiva ou dor, e começa a experimentar um estado de harmonia interior, que não muda apesar das circunstâncias flutuarem.

Phil Jackson e Hugh Delehanty (Cestas Sagradas; págs: 115 e 116)

5 de abril de 2020

A HUMILDADE COMO COROLÁRIO DA SABEDORIA

Este homem aparentava ser sábio, no entender de muitas pessoas e especialmente de si mesmo, mas talvez não o fosse de verdade. Procurei fazê-lo compreender que embora se julgasse sábio, não o era. Em vista disso, a partir daquele momento, não só ele passou a me odiar, como também muitos dos que se encontravam presentes. Afastei-me dali e cheguei à conclusão de que era mais sábio que aquele homem, neste sentido, que nós, eu e ele, podíamos não saber nada de bom, nem de belo, mas aquele acreditava saber e não sabia, enquanto eu, ao contrário, como não sabia, também não julgava saber, e tive a impressão de que, ao menos numa pequena coisa, fosse mais sábio que ele, ou seja, porque não sei, nem acredito sabê-lo.

Platão (Apologia de Sócrates; pág: 71)

TEMOR

Não acredito que onde está o temor está também a reverência. Porque creio que aqueles que temem as doenças, a pobreza e muitas outras coisas, sentem, de fato, temor, porém não respeitam aquilo que temem. Mas onde está a reverência também está o temor. Ou existe alguém que, envergonhando-se, por causa de algo, de si mesmo, não sinta ao mesmo tempo medo e temor por sua má reputação? Melhor afirmar que “ali onde está a reverência, também está o temor”, visto que nem sempre se respeita quando se teme.

Platão (Eutífron; pág: 50)

3 de abril de 2020

A MANOBRA DO TERRENO ELEVADO

A manobra do terreno elevado consiste em retirar a conversa do âmbito da discussão infantil e fazer com que pareça que você - o adulto na sala - está explicando às crianças como as coisas funcionam.

Exemplo:

Analista 1: Seu lado não se empenhou em acabar com a violência nas ruas.
Analista 2: Concordo. Felizmente, aprendemos muito desde então. Várias cidades tentaram diferentes abordagens e algumas delas funcionaram melhor que outras. Precisamos encontrar as melhores e levá-las a outras cidades.

Resultado: O analista 1 é mostrado como criança que nada tem a oferecer senão suas queixas. O analista 2 demonstra um entendimento adulto de como resolver problemas. (...) Se aceitá-la e se mostrar pronto para aprender e melhorar, você se moverá para o terreno dos adultos e deixará as crianças para trás.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 120 e 121)

MENTIRA?

Se você acusar uma pessoa inocente de um crime, o acusado costuma responder imediatamente refutando a acusação e perguntando o que há de errado com você por ter perguntado. Mas a primeira reação de uma pessoa culpada, normalmente, é perguntar se você tem alguma evidência. Eles têm que saber o que você sabe, assim podem continuar mentindo ou confessar. Mentirosos confessam apenas se a evidência contra eles for inquestionável.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; pág: 93)

1 de abril de 2020

GANÂNCIA


"A questão é que, senhoras e senhores, ganância, por falta de palavra melhor, é bom. Ganância é certo. Ganância dá certo. Ganância esclarece, corta no meio e captura a essência do espírito evolucionário. Ganância, de todas as formas: pela vida, pelo dinheiro, pelo amor, pelo saber, tem marcado a evolução ascendente da humanidade. E ganância, anotem o que digo, não apenas salvará Teldar Paper, mas aquela corporação que funciona mal e que se chama EUA."

Gordon Gekko (Wall Street)