27 de agosto de 2022

PARTE DO TECIDO DA VIDA

Os fabricantes de produtos de largo consumo, que sempre foram o fundamento da publicidade, estão gastando hoje duas vezes mais em acordos de descontos do que em publicidade. Eles estão obtendo volume através do desconto de preços, em vez de usar a publicidade para construir marcas fortes. Qualquer maldito idiota pode decidir um desconto de preço, mas é preciso inteligência e perseverança para criar uma marca. (...) Ouçam um discurso que fiz em Chicago, em 1955:

Chegou a hora de soar um alarme para alertar os fabricantes do que acontecerá com suas marcas se eles gastarem tanto em descontos que não sobre dinheiro para que a publicidade construa as suas marcas. Descontos não constroem o tipo de imagem indestrutível, a única coisa que pode tornar a sua marca parte do tecido da vida.

Andrew Ehrenberg, da London Business School, (...) relata que uma oferta de preço reduzido pode levar as pessoas a experimentarem uma marca, mas elas voltam para suas marcas habituais como se nada tivesse acontecido. Por que tantos gerentes de produto são viciados em campanhas de descontos de preços? Porque as pessoas que as empregam estão interessadas apenas nos lucros do próximo trimestre. Por quê? Porque elas estão mais preocupadas com o seu bônus de fim de ano do que com o futuro da sua companhia. (...) Esses simplórios do desconto de preço também têm o vício de cortar o preço dos serviços da sua agência. Clientes que pechincham sobre a remuneração de sua agência estão olhando pelo lado errado do telescópio. Em vez de tentar cortar uns míseros centavos dos 15% das agências, eles deveriam concentrar-se em conseguir melhores resultados de vendas dos 85% que gastam em tempo e em espaço. É lá que está a alavancagem. Nenhum anunciante jamais ficou rico pagando insuficientemente a sua agência. Pague miséria e você receberá miséria.

David Ogilvy (Confissões de um Publicitário; págs: 17, 18 e 19)

2 de agosto de 2022

AS INJÚRIAS DEVEM, POIS, FAZER-SE TODAS DE UMA SÓ VEZ

Ao deitar a mão a um estado, deve o conquistador refletir nas ofensas que precisa de fazer, e fazê-las todas de uma vez para não ter de renová-las todos os dias e poder, não as renovando, tranquilizar os cidadãos, bem como, beneficiando-os, ganhá-los para a sua causa. Quem por timidez ou maus conselhos procede de maneira diferente, parece estar sempre de espada em punho e nunca poderá ter confiança nos seus súditos, já que estes, a seu turno, pela força mesmas das contínuas e sempre recentes injúrias, igualmente nenhuma poderão ter nele. As injúrias devem, pois, fazer-se todas de uma só vez, para que, durando menos, ofendam menos e os benefícios aos poucos, para durarem mais. Cumpre, do mesmo modo, a um príncipe manter com seus súditos relações tais, que nenhum acontecimento bom ou mau faça variá-las. Se assim não for, quando os tempos adversos trouxerem a necessidade imprevista, ele não terá mais tempo para praticar o mal, e o bem que fizer de nada servirá, porque será considerado como uma imposição das circunstâncias e ninguém lho agradecerá.

Nicolau Maquiavel (O Príncipe; págs: 94 e 95)