A sua vida e a minha não tem muitas instâncias. A maioria dos nossos prosaicos problemas diários precisam ser resolvidos em primeira instância mesmo. Ou quando o dinheiro acaba no banco, seu gerente paga umas três instâncias das suas contas antes de informar que você está quebrado? Doenças não dão direito a recurso. Chefe não espera segunda instância para demitir. Gente honesta precisa decidir quase tudo em primeira instância. Mas por alguma razão indizível, canalhas tem direito a inúmeras instâncias para se defender. A Justiça não é cega. É míope. Por isso o STF compreendeu que é assim mesmo que tem que ser. Enquanto tudo que a nação pede, há anos, é que se faça justiça, que se reduza a violência, que se acabe com a corrupção, a Corte Suprema decidiu que são necessárias mais instâncias para se comprovar o que duas cortes já comprovaram. Ao lixo com o julgamento de primeira e segunda instância, pagos com nosso dinheiro. Não valeu. Começa de novo, porque o imposto da gente de bem está aí pra isso mesmo. Em nenhum outro canto da nossa vida existe tanta oportunidade. No Enem não tem segunda instância. No hospital não tem segunda instância. Dívida não tem segunda instância. Falência não tem segunda instância. Assassinato tem. Bandidagem tem. Assalto a banco tem. Corrupção tem. Enquanto você e eu temos que correr para acertar na primeira, para ganhar na primeira, para pagar na primeira, para salvar na primeira, o STF - que deveria nos defender - criou uma casta seleta, formada pela escória do país. E deu a eles chance, deu tempo, deu prazo, deu esperanças. As mesmas chances que faltam a 13 milhões de desempregados, o mesmo tempo que não tem quem precisa trabalhar e estudar, o mesmo prazo que não pode contar quem espera um transplante no SUS. Corruptos, canalhas, fascínoras, bandidos voltam às ruas, livres, esperando por mais instâncias de injustiça. Enquanto a vida de quem é honesto está transitada em julgado.
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