18 de setembro de 2019

DEMOCRACIA EMOCIONAL

"A democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si." (Aristóteles)

Referendos e eleições sempre dizem respeito a sentimentos humanos, não à racionalidade humana. Se a democracia fosse questão de tomadas de decisão racionais, não haveria nenhum motivo para dar a todas as pessoas direitos iguais em seus votos - ou talvez nem sequer o direito de votar. Existe ampla evidência de que algumas pessoas são muito mais informadas e racionais que outras, principalmente, quando se trata de questões econômicas e políticas específicas.

É o mesmo que convocar um plebiscito nacional para decidir se a álgebra de Einstein estava correta, ou deixar os passageiros votarem para decidir em que pista o piloto deve pousar.(Richard Dawkins)

A democracia supõe que sentimentos humanos refletem um misterioso e profundo “livre-arbítrio”, que este “livre-arbítrio” é a fonte definitiva da autoridade e que, apesar de algumas pessoas serem mais inteligentes do que outras, todos os humanos são igualmente livres. Assim como Einstein e Dawkins, uma trabalhadora doméstica sem instrução também tem livre-arbítrio, e por isso no dia de eleições seus sentimentos - representados por seu voto - contam tanto quanto os de qualquer outra pessoa. (...) Essa lealdade ao próprio coração pode acabar sendo o calcanhar de aquiles da democracia liberal. Pois se alguém (seja em Pequim ou em San Francisco) adquirir capacidade tecnológica para hackear e manipular o coração humano, a política democrática vai se tornar um espetáculo de fantoches emocional.

Yuval Noah Harari (21 Lições para o Século 21; págs: 70, 71 e 72)
 

Meu voto não acrescentava nada à qualidade do resultado. Até onde posso dizer, ninguém adiciona inteligência ao resultado de uma eleição, mas a maioria dos eleitores acredita que sim. E essa ilusão é necessária para dar suporte ao governo. Ela dá aos eleitores um senso de poder e adesão. Isso cria estabilidade nacional. A ilusão da democracia é provavelmente uma das mais benéficas alucinações que a humanidade já concebeu. Se você acredita que a democracia funciona e age como se ela funcionasse, ela de fato funciona. Acho que a democracia é mais uma condição mental que um sistema político.

Todos sabemos que a vasta maioria de nossos colegas cidadãos é desinformada e simplista demais para tomar boas decisões eleitorais. E, mesmo assim, há uma aceitação disseminada do sistema de eleição pela maioria. Mas, se aceitássemos as limitações de nossas próprias habilidades de previsão, não votaríamos, não sentiríamos muita lealdade em relação a nosso país e todo o sistema entraria em colapso. Claramente, não posso prever quem fará um bom trabalho como presidente. Ninguém pode. Mas a maioria de nós acha que sim.

Scott Adams (Ganhar de Lavada; págs: 245, 246 e 247)

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