4 de outubro de 2019

CONVERSAÇÃO


Gidding, em seus Princípios de sociologia, faz uma referência à conversação, e uma referência importante. Segundo ele, quando dois homens se encontram, a conversação que mantêm é apenas um complemento de seus olhares recíprocos, através dos quais se exploram e buscam saber se pertencem a mesma espécie social, ao mesmo grupo social. “Adoramos”, diz ele, “a ilusão que nos faz crer que conversamos porque nos preocupamos com as coisas de que falamos, do mesmo modo que adoramos esta ilusão, a mais doce de todas: a crença na arte pela arte. A verdade é que toda expressão, pelo homem comum ou pelo artista, e toda comunicação, desde a conversação acidental da entrada em relações até as profundas intimidades de um amor verdadeiro, tem sua origem na paixão elementar de conhecer-se e fazer-se conhecer mutuamente, de definir a consciência de espécie.” (...) Mas é certo que as conversações ulteriores que mantêm entre si, depois de se conhecerem mutuamente, têm um caráter bem diferente. Elas tendem a associá-los um ao outro, ou a fortalecer sua associação se já pertencem à mesma sociedade. Tendem, por conseguinte, a fazer surgir e a acentuar, a ampliar e a aprofundar a consciência de espécie, não simplesmente a defini-la. Não se trata de pôr a nu seus limites, mas de fazê-los constantemente recuar.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 114 e 115)

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