Josan González
As coisas que escrevemos, compartilhamos e curtimos no Facebook se relacionam com nosso comportamento, nossas opiniões e nossa personalidade. (...) Michal descobriu que seriam necessários de 40 a 100 dimensões para nos classificar com precisão. (...) Enfatiza que os computadores descobrem mais relações sutis do que os humanos. “É fácil concluir que alguém que frequenta boates gays e compra revistas gays provavelmente é gay. Mas computadores podem tirar essa conclusões de sinais não tão evidentes para nós”, disse-me ele. De fato, somente 5% dos usuários rotulados como gays por esse algoritmo curtiram uma página explicitamente gay no Facebook. Foi a combinação de várias curtidas diferentes, variando de Britney Spears e Desperate Housewives, que permitiu ao algoritmo determinar a orientação sexual do usuário. (...). Gostamos de nos imaginar como sendo multidimensionais. Nós nos vemos como indivíduos complicados, com muitos aspectos diferentes de personalidade. Dizemos a nós mesmos que somos únicos, moldados pelos milhões de eventos específicos que ocorrem durante nossa vida. Mas a ACP pode reduzir esses milhões de dimensões de complexidade a um número muito menor de dimensões que podem ser usadas para nos colocar em caixas ou, usando uma metáfora visual mais apropriada, para nos representar com alguns símbolos diferentes. (...).
Foi por meio dessa missão de nos enxergar como um aglomerado de símbolos que chegamos à lista de traços de personalidades que os psicólogos chamam de Big Five, ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores. (...) Todos conhecemos pessoas que são amigáveis e comunicativas, que preferem estar entre outras pessoas e que gostam de sair. Nós as chamamos de “extrovertidas”. Também conhecemos pessoas que gostam de ler e programar computadores, que apreciam ficar sozinhas e que falam menos quando estão em grupos. Nós as chamamos de “introvertidas”. Estas não são apenas noções frívolas. Elas são maneiras corretas e úteis de descrever pessoas. (...) Os psicólogos chegam, na maioria dos casos, sempre nas mesmas componentes da personalidade, as Big Five: abertura a novas experiências, conscienciosidade, extroversão, amabilidade (ou simpatia) e neuroticismo (ou instabilidade emocional). Esses cinco traços não são escolhas arbitrárias, e sim medidas robustas e reproduzíveis que resumem o que significa ser humano. (...).
Pessoas extrovertidas no Facebook gostam de dançar, de teatro e de jogar Beer Pong. Pessoas tímidas gostam de anime, de jogos de RPG e dos livros de Terry Pratchett. Pessoas neuróticas gostam de Kurt Cobain, de música emo e de dizer “algumas vezes me odeio”. Pessoas calmas gostam de paraquedismo, de futebol e de administração de empresas. Muitos estereótipos foram confirmados pelas “curtidas” das pessoas, mas várias relações inesperadas também apareceram. (...) É o acúmulo de muitas curtidas diferentes que revela nossa personalidade. (...) Estamos clicando nossa personalidade para dentro do Facebook, hora após hora, dia após dia. Carinhas felizes, dedão de cima, “curtir”, carinhas tristes e corações. Estamos dizendo ao Facebook quem somos e o que pensamos. Estamos nos revelando para uma rede social num nível de detalhes que normalmente reservamos para os amigos mais próximos. E, ao contrário de nossos amigos - que tendem a esquecer dos detalhes e são tolerantes em relação às conclusões que tiram sobre nós -, o Facebook está sistematicamente armazenando, processando e analisando nosso estado emocional. (...) Os humanos pensam sobre outras pessoas usando um número pequeno de dimensões - idade, raça, gênero e, se as conhecemos um pouco melhor, personalidade -, enquanto os algoritmos já estão processando bilhões de pontos de dados e realizando classificações em centenas de dimensões. (...) Ele está rotacionando nossa personalidade em centenas de dimensões, de modo que possa encontrar a direção mais fria e racional para nos analisar. (...).
Os métodos utilizados pelo Facebook são baseados na aleatoriedade. Rotacionar um milhão de vezes os dados de um milhão de categorias diferentes de curtidas (...) leva algum tempo. Por isso, o algoritmo do Facebook começa escolhendo um conjunto aleatório de dimensões com as quais possa nos descrever. O algoritmo avalia, então, o desempenho dessas dimensões aleatórias, permitindo que ele encontre um novo conjunto de dimensões que melhore sua descrição. Depois de apenas algumas poucas iterações, o Facebook consegue ter uma ideia bastante boa das componentes mais importantes que descrevem seus usuários. Se, por um lado, o Facebook consegue reduzir milhões de curtidas para umas poucas centenas de componentes, a visualização dessas componentes não é algo fácil para nós. Nosso cérebro, que funciona em duas ou três dimensões, e não em algumas centenas, atinge seu limite bem rapidamente. Assim, a fim de nos ajudar a entender como ele nos enxerga, o Facebook criou nomes para as categorias que seus algoritmos encontraram. Para descobrir como a empresa o caracterizou, primeiro você deve fazer o login; depois, clique no menu de opções na parte superior à direita e escolha "configurações". Em configurações, escolha "anúncios", então clique em "seus interesses" e, depois, clique em "mais", última opção à direita; finalmente, escolha "estilo de vida e cultura".
David Sumpter (Dominados Pelos Números; págs: 37, 38, 39, 40, 41, 42 e 43)
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