24 de setembro de 2019

PEDANTISMO AO FALAR

Uma coisa é cultura e outra é instrução. A pessoa instruída é a que dispõe de muitos conhecimentos, acumula dados e ganha o concurso Um, Dois, Três. Quando esse sabe-tudo, no entanto, chega perto de um grupo de amigos e, em vez de compartilhar com eles e se divertir, exige sua erudição e põe-se a enrolar o rolo idiomático, não exibe mais cultura, e sim menos. Não se comunica com os demais, não consegue se fazer entender. A culpa é sua, não dos outros. A incultura é sua. O ridículo também. Esta é a primeira erva daninha que devemos arrancar pela raiz, destruir com o veneno mais implacável: o pedantismo ao falar. Na realidade, não falam: escutam a si mesmos.

O que está por trás de tais poses e pretensões? A inflação de palavras costuma estar em relação direta com o vazio de idéias. "Já que não somos profundos" - sugere um grafite -, "ao menos sejamos obscuros!" Outras vezes, são desejos de poder. Se o outro não domina o código em que me expresso, sou eu que domino o outro. É com essa intenção que falam, para deslumbrar os ingênuos e ganhar votos fáceis daqueles que durante anos e anos se convenceram que são broncos porque não entendem o jargão dos doutos.

José Ignacio López Vigil (Manual Urgente Para Radialistas Apaixonados; págs: 63 e 64)

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