4 de outubro de 2019

OPINIÃO PÚBLICA E A IMPRENSA

Tradição, resumo condensado e acumulado do que foi a opinião dos mortos, herança de necessários e salutares preconceitos, frequentemente onerosos para os vivos. A outra é o que me permitirei chamar, com um nome coletivo e abreviativo, de razão. Entendo dessa forma os juízos pessoais, relativamente racionais, embora muitas vezes insensatos, de uma elite pensante que se isola e se retira da corrente popular a fim de represá-la ou dirigi-la. A razão de hoje tornar-se-ia como que a opinião de amanhã e a tradição de depois de amanhã.

A conversação em todos os tempos e a principal fonte atual de conversação, a imprensa, são os grandes fatores da opinião, sem contar evidentemente a tradição e a razão, que não deixam jamais de participar dela e imprimir sua marca. Os fatores da tradição, além da própria opinião, são a educação familiar, a aprendizagem profissional e o ensino escolar, no que este tem de elementar, pelo menos. A razão, em todos os cenáculos judiciários, filosóficos, científicos e mesmo eclesiástico em que se elabora, tem por fontes características a observação, a experiência e a pesquisa, ou, em todo caso, o raciocínio, a dedução baseada nos textos.

Mas há sempre duas opiniões em confronto, a propósito de cada problema que se coloca. Só que uma das duas consegue rapidamente eclipsar a outra por irradiação mais rápida e mais brilhante, ou então porque, embora menos difundida, é a mais barulhenta. Por mais que uma opinião se difunda, ela pouco manifesta se for moderada; mas, por menos difundida que seja uma opinião violenta, ela manifesta muito.

Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 60, 61, 62 e 64)

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