9 de julho de 2015

O LADO CAPETALISTA DO CAPITALISMO


CORPORAÇÃO VS DEMOCRACIA

Bruce Welling diz que para uma corporação: "uma atividade proibida não é inibida pela ameaça de uma multa enquanto os lucros previstos para essa atividade superarem o valor da multa multiplicada pela probabilidade de ser detido e condenado". Para Kernaghan, uma corporação: "tende a ser mais rentável na medida em que consegue fazer outras pessoas pagarem as contas de seu impacto na sociedade".


O modelo de corporação contido em centenas de legislações corporativas ao redor do mundo é praticamente idêntico [...] as pessoas que administram as corporações têm uma obrigação legal para com os acionistas, e essa obrigação é a de fazer dinheiro. O não cumprimento dessa obrigação pode fazer com que diretores e empregados sejam processados pelos acionistas. [A legislação] faz com que a corporação se dedique a defender seus próprios interesses (e equilibrar o interesse corporativo com o interesse dos acionistas). Não há menção à responsabilidade com o interesse público [...] Assim, a legislação corporativa considera as preocupações éticas e sociais irrelevantes ou empecilhos para a ordem fundamental da corporação.

Robert Hinkley

Joel Bakan (A Corporação; págs: 44 e 45)


"Harry Potter e o Enigma do Príncipe está entre os filmes mais caros da história. Custou nada menos que US$250 milhões. Faturou U$747,7 milhões em apenas TRÊS SEMANAS. Ou minha calculadora está MUITO errada ou o lucro foi de 299%. O filme foi compartilhado via torrent, megaupload e afins. Então qual o problema das produtoras com a internet? É que os acionistas e executivos dessas produtoras vivem como verdadeiros parasitas capitalistas. Eles veem os 299% e pensam "Mas se todos os milhões que baixaram tivessem pagado, nosso lucro chegaria a 900% ou até MIL!. São capazes de qualquer coisa para chegar a esses números sanguessugas. Até mesmo fazer congressos engolirem leis que desrespeitem a Declaração Universal de Direitos Humanos que em seu artigo XIX diz: Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras". (Jaime Neto)


Roddick [Anita] culpa a "religião da maximização dos lucros" pela falta de moral nos negócios, por forçar pessoas decentes a fazer coisas indecentes: "porque é preciso maximizar os lucros [...] tudo se justifica pela busca desse objetivo, tudo [...] Tanto usar trabalhado infantil, como explorar mão-de-obra barata ou prejudicar o meio ambiente [...] são justificáveis na maximização dos lucros. É justificável demitir 15 mil pessoas para maximizar os lucros e manter as comunidades nesse sofrimento. (...) Há pouca democracia em um sistema que se baseia nas forças do mercado e nas organizações não-governamentais para promover o comportamento socialmente responsável das corporações."

Joel Bakan (A Corporação; pág: 66)


O contraste entre o salário de um executivo e o de um operário é apenas um indicativo: na década de 1970, o presidente de uma grande empresa ganhava trinta vezes mais que o trabalhador comum. Em 2007, essa proporção havia aumentado quase trezentas vezes. E, à medida que os cidadãos comuns têm menos renda, as barganhas prometidas pelas megalojas se tornam ainda mais convidativas, e, assim, os consumidores ajudam a fortalecer justamente os empreendimentos que estão sugando suas economias. (...) No setor empresarial americano do começo do século XXI, o salário de um executivo chegava a ser quinhentas vezes maior que o salário mais baixo da empresa. Se baixarmos a escala a um fator de cinquenta, assim, se o salário mais baixo numa empresa é 20mil dólares por ano, o mais alto é 1 milhão de dólares. (...) Atualmente, 1% dos mais ricos do mundo possui tanta riqueza e coisas quanto os 57% mais pobres. (...) Em 2008, governos de todo o mundo gastaram uma quantia recorde para atualizar suas Forças Armadas - e esse valor não para de subir. Em 2008, 1,46 trilhão de dólares foram direcionados para atividades bélicas, 4% a mais que 2007 e 45% a mais que uma década atrás. Os Estados Unidos continuam a ser o país que mais investe em armamentos, seguido da China. O National Priorites Project (NPP) calcula que só os contribuintes da Califórnia pagaram cerca de 115 bilhões de dólares pelas guerras no Iraque e no Afeganistão desde 2001. Em vista disso, ouvir que não há dinheiro para implementar as mudanças necessárias ao equilíbrio do planeta provoca revolta.

Annie Leonard (A História das Coisas; págs: 13, 143, 243 e 248)

Em 2002, os gastos globais com publicidade alcançaram 446 bilhões de dólares, um aumento de quase nove vezes em relação a 1950. A China gastou 12 bilhões de dólares em 2006 com o setor, e estima-se que alcance 18 bilhões de dólares em 2011, tornando-se o terceiro maior mercado publicitário do mundo. Em 2007, os três maiores fabricantes de carros dos Estados Unidos (General Motors, Ford e Chrysler) direcionaram mais de 7,2 bilhões de dólares para anúncios. Em 2008, a Apple dispendeu 486 milhões de dólares em propaganda. (...) Segundo o relatório State of the world 2004, (...) Doze por cento da população mundial que vive na América do Norte e na Europa ocidental é responsável por 60% dos gastos pessoais do planeta, enquanto um terço que vive no sul da Ásia e na África subsaariana responde por apenas 3,2%. Em termos globais, 20% da população que reside nos países de maior renda efetua 86% dos gastos pessoas; os 20% mais pobres abocanham míseros 1,3%.

Detalhando:
- Os 20% mais ricos do planeta consomem 45% de toda a carne e peixe; os 20% mais pobres consomem 5%.
- Os 20% mais ricos consomem 58% da energia gerada no mundo; os 20% mais pobres consomem menos de 4%.
- Os 20% mais ricos são donos de 74% das linhas telefônicas; os 20% mais pobres, de 1,5%.
- Os 20% mais ricos consomem 84% do papel; os 20% mais pobres, 1,1%.
- Os 20% mais ricos são donos de 84% da frota de veículos do planeta; os 20% mais pobres, menos de 1%.

Annie Leonard (A História das Coisas; págs: 177 e 186)


Adam Smith, cuja visão do capitalismo foi sacralizado nos Estados Unidos, acreditava que motivos individuais egoístas podiam produzir bens coletivos para a humanidade, graças à intervenção da 'mão invisível'. (...) A longo prazo (...) o público como um todo nunca se beneficiou da competição destrutiva.

Tim Wu (Impérios da Comunicação; pág: 15)


PODER

Cada vez mais me parece que a formação dos discursos e a genealogia do saber devem ser analisadas a partir não dos tipos de consciência, das modalidades de percepção ou das formas de ideologia, mas das táticas e estratégias de poder. Táticas e estratégias que se desdobram através das implantações, das distribuições, dos recortes, dos controles de territórios, das organizações de domínios que poderiam constituir uma espécie de geopolítica. (...) O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os indivíduos não só circulam mas estão sempre em posição de exercer esse poder e de sofrer sua ação; nunca são o alvo inerte ou consentido do poder, são sempre centros de transmissão. Em outros termos, o poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles. (...)

Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer não você acredita que seria obedecido? (...) Pois se o poder só tivesse a função de reprimir, se agisse apenas por meio da censura, da exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de um grande super-ego, se apenas se exercesse de um modo negativo, ele seria muito frágil. Se ele é forte, é porque produz efeitos positivos a nível do desejo - como se começa a conhecer - e também a nível do saber. O poder, longe de impedir o saber, o produz. (...) O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir.

Michel Foucault (Microfísica do Poder; págs: 8, 148, 164, 165 e 183)


Não se explica inteiramente o poder quando se procura caracterizá-lo por sua função repressiva. O que lhe interessa basicamente não é expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida dos homens, controlá-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades. Objetivo ao mesmo tempo econômico e político: aumento do efeito de seu trabalho, isto é, tornar os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima; diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos de contra-poder, isto é, tornar os homens dóceis politicamente. Portanto, aumentar a utilidade econômica e diminuir os inconvenientes, os perigos políticos; aumentar a força econômica e diminuir a força política.

Roberto Machado

Michel Foucault (Microfísica do Poder; pág: 16)


Universaliza-se um dado do sistema capitalista e um instante da vida produtiva de certas economias capitalistas hegemônicas como se o Brasil, o México, a Argentina devessem participar da globalização da economia da mesma forma que os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão. Pega-se o trem no meio do caminho e não se discutem as condições anteriores e atuais das diferentes economias. Nivelam-se os patamares de deveres entre as distintas economias sem se considerarem as distâncias que separam os 'direitos' dos fortes e o seu poder de usufruí-los e a fraqueza dos débeis para exercer os seus direitos. Se a globalização implica a superação de fronteiras, a abertura sem restrições ao livre-comércio, acaba-se, então, quem não puder resistir. Não se indaga, por exemplo, se em momentos anteriores da produção capitalista nas sociedades que lideram a globalização hoje, elas eram tão radicais na abertura que consideram agora uma condição indispensável ao livre comércio. Exigem, no momento, dos outros, o que não fizeram consigo mesmas. Uma das eficácias de sua ideologia fatalista é convencer os prejudicados das economias submetidas de que a realidade é assim mesmo, de que não há nada a fazer mas seguir a ordem natural dos fatos. Pois é como algo natural ou quase natural que a ideologia neoliberal se esforça por nos fazer entender a globalização, e não como uma produção histórica. (...) Nada, o avanço da ciência e/ ou da tecnologia, pode legitimar uma 'ordem' desordeira em que só as minorias do poder esbanjam e gozam enquanto às maiorias, em dificuldades até para sobreviver, se diz que a realidade é assim mesma, que sua fome é uma fatalidade do fim do século. Não junto a minha voz à dos que, falando em paz, pedem aos oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a sua resignação. Minha voz tem outra semântica, tem outra música. Falo da resistência, da indignação, da "justa ira" dos traídos e dos enganados. Do seu direito e do seu dever de rebelar-se contra as transgressões éticas de que são vítimas cada vez mais sofridas.

Paulo Freire (Pedagogia da Autonomia; págs: 99 e 124)

6 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Que texto massa! Excelente reflexão! Me identifico com seu posicionamento, grande Diego! E a construção de uma sociedade melhor dependerá de reflexões como essa!

Elton Leite

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

A gente já quebrou muita cabeça discutindo sobre isso, e eis a minha conclusão: as corporações não vão parar, assim como a mídia não vai parar de produzir alienação, mas cabe a nós tentarmos salvar o maior número de pessoas possível das garras desses vilões do capitalismo, seja pela pintura, desenho, documentário, pela escrita, não devemos parar de lutar.
Não sei ao certo se é Cecilia Meireles, mas tem um trecho que eu li que diz "acho que o mundo ainda só não acabou por causa das orações dos cristãos", e isso vale para todos, não só com oração, mas pela prática do bem.

No mais, ótimo texto. :)
Abraço, Ana Karoline.

Diego Cosmo disse...

Tmb não sou muito otimista quanto a postura desse pessoal.. Mas aposto tmb em outras pessoas, de alguma forma tenho alguma esperança que as coisas possam mudar, com o maior numero de pessoas mudando a visão de mundo, acho q o mundo só não acabou por essas pessoas mesmas, as que se importam, se importam ao ponto de modificarem sua postura em frente ao mundo e principalmente as pessoas.

Vlw Karoline! Estamos juntos! ;)

Thaíla disse...

Romper tratados e trair os ritos! É o lema =p