A religião tem de aprender a dura lição de que campos enormes, que durante tempo pareciam jazer sob sua competência, passaram definitivamente para outras mãos. Esse é o significado profundo da "secularização", que lhe acabou sendo dolorosa no âmbito material das possessões eclesiásticas, mas que não o é menos no âmbito da cultura, onde a partir do Iluminismo deveu reconhecer a autonomia das ciências físicas e históricas, bem como da economia, da sociologia e da política. De fato, ainda hoje está aprendendo, não sem graves conflitos, a autonomia da ética e da moral. Além do mais, a história recente mostra que, cada vez que a religião transgride seus limites, acaba irremediavelmente prejudicada.
Retraduzir-se não é "vender-se" à moda nem "abdicar" do próprio ser; muito pelo contrário: significa exercer o primeiro direito e o fundamental dever de toda vida, que é conservar-se mediante a transformação no tempo e (no caso da humana) mediante a criação de nova história. O outro - agarrar-se às formas do passado - parece continuidade, mas significa mumificação; parece assegurar a vida, mas equivale a vender-se à morte. Já no-lo tinham avisado desde o começo: "Porque quem quiser salvar sua vida, a perderá; mas quem perder sua vida por mim, a encontrará" (Mt 16,25).
A Igreja não renuncia assim à sua própria identidade. Ela reconhece, em vez disso, que não lhe compete o monopólio de tudo, mas sim, de maneira mais simples e modesta, sua contribuição específica. Ela permanece sendo "mestra em humanidade" (Paulo VI), mas apenas em seu campo próprio, à medida que reconhece serem os demais também mestres no campo deles. Em nosso mundo irreversivelmente plural, se a Igreja quer, de verdade, evangelizar, precisa, por sua vez, deixar-se "evangelizar" por aqueles valores, que, ínsitos na criação, são hoje descobertos por outros meios. Ela é, pois, mestra enquanto também discípula. A isso aludem a categoria teológica da "profecia externa" e a convocação conciliar para que se escrutem os "sinais dos tempos".
Talvez sejam inevitáveis as tensões e mesmo os conflitos, mas a única teologia que, de verdade, pode servir hoje é a que, como dizia Karl Adam, se move por uma "obediência lutadora e protestante": ela não pode fazer tudo, mas, sem sua participação livre e responsável, é impossível manter a significatividade da fé no seio da enorme mudança cultural gerada pela modernidade.
Retraduzir-se não é "vender-se" à moda nem "abdicar" do próprio ser; muito pelo contrário: significa exercer o primeiro direito e o fundamental dever de toda vida, que é conservar-se mediante a transformação no tempo e (no caso da humana) mediante a criação de nova história. O outro - agarrar-se às formas do passado - parece continuidade, mas significa mumificação; parece assegurar a vida, mas equivale a vender-se à morte. Já no-lo tinham avisado desde o começo: "Porque quem quiser salvar sua vida, a perderá; mas quem perder sua vida por mim, a encontrará" (Mt 16,25).
A Igreja não renuncia assim à sua própria identidade. Ela reconhece, em vez disso, que não lhe compete o monopólio de tudo, mas sim, de maneira mais simples e modesta, sua contribuição específica. Ela permanece sendo "mestra em humanidade" (Paulo VI), mas apenas em seu campo próprio, à medida que reconhece serem os demais também mestres no campo deles. Em nosso mundo irreversivelmente plural, se a Igreja quer, de verdade, evangelizar, precisa, por sua vez, deixar-se "evangelizar" por aqueles valores, que, ínsitos na criação, são hoje descobertos por outros meios. Ela é, pois, mestra enquanto também discípula. A isso aludem a categoria teológica da "profecia externa" e a convocação conciliar para que se escrutem os "sinais dos tempos".
Talvez sejam inevitáveis as tensões e mesmo os conflitos, mas a única teologia que, de verdade, pode servir hoje é a que, como dizia Karl Adam, se move por uma "obediência lutadora e protestante": ela não pode fazer tudo, mas, sem sua participação livre e responsável, é impossível manter a significatividade da fé no seio da enorme mudança cultural gerada pela modernidade.
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