16 de março de 2016

EM BUSCA DA VERDADE

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Ainda não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
A segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade


Atinge-se a verdade - continuou Nietzsche - através da descrença e do ceticismo, e não do desejo infantil de que algo seja de certa forma! O desejo de seu paciente de estar nas mãos de Deus não é a verdade. É simplesmente um desejo infantil, e nada mais! É um desejo de não morrer. (...) Não é a verdade que é sagrada, mas a procura de nossa própria verdade! (...) Se as crenças e o comportamento humano devem ser entendidos, é preciso primeiro varrer a convenção, a mitologia e a religião. Somente então, sem "nenhuma preconcepção, qualquer que seja", pode-se ter a pretensão de examinar o sujeito humano. (...) A partir da descrença, pode-se criar um código de conduta para o homem, uma nova moralidade, um novo esclarecimento em substituição aos gerados pela superstição e pela ânsia do sobrenatural.

Irvin D. Yalom (Quando Nietzsche Chorou; págs: 90, 91, 137 e 176)

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