A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Ainda não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
A segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Ainda não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
A segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
Atinge-se a verdade - continuou Nietzsche - através da descrença e do ceticismo, e não do desejo infantil de que algo seja de certa forma! O desejo de seu paciente de estar nas mãos de Deus não é a verdade. É simplesmente um desejo infantil, e nada mais! É um desejo de não morrer. (...) Não é a verdade que é sagrada, mas a procura de nossa própria verdade! (...) Se as crenças e o comportamento humano devem ser entendidos, é preciso primeiro varrer a convenção, a mitologia e a religião. Somente então, sem "nenhuma preconcepção, qualquer que seja", pode-se ter a pretensão de examinar o sujeito humano. (...) A partir da descrença, pode-se criar um código de conduta para o homem, uma nova moralidade, um novo esclarecimento em substituição aos gerados pela superstição e pela ânsia do sobrenatural.
Irvin D. Yalom (Quando Nietzsche Chorou; págs: 90, 91, 137 e 176)
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