23 de junho de 2015

REVOLUCIONÁRIOS

 
O que esses malditos revolucionários que ficam zanzando ao redor do meu apartamento bebendo a minha cerveja e comendo a minha comida e exibindo as suas mulheres precisam aprender é que a coisa deve vir de dentro pra fora. não se pode dar a um homem um novo governo como um novo chapéu e esperar um homem diferente dentro desse chapéu. (...) e aí com o que é que você termina: um governo ACIMA do povo. um novo ditador com vestes de ovelha; a ideologia era apenas para a manutenção das armas. (...) revolução soa muito romântico, vocês sabem. mas não é. é sangue, culhão e loucura; é menininhos mortos que ficam no caminho, menininhas que não entendem porra nenhuma do que está acontecendo. é a sua puta, a sua mulher rasgada na barriga por uma baioneta e depois estuprada no cu enquanto você olha. é homens torturando homens que costumavam rir com as histórias do Mickey Mouse. antes de você entrar na coisa, decida onde está o espírito e onde ele estará quando a coisa tiver terminado. (...) antes de você matar qualquer coisa certifique-se se tem alguma coisa melhor para pôr no lugar; alguma coisa melhor do que oportunismo político e críticas rancorosas nos parques públicos. se você vai pagar um custo tão elevado arranje algo melhor do que uma garantia de 36 meses. até agora eu não tenho visto nada além dessa vontade emocional e romântica pela Revolução; não vi nenhum líder sólido nem nenhuma plataforma realista para se assegurar CONTRA a traição que tem, até o presente momento, se seguido. (...) uma coisa é falar da Revolução enquanto sua barriga está cheia de cerveja de um outro homem e você está viajando com uma garota de dezesseis anos de Grand Rapids que fugiu de casa; uma coisa é falar sobre a Revolução enquanto três escritores imbecis de fama internacional lhe convidam pra dançar o jogo do OOOOOOOOOOMMM; outra coisa é a sua realização, outra coisa é fazer a coisa acontecer. (...).

e a maconha. eles sempre equacionam maconha com Revolução. a maconha não é assim tão boa. pelo amor de Deus, se eles legalizarem a maconha a metade das pessoas parariam de fumá-la. a proibição cria mais bêbados que berrugas de avó. é só aquilo que você não pode fazer que você tem vontade de fazer. (...) mas os Revolucionários queimarão o museu. eles acham que o incêndio resolve tudo. queimariam a sua avó se ela não conseguisse correr o suficientemente rápido. (...) e descobrirão quantos ratos moram na cidade (...) e descobrirão que os ratos são as últimas coisas a se afogar, a queimar, a morrer de fome; que eles são as primeiras coisas com capacidade de achar comida e água porque estiveram fazendo isso durante séculos sem nenhuma ajuda. os ratos são os verdadeiros revolucionários; os ratos são os verdadeiros undergrounds, (...) não estou dizendo desistam. sou pelo verdadeiro espírito humano onde quer que ele esteja, onde quer que ele tenha se escondido, o que quer que ele seja. mas cuidado com os caubóis que fazem a coisa soar tão boa e deixam você num platô com 4 tiras da pesada e oito ou nove rapazes da guarda nacional e apenas o seu umbigo como uma última prece. os rapazes berrando pelo seu sacrifício nos parques públicos são geralmente os que estão mais longe quando o tiroteio começa. eles querem viver para escrever as suas memórias.

Charles Bukowski (Notas de um Velho Safado; págs: 83, 84, 85, 86, 87 e 88)

Nenhum comentário: