31 de dezembro de 2013

PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS

Os pressupostos talvez sejam pras ideias, o que os genes são para o organismo. Isto é, podem explicar muita coisa, e na construção de uma teologia não é diferente. Nossas formulações referentes à Deus partem de nós mesmos, e de quem mais poderia partir, né? Numa lógica semelhante, Deus nos fez a sua imagem e semelhança, assim como nós também o criamos a nossa imagem e semelhança. O problema é quando Deus é dado a mistérios.. Isso abre espaço de criação para uma variação infinita de Deus, ou Deuses, porque uma vez que somos diferentes, teremos nossas próprias crenças, e as crenças como matéria-prima da realidade é o mesmo que, entre outras coisas, abrir uma caixa de pandora. Resultado: alguns têm um Deus que ama mandar pessoas para o inferno, e outros um Deus que ama incondicionalmente e jamais faria isso.

As religiões por trás disso tudo, carregam uma arrogância típica da crença, o que é problemático. É arrogância porque a crença se fecha em si mesmo num grau que torna qualquer ecumenismo inviável, geralmente, não há humildade nas convicções. Crença é um bicho muito certo de si. Como disse Elienai Cabral Jr: "O texto frio da lei é fluente no simulacro da moral. A letra grafada e morta não vasculha corações nem pergunta por afetos, não ilumina interioridades nem chora misérias, mata."

Tenho visto, em várias igrejas, um Deus claramente sádico. Sádico porque os membros mais representantes/fervorosos dessas comunidades, fazem coisas estranhas para seu Deus, a começar por sacrifícios envolvendo algum tipo de abstinência (não transar), ou dor (orar de joelhos) etc. Como se Deus ficasse feliz ao ver algum tipo de sofrimento.. Se Deus é amor, é de se esperar que ficasse mais feliz ao ver beleza. Eu também, como Rubem Alves: "Nunca ouvi de um devoto que tivesse oferecido a Deus uma sonata de Mozart ou um poema de Fernando Pessoa." É estranho que num espaço que fala-se tanto de Amor, tenha surgido uma espiritualidade tão calcada na negação do prazer e em sua, muitas vezes, demonização. Qual o sentido por trás disso, se boa parte da religião se presta ao esforço do homem em dar sentido a vida? Inclusive, falando em vida.. É irônico tanta ênfase dada ao pós-túmulo. Basicamente, numa dinâmica: Céu (recompensa/créditos) e inferno (castigo/débitos), e que configuram a base das liturgias tão presentes nos cultos. No final das contas, o medo, claro, é o principal fator que impulsiona a maioria dos crentes. Nas palavras de Napoleão Bonaparte: "duas alavancas movem o homem: interesse e medo."

As especulações a respeito da morte são, não mínimo, curiosas. Até onde entendi, para os cristãos, a morte é um caminho que se bifurca entre céu e inferno. Obviamente, assim espero, a expectativa para os cristãos é de que irão para o céu, afinal, para que serviria tanto trabalho: jejuns, leitura da Bíblia, orações etc...? Mas, se o céu implica em ter uma vida melhor, por que não procurar uma forma de encurtar o caminho? Até mesmo porque as expectativas de vida aqui só aumentam.. Há quem por muito menos, um punhado de virgens, por exemplo, instala bombas no corpo e "tchau e bença".. Isso que é acreditar no seu "Deus".. Enfim, o que parece, é que os cristãos "acreditam" nessa dicotomia céu/inferno somente até onde lhes convém.

"Minha fé não é aquilo em que acredito. Minha fé não está naquilo em que acredito, e nem poderia estar. Minha fé não é adequadamente expressa por aquilo em que acredito, e nem poderia ser. Toda crença é um obstáculo à fé. As crenças atrapalham porque satisfazem a nossa necessidade de religião, a crença é confortadora, a pessoa que vive no mundo da crença sente-se segura. Não tenho como recomendar a crença; sua única façanha é nos reunir em agremiações, cada uma crendo-se mais notável que a outra e chamando seu próprio ambiente corporativo de espiritualidade. Não tenho como endossar a crença; não devo dar a entender que a espiritualidade pode ser adequadamente transmitida através de argumentos e explicações. Minha espiritualidade não deve ser vivida ou expressa de forma menos revolucionária." (Paulo Brabo)

Fui criado em berço protestante e cresci também sob a catequização a que muitos são envolvidos desde muito cedo. Mas quando me perguntam se acredito em Deus, num primeiro momento é embaraçoso porque nunca sei a que deus a pergunta se trata, meu Deus certamente não é o mesmo que o seu. "Meu céu não é igual ao seu. Nem poderia ser. Nossas saudades são diferentes.", disse Rubem Alves. Depois penso no que Miguel de Unamuno falou: "Acreditar em Deus é, antes de mais nada e principalmente, querer que ele exista." Não sei também qual é o Deus que a maioria das pessoas anseiam que exista. Então é isso, Shakespeare já dizia: "Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia."

Diego Cosmo

28 de novembro de 2013

HYPE-CYCLE

"Depois do período de decepção, cada tecnologia acaba alcançando o seu real papel no espectro tecnológico - sem ser solução para tudo, mas tendo sua finalidade específica - e, nesse momento de maturidade, alcança sua real importância no cenário mercadológico."

Martha Gabriel (Marketing na Era Digital; pág: 116)

A INTERNET DAS COISAS

Os termos web 1.0, 2.0 e 3.0 estão mais relacionados à mudança no comportamento dos usuários  web do que as tecnologias que proporcionaram essas mudanças.

A web 1.0 é a web estática, onde as pessoas apenas navegam e consomem informações. A web 2.0 é a web da participação, onde as pessoas usam a web como plataforma para todo tipo de interação: blogs, videos, fotos, redes sociais. A web 2.0 é o que chamamos de computação em nuvem - os aplicativos (como GMail, redes sociais, etc.) ficam na internet (nuvem de computadores) acessados por meio de computadores com conexão on-line. Hoje, a predominância de informações na web é documentada. Em breve, devido aos sensores do tipo RFID e as tags como os QRcodes, qualquer coisa poderá fazer parte da internet, não apenas documentos. Assim, pessoas, animais, objetos, lugares ou absolutamente qualquer coisa mesmo poderá ser parte da web.

Passamos da web estática para a web dinâmica. Da web da leitura para a web da participação. Da web uma via para a web de duas mãos. Da web de páginas para a web como plataforma. Da web de reação para a web de participação. Da web discurso para a web conversação. E estamos caminhando para a web da interação, a web semântica, a internet das coisas.

Martha Gabriel (Marketing na Era Digital; págs: 78 e 79)

20 de novembro de 2013

JORNALISMO É PARTE DA DEMOCRACIA

Nós temos a grande responsabilidade de informar ao público para que eles sejam cidadãos com mais conhecimento e possam tomar decisões de forma mais inteligente. (...) Devemos apenas "somar luzes" que iluminem o público e deixá-lo decidir o que fazer com a informação que recebe. Nossa responsabilidade é traduzir os fatos para que o público os entenda de uma maneira mais fácil. (...) Jornalismo é parte da democracia. (...) Prestamos um serviço público para que os cidadãos entendam a condição humana  localmente, nacionalmente e internacionalmente. (...) O "novo" jornalismo não é jornalismo. É opinião. Se colocam opinião em uma notícia, não é jornalismo.

Bonnie Anderson

"MINTAM POR MISERICÓRDIA!" (NELSON RODRIGUES)

As mentiras, ao contrário do que se apregoa, não são todas iguais. Existe mentira de todo tipo: inescrupulosa, malvada, perniciosa, pecaminosa, ingênua. Não se deve esquecer as inofensivas e até as nobres. O que dizer das mentirinhas amorosas? Aquelas que nascem de lábios apaixonados? Quando o namorado sussurra, seu chamego se colore de um encarnado libidinoso. Em nome do amor, toda e qualquer frase tem força de transformar-se em uma declaração arrebatadora. Esses arroubos não seriam mentira? Não há como condenar um pai, que mesmo ansioso por descanso, finja disposto a brincar com os filhos. Quem acusa a mãe que lê uma historinha e faz de conta que acreditou nas fadas?

As mentiras que nascem do zêlo também não merecem desprezo. Se ela pergunta: Engordei? Homem nenhum pode responder com absoluta honestidade. Um lânguido nem tanto é o máximo que deve ousar. Verdade é virtude que não sobrevive sozinha. Toda verdade tem de vir precedida pela graça. Os absolutamente sinceros são na maioria das vezes intoleráveis. Toda sinceridade carece da graça porque nela o amor se sobrepõe à retidão. Quem ama não teme ser rotulado como inconstante. Misericórdia encobre. O intuito de proteger patrocina um tipo de mentira: a incoerência.  Há um provérbio bíblico, inclusive, que não condena esse jeito de encobrir os fatos: O ódio espalha dissensão, mas o amor esconde os pecados (10.12).

Quem se oporia a certas mentiras médicas? Quem não se valeu delas? Ainda não vai ser desta vez afirma o mais criterioso médico diante do paciente com um diagnóstico terminal. No corredor do hospital, os parentes combinam entre si ao saberem do veredito: Vamos entrar no quarto, mas nada de choro; temos que manter uma atitude otimista para não abatê-lo mais. Todos disfarçam e a mentira alivia o ambiente. Os sorrisos ensaiados e as conversas amenas não passam de eufemismo. Pura hipocrisia. Uma farsa caridosa, todavia.

Que tal as mentiras poéticas? Os poetas mais exímios mentem. Transformam sentimentos banais em amor inflamado. Realçam a força dos substantivos com adjetivos precisos. Valem-se das hipérboles para descrever as paixões. Inflamam os romances com floreios insinuantes. A poesia tem força de transformar o rei amante em escravo e a donzela amada em rainha. Fernando Pessoa foi feliz ao constatar: Todo poeta é um fingidor. Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente. O poeta nem sempre se dá conta de que sua malicia enriquece a vida.

A Bíblia relata as mentiras de vários heróis sem censurá-los. Jacó ganhou uma primogenitura enganando o pai (Gn. 27). Tamar, uma das ancestrais de Jesus, conseguiu engravidar se travestindo de prostituta para engodar Judá (Gn 38). José ludibriou a família como estratégia para não revelar imediatamente a identidade (Gn42). O rei Davi se fez de doido como meio de escapar do ódio de Aquis, rei de Gate (1Sm 21). Rute passou a perna em Boaz, salvou-se e garantiu a genealogia do Messias (Rt 3).

Lógico, impossível defender o dolo, a injúria, a impostura. Certamente o mentiroso não tem lugar na roda dos justos. Tanto o farsante, como o hipócrita e o maldoso que gagueja merecem o fim dos ímpios. Contudo, não há como negar: a humanidade não sobreviveria sem o recurso da mentira.

Menos farisaísmo, por favor!

15 de novembro de 2013

NOS PORTÕES DA FÉ

No princípio – disse rabi Jochanam – você reza por prosperidade, esperando que todos os desejos sejam realizados. Depois de algum tempo você passa a rezar para ser feliz, porque percebe que a felicidade não tem qualquer relação com a realização de desejos. Você passa então a rezar pela felicidade dos outros, porque percebe o quanto a vulnerabilidade dos outros o deixa vulnerável. Mais tarde você passa a rezar por coragem, porque entende que a felicidade talvez não faça bem a ninguém. Por último você para de rezar, porque compreende que a única coragem que conta é a que diz respeito apenas a você. Neste ponto você chegou aos portões da fé, sem saber o que o espera do outro lado.

– Os santos são os que alcançam esse portão – entendeu rabi Yosef.

– Os santos são os que encontram-no fechado – disse rabi Jochanam.

14 de novembro de 2013

SOCIEDADE DO CONSUMO VS. SOCIEDADE DO RESUMO

Longe de serem diametralmente opostos, são complementares e até consequentes. A revolução industrial aumentou, como nunca, o ritmo produtivo e suas escalas. Esta capacidade reduziu os custos, maximizou os lucros e potencializou os interesses dos donos da produção.

A regra foi: produzir - haverá quem compre.

Óbvio que não acabaria bem. Ainda mais com todos pensando da mesma maneira. As crises começaram a explodir em todo lugar. Afinal, para dar certo, a sociedade precisava mudar seu comportamento. Ao final da crise, o capitalismo estava mais forte do que nunca e encontrara um oponente a altura, seu anteposto: o socialismo. Cada qual partiu em sua jornada de catequização. O capitalismo com seu valor de consumo associado à liberdade. O socialismo nos valores, não de igualdade, mas do poder nas mãos das classes menos favorecidas. O resto é história.

O valor de consumo ganhou ainda mais força depois da Segunda Guerra. Já não era o capitalismo que era pregado pelo mundo, mas o “american way of life”. A liberdade mais do que nunca associada à liberdade de consumo, áreas como marketing e branding, que sequer existiam pouco antes, tinham total importância para as empresas: agregar valor ao consumo. Assim, o consumo passou a ganhar outras associações, além da famigerada liberdade: status, beleza, conquistas, sucesso, satisfação,
felicidade.

Consumir, consumir, consumir. O que era um comportamento, tornou-se valor. Tudo passar a ser “consumível”. Do sanduíche ao amigo. Tornou-se uma necessidade. A boa e velha imprensa já não atendia a demanda insana de leitores que queriam consumir informação. Por isso, os veículos de massa ampliaram suas forças e invadiram o ar. Rádio e TV, de antenas aos satélites. Mesmo assim, parecia pouco para uma sociedade que demonstrava não se satisfazer nunca, mesmo com mais jornais que fora possível um ser humano ler. É mais importante consumir informção e o mundo se encheu de informação por todos os lados.

A regra tornou-se SINTETIZAR.

Marcas resumidas a um desenho ou cor. Cartas chegando instantaneamente na tela. Fotos ganhando muito mais destaques, resumos antes da leitura. Notícias de há pouco, agora. Pobre celulose. Jamais seria capaz de acompanhar consumo tão insano que se alastra como uma praga, infectando tudo, como um parasita que necessita se propagar qualquer que seja a maneira, os memes de Richar Dawkins (O GENE EGOISTA, 1976).

O imprevisto mais previsível nasceu: tanto consumo precisaria sair de alguma forma e o receptor não se satisfazia mais com seu status e transformou-se em emissor. Milhões de blogs explodindo. O consumo ganhou tanto valor social que ser consumido passou a ser um novo valor. Falar para ser consumido. Mais uma vez o parasita mostrava suas garras e pelo excesso dos que queriam ser consumidos. Fernando Pessoa tornaria a regra assim:

Sintetizar é preciso. Viver não.

Jornais reduziram seu volume de textos, ampliaram títulos e fotos, fortaleceram resumos. Blogs se tornaram menores (“ninguém tem tempo para ler muita coisa na internet”) - criou-se uma nova convenção social. De consumo e resumo os jovens se comunicavam de forma cada vez mais dinâmica, celuares em mãos, SMS. A internet cada vez mais móvel. Outdoors, leituras em 5 segundos; banners de internet, interatividade em 3 segundos; Google, uma página em branco buscando em 0,2 segundo; Longos vídeos de 2 minutos. O resultado não poderia ser outro: sintetizar os blogs, tweets. O resumo forçado, limitado a 140 caracteres (um SMS). Pobre iludidos, pensando que venceriam com serviçõs que não limitariam o usuário, mas o usuário QUERIA limites. Havia muita informação sendo produzida e recebida. As “rédeas” funcionavam como um grito de socorro. Resumir para consumir ainda mais.

Em resumo, a próxima regra está cada vez às beiras: uma imagem vale mais que mil palavras.

Muito mais síntese expressa. Este caminho já começou. Buscadores limpos como o Google, mas tornando-se cada vez mais visual. Google Imagens buscando muito mais visualmente, mosaicos. Prepara-se para um futuro ainda mais visual. E só começou.

13 de novembro de 2013

A PERFEITA IMPERFEIÇÃO

A perfeição é um conceito abstrato e relativo, o perfeito pra mim, pode não ser pra outro. Então, se o mundo fosse perfeito pra mim, seria imperfeito pra outro, o que resultaria numa redução drástica - do tamanho que um mundo de uma só pessoa pode ter. Não haveria qualquer divergência ou conflito com o que eu julgasse ser um mundo perfeito. Todo o progresso tecnológico e intelectual seriam assustadoramente reduzidos ao que a ausência da pluralidade podem alcançar. Todos os eventos estariam necessariamente submetidos às minhas expectativas, uma vez que poderiam gerar frustração, caso me surpreendessem negativamente. Não haveriam surpresas e nem novidades, pois já estaria tudo perfeito, não haveria a possibilidade de aprender aquelas coisas que só se aprendem com as frustrações e os riscos. Portanto, no principio, aparentemente, fomos salvos da perfeição sem nem mesmo sabermos que a perfeição consiste em toda essa imperfeição.

Diego Cosmo

12 de outubro de 2013

AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO

Quando o filósofo talmúdico Rabi Hillel foi desafiado por um possível convertido a explicar o ensinamento de Deus enquanto pudesse se sustentar numa perna só, ele ofereceu o "amar o próximo como a si mesmo" como a única resposta, embora complete, que encerra a totalidade dos mandamentos divinos. Aceitar esse preceito é um ato de fé; um ato decisivo, pelo qual o ser humano rompe a couraça dos impulsos, ímpetos e predileções "naturais", assume uma posição que se afasta da natureza, que é contrária a esta, e se torna o ser "não natural" que, diferentemente das feras (e, na realidade, dos anjos, como apontou Aristóteles), os seres humanos são. Aceitar o preceito do amor ao próximo é o ato de origem da humanidade. (...) Também é a passagem decisiva do instinto de sobrevivência para a moralidade. (...) Torna a sobrevivência humana diferente daquela de qualquer outra criatura viva.

Zigmunt Bauman (Amor líquido; págs: 98 e 99)

RELACIONAMENTO DE BOLSO

Uma relação de bolso bem sucedida, diz Jarvie, é doce e de curta duração. Podemos supor que seja doce porque tem curta duração, e que sua doçura se abrigue precisamente naquela reconfortante consciência de que você não precisa sair do seu caminho nem se desdobrar para mantê-la intacta por um tempo maior. De fato, você não precisa fazer nada para aproveitá-la. Uma "relação de bolso" é a encarnação da instantaneidade e da disponibilidade. (...).

Primeira condição: deve-se entrar no relacionamento plenamente consciente e totalmente sóbrio. Lembre-se: nada de "amor à primeira vista" aqui. Nada de apaixonar-se... Nada daquela súbita torrente de emoções que nos deixa sem fôlego e com o coração aos pulos. Nem as emoções que chamamos de "amor" nem aquelas que sobriamente descrevemos como "desejo". Não se deixe dominar nem arrebatar, e acima de tudo não deixe que lhe arranquem das mãos a calculadora. E não se permita tomar o motivo da relação em que você está para entrar por aquilo que ele não é e nem deve ser. A conveniência é a única coisa que conta, e isso é algo para uma cabeça fria, não para um coração quente (muito menos superaquecido). Quanto menor a hipoteca, menos inseguro você vai se sentir quando for exposto às flutuações do mercado imobiliário futuro; quanto menos investir no relacionamento, menos inseguro vai se sentir quando for exposto às flutuações de suas emoções futuras.

Segunda condição: mantenha-o do jeito que é. Lembre-se de que não é preciso muito tempo para que a conveniência se converta no seu oposto. Assim, não deixe o relacionamento escapar à supervisão do chefe, não lhe permita desenvolver sua lógica própria e, especialmente, adquirir direitos de propriedade - não deixe que caia do bolso, que é seu lugar. Fique alerta. Não durma no ponto. Observe atentamente até mesmo as menores mudanças naquilo que Jarvie chama de "subcorrentes emocionais" (obviamente, as emoções tendem a se transformar em "subcorrentes" quando deixadas livres das amarras do cálculo). Se notar alguma coisa que você não negociou e para a qual não liga, saiba que "é hora de seguir adiante". É o tráfego que sustenta todo o prazer. Mantenha o bolso livre e preparado. Logo vai precisar pôr alguma coisa nele e - cruze os dedos - você vai conseguir...

Zigmunt Bauman (Amor Líquido; págs: 36 e 37)

11 de setembro de 2013

PSEUDO-AMBIENTALISTAS MIDIÁTICOS

Vivemos um momento no qual mobilizar e protestar é a tônica. A defesa do meio-ambiente é, em muitos casos, uma boa vitrine para a aparição na mídia televisiva. Algumas pessoas sabendo disso, e tendo anseios não tão ambientalistas, se aproveitam das oportunidades. Esses "pseudo-ambientalistas" são capazes de, através de estratégias bem montadas, levar muitos cidadãos de boa fé e ambientalistas desinteressados ideologicamente, a serem seus marqueteiros subservientes, aproveitando-se destes para que se mantenham aparecendo na mídia, em seus cargos, com suas projeções, enfim, se mantendo em evidência. Evidência esta que lhes deve trazer retornos interessantes...

Presenciamos mais uma vez e, de novo, sem reação, a ação desses demago-ambientalistas em "defesa" da área de preservação do Cocó, desta feita por conta da derrubada de árvores na Santana Júnior, no final da Antônio Sales. Essa "defesa" como de costume, mobilizou pessoas sinceras a engajar-se nas ações pelos demago-ambientalistas orquestradas. Esses protagonistas e seus coadjuvantes, são capazes até de literalmente chorar por causa da agressão ao meio-ambiente. As ações deles são EGOístas e apenas buscam interesses próprios, já que eles não fazem nada, nem mobilizam ninguém em defesa do Cocó, quando este se afasta dos bairros da área leste da cidade.

Há mais de 30 anos multidões de pessoas lançam diariamente todo tipo de dejetos e poluentes no mesmo rio Cocó, nos bairros de Alto da Balança, Aerolância, Jardim das Oliveiras, Dias Macêdo, Mata Galinha, Cajazeiras, Barroso e José Walter, e NENHUM destes pseudo-demago-ambientalistas midiáticos lembra do rio. Mostram assim que não são ambientalista coisa nenhuma. Ambientalistas seriam se cuidassem do meio ambiente, principalmente nas grandes áreas pobres de nossa Fortaleza. Nem se quer lembram dos pobres destas áreas degradadas às margens do rio Cocó, mas somente de aparecer quando alguma coisa acontece pontualmente no lado "nobre" do rio. As agressões graves, contínuas e antigas no Rio Cocó, naqueles bairros, NÃO INTERESSAM A ELES. Lá se pode continuar agredindo e poluindo. Desaparece o cuidado com o meio ambiente.

Esses predadores são vorazes e não medem consequências para aparecerem; se fosse possível ateariam fogo no Rio Cocó, só para ajudarem a apagá-lo e terem holofotes sobre si. Esses tais não são dignos de levantar a faixa "SALVE O COCÓ".

Delson Barros

4 de setembro de 2013

POR QUE A MAIORIA DAS EMPRESAS BRASILEIRAS NÃO ENRIQUECE?

O Brasil não pratica seu capitalismo nem na constituição, nem no comportamento social. Não vi nenhuma eleição com valores capitalistas vencer. Os discursos são sempre de combate a pobreza, redução da desigualdade social, melhoramento dos serviços públicos e para todos os brasileiros (principalmente os pobres) – estes são valores socialistas. Tá, eu sei que a prática não condiz, mas nos atenhamos aos discursos que vencem, ou seja, são os valores aceitos pela prática social.

Não há capitalismo sem capital. Ele é o centro motor do modelo. Parece óbvio, mas na prática não. Já prestei consultoria a diversas empresas e as fiz crescer consideravelmente com uma simples mudança de perspectiva (mergulhando no capitalismo). A principal representação do capitalismo está nos bancos. Falar dos bancos é falar, não das maiores empresas, mas dos maiores lucros do mundo.

O Google é a marca mais valiosa do mundo, vale U$ 172 BILHÕES? Isso só vale aos bancos. A Microsoft está avaliada em centenas de bilhões de dólares? Só interessa aos bancos. E qual o negócio dos bancos? Dinheiro (o capital).

Portanto, se é tão óbvio que o principal e maior valor do capitalismo é o capital, então, porque a maioria das empresas insiste em vender produtos/serviços?! Calma. A saída não é fechar sua empresa e abrir um banco, mas vender dinheiro/capital através de qualquer produto ou serviço.

Trata-se de uma mudança de perspectiva. Restaurantes que vendem comida, ganham menos do que restaurantes que vendem entretenimento através da comida (uma maneira de vender capital é trazer a idéia de que o dinheiro está rendendo – não é isso que os bancos fazem com suas aplicações?)

Vi listas telefônicas e jornais de bairro vender anúncios, e sofrem para vender – falta empresa para tanto espaço. Mas, quem vende retorno, resultado e lucro (vende capital) vende fácil – falta espaço para tanta empresa.

Essa é a lógica dos agiotas, dos bingos, jogos de azar, etc. A mega sena oferece milhões, mas fatura muitos mais na ilusão de transformar R$ 1,50 em R$ 5 MILHÕES. Quando, na verdade, transforma 50 milhões em 5. Aí fica fácil, né? Doce ilusão capitalista que encanta e seduz.

Quando você olha por essa óptica, tudo muda de sentido. Promoções ganham uma outra perspectiva, liquidações, datas festivas, tudo muda.

A maioria das empresas brasileiras não enriquece, porque vende produtos.

8 de agosto de 2013

UMA RESPOSTA AO DOGMATISMO RELIGIOSO

 
Jean Wyllys

MOVIMENTO DE CORES

Concluí que a monogamia, na minha cultura, é a evolução máxima do relacionamento interpessoal amoroso. Explico, do meu jeito.

1º Movimento: Freud

O primeiro pensador a sacar que “tudo é sexo”. Sei que para algumas pessoas isso pode chocar um pouco por ser radical. Mas vamos levar essa premissa às últimas instâncias e vamos ver no que dá. No almoço eu pego dois talos de brócolis, mesmo sem gostar. Todo dia penso que devo ir à academia. Sempre que passo na frente de uma vitrine procuro uma roupa bonita. Me imagino dirigindo grandes máquinas, tendo o respeito das pessoas. Ok, até aqui tudo normal. Mas, e se eu vivesse numa ilha isolada onde só quem existisse fossem meus 3 melhores amigos e eu? Sem mulher nenhuma, mas com as mesmas ofertas de comida e consumismos atuais. O que aconteceria?

O que aconteceria é que em um ano eu estaria gordo, barbudo, pobre e com taxas bovinas de colesterol. Com meus amigos apenas, a lógica seria outra. Veríamos todos os jogos, tocaríamos todas as músicas e perambularíamos selvagens por aí entre brigas bobas e abraços. Se hoje eu tento comer certo, é porque quero estar saudável para chamar a atenção de alguém. Quero, ou preciso ser atraente (prova disso é que pessoas casadas frequentemente engordam, pois de repente essa “não é mais uma grande preocupação”). Se quero estar bonito nas roupas é para ficar vistoso ao meu par, ao outro que desejo pra mim (a mesma lógica dos pavões, leões e canários). Conquistar alguém, manter alguém interessado, ter um parceiro são necessidades do ser vivo animal. Se preparar para esta missão é o desafio da evolução, pois é pré-requisito para a perpetuação do mesmo, e a perpetuação só vem pelo Sexo.

2º Movimento: Friedrich Nietzsche

Dizia que “Todo amor é amor próprio”. Ousado, mas não é preciso concordar completamente com essa premissa para aceitar a existência e grande influência deste amor. Olha só: Um homem prepara um jantar diferente, compra flores, limpa a casa, abre um vinho especial e escolhe uma bela roupa. A mulher chega e adora verdadeiramente tudo aquilo, mas não exterioriza. Embora internamente derretida de amores, externamente ela entra, senta e conversa normalmente enquanto come. Mesmo que o objetivo primo tenha sido alcançado, a noite não foi bonita, mas incompleta e unilateral. O que entendo é que nosso amigo “niilista” quer nos atentar para o fato de que quando damos uma rosa, também queremos ser retribuídos com uma certa “festa de agradecimento”. Um jantar à luz de velas, uma doação de brinquedos, um agrado fora de hora, um favor a um desconhecido, uma concessão na fila ou mesmo ao abrir um pote de palmito... Tudo tem como boa parte da motivação do ato, o amor próprio. Queremos nos reconhecer como alguém passível de Admiração. Queremos receber, e muitas vezes é por isso que damos. Parece feio e pequeno pensar assim, mas é humano e instintivo. E em nada diminui o ato, pois a vontade de agradar o outro é real e também forte.

Na cultura pós-moderna-ocidental em que vivo, o sentido da maioria das ações de um relacionamento é do homem para a mulher. É de bom tom que o homem que dê a flor, que ele a peça em namoro, que ele a chame para sair, que ela não peça, mas seja surpreendida com o pedido de casamento. No sexo isso é potencializado. O apelo subliminar é que o homem “aguente” tempo suficiente até que a mulher chegue ao orgasmo, e não que a mulher consiga “se acelerar” para chegar ao ápice com o companheiro. Homens raramente tem posições preferidas, por exemplo. O que eles querem é que a mulher mostre o que eles devem fazer para que elas fiquem loucas. Isso sacia eles, pois no fundo pensam “olha o que eu estou fazendo com ela”. Amor próprio, também.

E aqui eu encaixo Nietzsche: Num relacionamento longo existe tempo suficiente para que isso não necessariamente se inverta, mas se equilibre. Em todos os casais que observei para este texto, a mulher elegantemente se permitiu por vezes ser a que oferece o agrado. Abdicou de maneira gratuita o posto de “foco-absoluto” e fez-se remetente. Permitiu o amor próprio do homem ser saciado. É lindo demais! Isso só pode acontecer em um relacionamento não-curto, até por falta de tempo para que todas essas fases aconteçam.

3º Movimento: Frank Sinatra

Um dos homens mais “pegadores” de mulheres que já passou pela Terra. Com mais de 64 namoradas, sendo muitas delas famosas como Lana Turner, Virginia Mayo, Marilyn Maxwell e Ava Gardner, este “chefe dos escorpiões” nunca passou muitas primaveras com a mesma mulher, nem mesmo com Barbara Marx, mulher com quem findou seus dias. Ponto delicado: Um homem que teve apenas uma mulher na vida pode saber menos de mulheres que um cara que teve 64 “namoricos”. Mas este mesmo “pegador” não sabe nada a mais do que um homem normal que tenha se relacionado com suficientes 7 mulheres, por exemplo. Entende? Chega uma hora que para novos desafios é preciso viver diferentes formatos de relacionamentos, curtos e longos. Por esta lógica, conheço homens de 40 anos que nunca chegaram perto de terem tantas mulheres, mas são muito mais “mestres” no assunto do que o agora pequeno Frank. Hoje vejo Sinatra como um homem que morreu sem saber o que é escrever uma longa história com alguém, e envelhecer com este alguém. Ele nunca ouviu “passei mais tempo da minha vida ao seu lado do que longe de ti”. A “vasta experimentação de muitos” é uma fase popular, conveniente e até esperada num período segmentado de tempo, mas tem seus prazeres limitados e escreve histórias só até a página 2.

4º Movimento: “Fator Pós" 

Esta é a ferramenta que eu inventei para ajudar o homem a saber o que ele realmente sente pela mulher com quem está tendo um caso. Se você for mulher não leia isso. Todos os pensamentos masculinos se encaixam em duas grandes esferas, “SEXO” e “O RESTO”. “O Resto” não quer dizer que tem menos importância, apenas diz que não tem nada a ver com sexo. Simples assim. Mas este primeiro grupo de coisas tem um poder absurdo de influência no segundo, e faz o homem se confundir várias vezes em questões básicas. O Sexo age como uma neblina dificultando a nitidez do Resto das coisas. Numa situação normal (onde o lado viril vence com 80% da (i)racionalidade) o indivíduo masculino está perdido. Mas existe um momento em que o macho está 100% lúcido, livre de qualquer sombra ou nuvem hormonal que venha atrapalhar seu discernimento e conduta. São aqueles 10 minutos imediatamente seguintes ao clímax sexual. Aquele momento onde o mundo outrora parado começa vagarosamente a voltar ao normal. Aquele momento em que a consciência gradativamente se aproxima e o apetite físico está à ZERO.

Neste momento usa-se apenas o lado Resto do cérebro, existe lucidez! A vontade do corpo está vazia e é então que fica apenas o sentimento puro; quando existe algo de sentimento. Se existe Amor O Pós é lindo. Ela deita no peito dele e o que segue é uma extensão do apogeu. Na falta do Amor, a vontade é que ela vire algo como uma pizza, por exemplo. Faz-se as contas das horas gastas, da gasolina, das despesas e tudo mais. É o inferno na Terra. Mulheres de uma noite são aquelas que queremos que virem um x-burguer e uma coca-cola no Pós. Mulheres levadas à sério permitem uma nova experiência, o alongamento do gozo. Algo que o Sinatra talvez não tenha conhecido.

5º Movimento: “Fator Cézar”

É como chamo a frase “À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta” que parafraseei nesta minha tese como “Não basta ser fiel, é preciso parecer fiel”. Conheço homens que me juraram de mãos juntas que jamais traíram suas companheiras. Todavia, a mulher e seus amigos não acreditam. Ao meu ver isso acontece porque embora possam ser realmente honestos e fieis, não abdicaram do personagem “garanhão”, que muito massageia o ego. Por conseguinte, a credibilidade fica abalada pois, mesmo jurando “céu e Terra”, não agem como tal. A dificuldade aqui é tornar-se publicamente apaixonado, sabidamente percorrido pelo Amor, despidamente “vencido”. Adotar este posicionamento exige trabalhar o orgulho, o ego e até mesmo a inteireza no relacionamento. Fazer-se entender por fiel é dar um passo além no caminho da evolução interpessoal amorosa , pois envolve resolver problemas com autoestima, autoafirmação e segurança de ser, é coisa de Homem.

Porque reconheço que como legumes e passo filtro solar na categoria de Homem visionário e esperançoso; porque sei da minha condição de Guerra e Paz com meu amor próprio; porque já cantei muito Sinatra no chuveiro; porque aprecio a calmaria das sobremesas e por adorar as estórias de Roma, por tudo isso opto por seguir com uma mulher só, por um caminho longo.

A TEORIA DE MOTIVAÇÃO DE MASLOW


Entre as diversas atividades realizadas pelo Gerente de Projetos, a motivação da equipe é uma que nem sempre recebe a atenção devida. Gerentes menos experientes se voltam excessivamente para as atividades mais técnicas para obter resultados rápidos, e se esquecem que as tarefas são (normalmente) executadas por pessoas, que podem ter seus próprios critérios e prioridades.

Existem várias teorias para a motivação, e uma das mais aplicadas é a de Maslow. Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo americano, considerando o pai do humanismo na psicologia. De acordo com esta teoria, o ser humano possui diversas necessidades que podem ser separadas em categorias hierarquizadas. Para motivar uma pessoa, você deve identificar qual é a categoria mais baixa na qual ela tem uma necessidade, e suprir esta necessidades antes de pensar em outras em categorias mais altas. Estas categorias são normalmente apresentadas na forma de uma pirâmide:

Necessidades Fisiológicas: São relacionadas às necessidades do organismo, e são a principal prioridade do ser humano. Entre elas estão respirar e se alimentar. Sem estas necessidades supridas, as pessoas sentirão dor e desconforto e ficarão doentes.

Necessidades de Segurança: Envolve a estabilidade básica que o ser humano deseja ter. Por exemplo, segurança física (contra a violência), segurança de recursos financeiros, segurança da família e de saúde.

Necessidades Sociais: Com as duas primeiras categorias supridas, passa-se a ter necessidades relacionadas à atividade social, como amizades, aceitação social, suporte familiar e amor.

Necessidades de Status e Estima: Todos gostam de ser respeitados e bem vistos. Este é o passo seguinte na hierarquia de necessidades: ser reconhecido como uma pessoa competente e respeitada. Em alguns casos leva a exageros como arrogância e complexo de superioridade.

Necessidade de Auto Realização: É uma necessidade instintiva do ser humano. Todos gostam de sentir que estão fazendo o melhor com suas habilidades e superando desafios. As pessoas neste nível de necessidades gostam de resolver problemas, possuem um senso de moralidade e gostam de ajudar aos outros. Suprir esta necessidade equivale a atingir o mais alto potencial da pessoa.

O líder que conhece bem sua equipe saberá identificar quais são as necessidades de cada um e poderá aplicar os meios de motivação adequados. Por exemplo, se uma pessoa está passando por grandes dificuldades financeiras e a estabilidade de sua família está em risco, não adianta tentar motivá-lo dizendo que seu caso de sucesso será publicado no jornal da empresa. Da mesma forma, um profissional que está no auge de sua carreira e em alta evidência na organização não se entusiasmará muito com a ideia de uma pequena mudança em seu plano de saúde que envolva alguns benefícios adicionais.

O gerente de projeto tem a responsabilidade de fazer um planejamento adequado dos recursos humanos no projeto. Isto envolve desde identificar os que podem trazer os melhores resultados para o projeto, conhecer a realidade de cada um e encontrar as formas corretas de motivá-los para a obtenção de resultados.

Fonte: ogerente.com

6 de julho de 2013

FALA DO HOMEM NASCIDO

"Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no ato de que nasci
Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham
Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu
Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
rumo à estrela polar."

António Gedeão

MANIFESTO EM FAVOR DO NOVO

Alguns temem o novo
Porque ele ameaça o estabelecido, contesta as convenções
Desafia as regras
Alguns evitam o novo
Porque ele traz insegurança, estimula o experimento,
convida à reflexão
Alguns fogem do novo
Porque ele nos retira da confortável posição de autoridades
E nos obriga a reaprender
Alguns zombam do novo
Porque ele é frágil, não foi consagrado pelo uso
Mas essas pessoas se esquecem que tudo o que hoje é consagrado
Um dia já foi novo
Alguns combatem o novo
Porque ele contrária interesses, desafia os paradigmas,
não respeita o ego, despreza o status quo
Mas tudo isso é inútil
Porque a história da humanidade mostra
Que o novo sempre vem
Por isso, recicle seus pensamentos, reveja seus pontos de vista
Atualize suas fórmulas, seus métodos, suas armas
Senão você será sempre uma grande profissional
Um sujeito muito preparado para lutar numa guerra que já passou

Carlos Domingos (Oportunidades Disfarçadas; pág: 161)

28 de junho de 2013

AS MULTIDÕES NAS RUAS: COMO INTERPRETAR?

 
Um espírito de insurreição de massas humanas está varrendo o mundo todo, ocupando o único espaço que lhes restou: as ruas e as praças. O movimento está apenas começando: primeiro no norte da África, depois na Espanha com os “indignados”, na Inglaterra e nos EUA com os “occupies” e no Brasil com a juventude e outros movimentos sociais. Ninguém se reporta às clássicas bandeiras do socialismo, das esquerdas, de algum partido libertador ou da revolução. Todas estas propostas ou se esgotaram ou não oferecem o fascínio suficiente para mover as massas. Agora são temas ligados à vida concreta do cidadão: democracia participativa, trabalho para todos, direitos humanos pessoais e sociais, presença ativa das mulheres, transparência na coisa pública, clara rejeição a todo tipo de corrupção, um novo mundo possível e necessário. Ninguém se sente representado pelos poderes instituídos que geraram um mundo político palaciano, de costas para o povo ou manipulando diretamente os cidadãos.

Representa um desafio para qualquer analista interpretar tal fenômeno. Não basta a razão pura; tem que ser uma razão holística que incorpora outras formas de inteligência, dados racionais, emocionais e arquetípicos e emergências, próprias do processo histórico e mesmo da cosmogênese. Só assim teremos um quadro mais ou menos abrangente que faça justiça à singularidade do fenômeno. Antes de mais nada, importa reconhecer que é o primeiro grande evento, fruto de uma nova fase da comunicação humana, esta totalmente aberta, de uma democracia em grau zero que se expressa pelas redes sociais. Cada cidadão pode sair do anonimato, dizer sua palavra, encontrar seus interlocutores, organizar grupos e encontros, formular uma bandeira e sair à rua. De repente, formam-se redes de redes que movimentam milhares de pessoas para além dos limites do espaço e do tempo. Esse fenômeno precisa ser analisado de forma acurada porque pode representar um salto civilizatório que definirá um rumo novo à história, não só de um país mas de toda a humanidade. As manifestações do Brasil provocaram manifestações de solidariedade em dezenas e dezenas de outras cidades no mundo, especialmente na Europa. De repente o Brasil não é mais só dos brasileiros. É uma porção da humanidade que se indentifica como espécie, numa mesma Casa Comum, ao redor de causas coletivas e universais.

Por que tais movimentos massivos irromperam no Brasil agora? Muita são as razões. Atenho-me apenas a uma. E voltarei a outras em outra ocasião. Meu sentimento do mundo me diz que, em primeiro lugar, se trata de um efeito de saturação: o povo se saturou com o tipo de política que está sendo praticada no Brasil, inclusive pelas cúpulas do PT (resguardo as políticas municipais do PT que ainda guardam o antigo fervor popular). O povo se beneficiou dos programas da Bolsa Família, da Luz para Todos, da Minha Casa Minha Vida, do crédito consignado; ingressou na sociedade de consumo. E agora o quê? Bem dizia o poeta cubano Ricardo Retamar: “O ser humano possui duas fomes: uma de pão, que é saciável; e outra de beleza, que é insaciável”. Sob beleza se entende educação, cultura, reconhecimento da dignidade humana e dos direitos pessoais e sociais como saúde com qualidade mínima e transporte menos desumano.

Essa segunda fome não foi atendida adequadamente pelo poder publico, seja do PT ou de outros partidos. Os que mataram sua fome querem ver atendidas outras fomes, não em ultimo lugar, a fome de cultura e de participação. Avulta a consciência das profundas desigualdades sociais, que é o grande estigma da sociedade brasileira. Esse fenômeno se torna mais e mais intolerável na medida em que cresce a consciência de cidadania e de democracia real. Uma democracia em sociedades profundamente desiguais, como a nossa, é meramente formal, praticada apenas no ato de votar (que no fundo é o poder escolher o seu “ditador” a cada quatro anos, porque o candidato, uma vez eleito, dá as costas ao povo e pratica a política palaciana dos partidos). Ela se mostra como uma farsa coletiva. Essa farsa está sendo desmascarada. As massas querem estar presentes nas decisões dos grandes projetos que as afetam e sobre os quais não são consultadas para nada. Nem falemos dos indígenas cujas terras são sequestradas para o agronegócio ou para a indústria das hidrelétricas.

Esse fato das multidões nas ruas me faz lembrar a peça teatral de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes escrita em 1975: A Gota d’água. Atingiu-se agora a gota d’água que fez transbordar o copo. Os autores de alguma forma intuíram o atual fenômeno ao dizerem no prefácio da peça em forma de livro: "O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro…Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira”. Ora, esta tragédia é denunciada pelas massas que gritam nas ruas. Esse Brasil que temos não é para nós; ele não nos inclui no pacto social que sempre garante a parte de leão para as elites. Querem um Brasil brasileiro, onde o povo conta e quer contribuir para uma refundação do país, sobre outras bases mais democrático-participativas, mais éticas e com formas menos malvadas de relação social. Esse grito não pode deixar de ser escutado, interpretado e seguido. A política poderá ser outra daqui para a frente.

Leonardo Boff (Carta Maior)

25 de junho de 2013

SOBRE LIBERDADE

Num sonho, não muito distante, minha mãe se aproximava e falava: "Meu filho, eu queria pedir uma coisa pra você, queria que você aceitasse Jesus, ele está voltando logo, você vai ao culto, fulano de tal e não sei quem fará uma oração com você etc.". Imediatamente me recusava falando alguma bobagem, como: "Não tem a menor condição, não estou desviado... Não vejo as coisas assim, meu Deus nem se quer depende de religião ou reconhecimento, religião é coisa dos homens etc.". Logo percebi que provoquei chateação nela, ficou brava e aflita ao mesmo tempo. Então, fiquei mal comigo mesmo, embora não tenha sido grosseiro no tom, pensar que ela passaria os próximos dias aflita por achar que Jesus voltaria e eu, supostamente, ficaria, me incomodou também... Me senti desconfortável ao ponto de pensar que eu poderia ir aceitar a jesus, como ela queria, para que ela não ficasse preocupada com isso.

Já naquele estado semi-consciente, acordando, a ideia de liberdade me assaltou. Pensei se estaria comprometendo minha liberdade ao ceder (no sonho) ao pedido dela.. A tristeza em vê-la aflita em frente a minha recusa, seria o preço da liberdade? E se liberdade tem um preço, isso ainda é liberdade? Será que, como diz Fernando Pessoa: "a renúncia é a libertação, e não querer é poder"? Talvez a liberdade esteja em alguma linha tênue entre renúncia e egoísmo, entre querer e não querer poder.
 
Diego Cosmo

15 de junho de 2013

ARNALDO JABOR, LULA E DILMA

Adriana Negreiros: Quando esta entrevista for publicada, as eleições provavelmente já estarão definidas.

Jabor: Já vamos ter a Dilma tomando conta da nossa vida.

Adriana Negreiros: Existe uma diferença considerável em ter uma mulher presidente em vez de um homem?

Jabor: Nenhuma. A diferença não é de sexo, é de preparo. O Lula é um homem extremamente carismático e tem uma experiência política espantosa. Talvez seja o político mais esperto do Brasil, um dos maiores atores do mundo. E ele resolver fazer um terceiro mandato por intermédio de uma representante que ele inventou. A Dilma não tem competência nenhuma. Mas eu acho que - eu vou dizer uma frase absolutamente hipotética, eu posso estar enganado - inconscientemente Lula preferiu uma mulher na Presidência por uma questão machista de controle. Eu não sei se ele teria posto um homem mais culto, mais inteligente e tão forte quanto ele para sucedê-lo. É uma coisa parecida com o que o Fernando Collor de Melo fez botando aquela senhora [Zélia Cardoso] para dirigir a economia brasileira. É um pouco de machismo, "mulher a gente controla". Mas as pessoas que estão em torno da Dilma me preocupam mais do que ela própria - com exceção de Antônio Palocci [ex-ministro da Fazenda e coordenador da campanha de Dilma], que é um homem sensato.

Adriana Negreiros: Como assim?

Jabor: O que eu temo é que teses e posturas ideológicas e políticas de 40, 50 anos atrás voltem para a pauta brasileira de uma forma absolutamente arcaica. Essas pessoas que acompanham a Dilma se consideram superiores e acham que podem ditar os rumos da sociedade. Pode haver uma união muito estranha do clientelismo típico do PMDB com o sovietismo. Imagina um Stalin [líder soviético, morto em 1953] misturado com José Sarney [presidente do senado]? Esse é o perigo que nós corremos.

Adriana Negreiros: Quem seria o Stalin do governo?

Jabor: O pensamento da maioria das pessoas que estão em volta da Dilma tem ecos stalinistas. Eu conheci vários deles. Conheço o Marco Aurélio Garcia [coordenador do programa de governo da Dilma], o Samuel Pereira Guimarães [ministro de Assuntos Estratégicos]. Não é que eles sejam ainda stalinistas, mas fica uma espécie de resquício de um pensamento socialista que acabou. O perigo é essa oligarquia arcaica, reacionária e de direita representada por pessoas como Sarney e Renan Calheiros [senador] ser misturada com uma oligarquia sindicalista. A mistura dessas duas coisas é explosiva. A gente pode ter aqui não o chavismo chavista porque o Brasil é muito complexo e não comporta um canalha como o Hugo Chávez [presidente da Venezuela]. Mas pode pintar uma espécie de chavismo light.

Adriana Negreiros: Por que corremos mais esse risco com a Dilma do que com outro candidato?

Jabor: Porque a Dilma é formada dentro do marxismo-leninismo, como eu fui também. Eu conheço a cabeça da Dilma e das pessoas em volta como se fosse a palma da minha mão. Eu sei como eles pensam.

Adriana Negreiros: Como eles pensam?

Jabor: Basicamente o seguinte... "nós somos superiores à sociedade. Nós temos uma linha justa, Nós sabemos o que é bom para o mundo. Nós queremos mudar a história e o capitalismo para outra coisa. Não dá mais para fazer socialismo, mas dá para fazer umas malandragens. Nós temos de ter controle sobre a sociedade, porque a sociedade é como uma criança que precisa de direção, precisa de pai e mãe". Esse é o pensamento que a Dilma tem, por mais que ela disfarce, dê sorrisos, por mais que ela mude o penteado e diga que respeita a democracia.

Adriana Negreiros: Ela não respeita a democracia?

Jabor: Respeita, até, porque a democracia se impôs no mundo. Mas é uma aceitação em parte. Nas reuniões internas, eles chamam a democracia de "democracia burguesa". Eu me lembro uma vez do Francisco Oliveira, que é um sociólogo da USP, dizendo que a democracia é papo para enganar as massas. Eles acham que a democracia é só da burguesia e o povo não tem acesso à liberdade.

Adriana Negreiros: A oposição se comportou bem durante o governo Lula?

Jabor: Não, essa é a oposição mais vergonhosa que eu já vi na história deste país. A oposição que o PT fez ao governo Fernando Henrique foi uma das oposições mais inclementes, em que o José Dirceu [ex-deputado federal] dizia... "Temos de nos opor a absolutamente tudo o que eles dizerem, mesmo coisas boas". Então foi uma sabotagem permanente. Já a oposição do PSDB foi vergonhosa.

Adriana Negreiros: A que você atribui isso?

Jabor: Primeiro porque ficaram com medo do prestígio do Lula. Segundo porque não sabem defender nem o trabalho que fizeram. Não defenderam os oito anos do governo Fernando Henrique, que foram fundamentais na vida brasileira. Não defenderam nem o Plano Real, nem as privatizações, nem a Lei de Responsabilidade Fiscal, nem a redução da dívida externa, nem a consolidação da dívida interna, nada. A população não sabe qual é a opção à Dilma. É uma população muito ignorante, que serve a desígnios populistas. É bom para os populistas que as pessoas sejam analfabetas.

Adriana Negreiros: Este cenário da oposição vai se repetir no provável governo da Dilma?

Jabor: Não tem mais oposição, pô! Eles têm maioria no Congresso. Se fizerem uma lei obrigando todo mundo a andar nu, vai passar.

Adriana Negreiros: Como você explica a popularidade do presidente Lula?

Jabor: Porque ele é um gênio. Um Maquiavel [filósofo italiano autor do clássico O Príncipe, morto em 1527]. Ele tem um carisma extraordinário. Nesse aspecto ele é imbatível. E tem qualidades também. Não tô dizendo que o Lula é um canalha.

Adriana Negreiros: Que qualidades?

Jabor: Uma das qualidades dele é ter passado por todas as bocas sujas da vida, desde a miséria até a liderança sindical. Isso deu a ele uma prática política popular de esquerda, porém pragmática. Não é aquela coisa ideológica maluca dos Luiz Gushiken [ex-ministro], dos Ricardo Berzoini [presidente do PT], dos Dirceu, de que o mundo vai ser socialista. O Lula é muito prático. Nesse sentido, ele foi modernizador da política de esquerda no Brasil. Ele é genial, o Mick Jagger da política. Eu me lembro que quando teve aquele perigo do segundo turno contra o Geraldo Alckmin [em 2006], foi sensacional. Ele mandou armar um palanque igual aos do Rolling Stones, aqueles de corredor, enormes. Ele ficava falando e andando exatamente igual ao Mick. O Lula é um genial comunicador de televisão. Eu acho até que eu sou um bom comunicador, mas o Lula me dá de 10 a zero [risos]

Adriana Negreiros: Você já esteve com o presidente Lula?

Jabor: Sim, uma única vez na minha vida, antes de ele ser presidente da República. Eu ainda não estava na televisão, só nos jornais. Ele estava com a mulher dele, passou e falou comigo... "Oi, Jabor. Como é que vai?" E passou a mão no meu braço. É de uma simpatia, o filha da mãe, é de uma sedução que o José Serra não tem. A Dilma não tem nenhuma. Eu não consigo entender como é que o povão vota na Dilma porque a figura é realmente espantosa. Mas o povo vai votar nela porque o Lula mandou!

Entrevista de Arnaldo Jabor à Adriana Negreiros (Playboy - Outubro/2010)

12 de junho de 2013

ARRISCAR É PRECISO

Quem deseja viver não adia. O imponderável se intromete na vida, as contingências não escolhem justos ou injustos. Como nas patas do gato, as unhas do destino se alongam, querendo arranhar o curso da história. O imprevisto às vezes acontece peçonhento e estraga projetos queridos sem qualquer consideração. A vida requer prontidão de antecipar-se ao imponderável. – antes da dor, o beijo; antes do adeus, o abraço; antes da solidão, a conversa. O agora é estrela cadente, asteróide nômade. Cada instante fugitivo precisa valer uma eternidade. O já não passa de um átimo, fenda impermanente entre o ainda não e o que já se foi. Quem busca viver não caminha sob o jugo do medo. Arriscar é preciso. Em cada decisão há perigo – decidir é vulnerabilizar-se. Nos relacionamentos há exposição e no amar, deixar-se à mercê do outro. A ferida da decepção dói menos do que o desterro. Amantes carregam cicatrizes. Os pequenos acenos de felicidade acontecem nos que se atrevem a caminhar sem blindagem, nos que arrancaram o elmo e jogam fora o escudo. As clausuras são tristes, elas não têm acesso ao olhar de quem suplica afeto.

Quem almeja viver não se mantém ansioso. A salvação mora no sossego. O possível, nem sempre o melhor, só vira matéria prima do contentamento em corações calmos. A alma implora por descanso. O corpo avisa que o desespero de desejar mais e mais produz descargas hormonais adoecedoras. É necessário dar um passo de cada vez e esperar pelo amanhã. Ao desistir dos atalhos, aprendem-se processos relacionais. Os apressados, que tentam se antecipar o sereno da madrugada, cansam logo. Tudo passa. A alteridade dos ritmos deve ser respeitada. Quem anela viver não foge de si. Não se enfrentar põe a alma em risco – que acaba somatizando a culpa e depois o câncer. Reconhecer inadequações evita aleijões existenciais. Nos solilóquios, as transgressão perdem força de um pecado mortal. Os tropeços ensinam. As mazelas ajudam a crescer. Humildade passa a valer como coragem.

Quem suspira viver ouve, não monologa. Na habilidade de escutar o que o outro tem a dizer, valoriza outras histórias, tradições, folclores. E nessa sensibilidade coexistencial, preconceitos, discriminações, rótulos, estigmas, perdem força. Os absurdos cometidos em nome de nacionalismo, religião ou ideologia deixam de se repetir com tanta frequência. Quem sonha viver, medita. Nas conchas que a maré triturou e que pavimentam a praia, contempla os milênios que já passaram. No ócio do leão, feliz com a prole bem alimentada, vê a alegria da desafobação. O sol que se agacha no lusco fusco revela uma grandeza discreta. É preciso vagar para notar nas entrelinhas da poesia, o imarcescível, e na estrutura da prosa, o gênio do autor. Meditar é fechar os olhos para que violinos, gaitas, trompetes, pianos e realejos cheguem ao coração. Para viver, poucas coisas são necessárias: amigos que nos façam rir – mas que não nos abandonam quando choramos; companheiros que não têm medo de falar a verdade – mas que se mostrem prontos para nos levantar na hora da queda.

6 de junho de 2013

CONFISSÃO AOS LIVROS


Os livros tiraram-me da maneira mais justa e completa tudo que me deram: a literatura foi o augúrio que me conduziu a Deus, a ninfa cuja mão me mostrou o amor, o companheiro de espada que me desafiou à lealdade, o adversário que me acendeu a paixão, a amante que me ensinou o tédio.  Em troca dessa glória as estantes me varreram, espoliaram e exauriram, devassaram meu universo interior, levando cativa minha vontade e negando-se a deixar em meu poder qualquer fiapo de autenticidade que pudesse ter peso ou validade na vida real. Hoje tudo que sou e que sinto é regido pelo jogo vão da literatura, pela ardente cobiça das ordens de palavras que com resignado afeto sonho serem minhas.

Paulo Brabo

30 de maio de 2013

NÃO TENHO MEDO

Não tenho medo de não atingir metas, conquistar grandes objetivos, chegar ao topo de uma carreira, seja ela qual for. Não tenho medo de ser pobre, de não ter uma casa grande e luxuosa num bairro nobre da cidade, ou não ter um carrão do ano na garagem. Não tenho medo de não ser um cara famoso, influente, importante, admirado ou invejado. Não tenho medo de não ter um emprego que pague tubos de dinheiro, me dê estabilidade e me permita comprar o que quiser sem me pesar tanto no final do mês. Não tenho medo de ficar só, sentir-me abandonado ou não ter pessoas que gostem de mim de verdade. Não tenho medo de enfrentar a crítica dos que discordam das minhas ideias e do meu modo de pensar, do meu estilo de vida e do meu jeito de viver. Não tenho medo de me sentir atrasado ou parado no tempo/espaço da evolução tecnológica. Não tenho medo de ficar sem dinheiro, perder tudo o que tenho investindo em um sonho ou mesmo comprando velharias. Não tenho medo de ser taxado de progressista ou reacionário, louco, estranho ou idealista inveterado. Não tenho medo de mudar e errar e voltar atrás e errar de novo e voltar mais atrás ainda. Não tenho medo de ser intelectualmente pobre e ignorante diante de todo o conhecimento que existe. Não tenho medo de não ser sábio frente aos meus iguais, nem tenho medo de ser o menor entre os pequenos. Não tenho medo de começar do zero, recomeçar ou desistir. Não tenho medo de ser apagado da história e morrer tão desconhecido quanto fui no dia em que eu nasci. Por fim, não tenho medo de saber que eu talvez devesse ter medo de tudo isso. Mas eu tenho um medo. Sim, disso eu realmente tenho medo: de ser infeliz. É isso, é disso que eu tenho medo.

24 de maio de 2013

TODA FORMA DE AMOR

Há o amor segundo Platão: "Eu te amo, tu me fazes fal­ta, eu te quero."

Há o amor segundo Aristóteles ou Spinoza: "Eu te amo: és a causa da minha alegria, e isso me regozija."

Há o amor segundo Simone Weil ou Jankélévitch: "Eu te amo como a mim mesmo, que não sou nada, ou quase nada, eu te amo como Deus nos ama, se é que ele existe, eu te amo como qualquer um: ponho minha força a serviço da tua fra­queza, minha pouca força a serviço da tua imensa fraqueza..."

Eros, philia, agapé: o amor que toma, que só sabe gozar ou sofrer, possuir ou perder; o amor que se regozija e com­partilha, que quer bem a quem nos faz bem; enfim, o amor que aceita e protege, que dá e se entrega, que nem precisa mais ser amado...

Eu te amo de todas essas maneiras: eu te tomo avida­mente, eu compartilho alegremente tua vida, tua cama, teu amor, eu me dou e me abandono suavemente... Obrigado por ser o que és, obrigado por existir e por me ajudar a existir!

André Comte-Sponville

22 de maio de 2013

NOSSO ESTRANHO DESTINO



"É verdade, o cachorro morreu. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre!"
 
Chicó

Ariano Suassuna (Auto da Compadecida; pág: 43)

18 de maio de 2013

O ESVAZIAR

A Encarnação é a kenosis (esvaziamento) do deus vingativo, do deus que está no controle, do deus que manda matar, do deus domesticado e de um povo, do deus transcendente...

A kenosis é a recusa de Deus de se identificar com o Poder, com o Motor Imóvel, com o autoritarismo, arbitrariedade, de escrever a história à parte dos homens.

A encarnação é a afirmação plena do humano; é Deus gostando e ensinando a ser gente, é Jesus de Nazaré nos inspirando a abrir mão de pretensões tolas tais como a posse da Verdade, a religião verdadeira, uma fé mágica que arredonda a vida, intolerância religiosa.

Evangelho/encarnação/kenosis é deus deixando a companhia de anjos para se aproximar do homem, da mulher, do gay, da prostituta, do religioso, do judeu, do grego, das crianças, do índio; de todas as gentes de toda cultura, tribo e nação.

Márcio Cardoso

11 de maio de 2013

O CAOS É UMA ESCADA


- Fiz o que fiz pelo bem do reino.
- O reino? Quer saber o que é o reino? É as centenas de espadas dos inimigos de Aegon. Uma história que concordamos em contar repetidas vezes até esquecermos que é uma mentira.
- Mas que nos resta quando abandonamos a mentira? Caos. Uma cova aberta à espera de nos engolir a todos.
- O caos não é uma cova. O caos é uma escada. Muitos que a tentam subir falham e nunca podem tentar outra vez. A queda quebra-os. A alguns é dada a oportunidade de trepar, mas recusam. Agarram-se ao reino, aos deuses ou ao amor. Ilusões. Só a escada é real. Trepá-la é tudo o que existe.

Game Of Thrones (3º Temporada/Ep: 06)

8 de maio de 2013

MEU TEMPO TEM NOME


Nunca vi o tempo distorcer tanto... O relógio desaprende a contar qualquer coisa quando te vejo e aprende a cantar desafinadamente os minutos quando nos despedimos. Teu beijo é o eterno num fechar de olhos, te abraçar me leva as mais variadas eternidades antes impensáveis. Teu sorriso? Nem ouso esboçar mais nada, qualquer palavra não chega aos pés de descrever o teu cheiro, teus gestos e todas as sutilezas que ensaio entender. Melhor parar por aqui antes que eu comece a me iludir achando que posso explicar algo do que ando a viver contigo...

Diego Cosmo

23 de abril de 2013

SAUDAÇÕES AOS MALUCOS!


Think Different (Apple)

O MITO DO SUCESSO

A análise feita por Tocqueville há cem anos foi plenamente confirmada. Sob o monopólio privado da cultura sucede de fato que "a tirania deixa livre o corpo e investe diretamente sobre a alma". Aí, o patrão não diz mais: ou pensas como eu ou morres. Mas diz: és livre em não pensares como eu, a tua vida, os teus bens, tudo te será deixado, mas, a partir deste instante, és um intruso entre nós. Quem não se adapta é massacrado pela impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do isolado. Excluído da indústria é fácil convencê-lo de sua insuficiência. Enquanto agora, na produção material, o mecanismo da demanda e da oferta está em vias de dissolução, na superestrutura, ele opera como controle em proveito dos patrões. Os consumidores são os operários e os empregados, fazendeiros e pequenos burgueses. A totalidade das instituições existentes os aprisiona de corpo e alma a ponto de sem resistência sucumbirem diante de tudo o que lhes é oferecido. E assim como a moral dos senhores era levada mais a sério pelo dominados do que pelos próprios senhores, assim também as massas enganadas de hoje são mais submissas ao mito do sucesso do que os próprios afortunados. Estes têm o que querem e exigem obstinadamente a ideologia com que se lhes serve.

Max Horkheimer e Theodor W. Adorno
 
Luiz Costa Lima (org) (Teoria da Cultura de Massa; pág: 198)

16 de fevereiro de 2013

SINTO, LOGO EXISTO


Somos tudo aquilo que conseguimos fazer, porém, o somos, apenas, em parte. No fundo, somos tudo aquilo que sentimos em nosso íntimo, tudo aquilo que nos toca e emociona de alguma forma. No entanto, o que fazemos mostra o quanto há de intenso no que sentimos. Isto é, o quanto existimos de fato. Para esse fim, reformularia a frase de Descartes: "Penso, logo existo", para: "Sinto, logo existo". Eis a problemática de toda uma vida, que consiste no esforço constante de aproximar cada vez mais o discurso da prática. Como dizia Paulo Freire: "É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.". Enfim, que a consciência seja um convite vivo a sermos o que realmente somos, sem tanto pudor. Diante da infinita dinâmica existencial; todo fato é ficção; todo homem carrega o mito em si; toda nossa racionalidade é, invariavelmente, emotiva.

Diego Cosmo

30 de janeiro de 2013

SER É O BASTANTE

A eternidade despovoa o instante. Porque a vida e a morte são inseparáveis. Tirando-nos o morrer, a religião nos tira a vida. Em nome da vida eterna a religião afirma a morte dessa vida.

Octavio Paz
  

Ao crepúsculo se sabe que não seremos salvos pelas obras. Ao crepúsculo se retorna à verdade evangélica e protestante que afirma que somente a Palavra nos salvará. Ao crepúsculo se sabe que o que importa é "ser", simplesmente "ser".

Rubem Alves

ATÉ ONDE HOUVER CAPACIDADE

Quando o corpo não tiver mais fome, quando só existirem o enfado e o cansaço, então quererei morrer. Saberei que a vida se foi, a despeito dos sinais biológicos externos que parecem dizer o contrário. (...) Alguns há que pensam que a vida é coisa biológica, o pulsar do coração, uma onda cerebral elétrica. Não sabem que, depois que a alegria se foi, o corpo é só um ataúde. (...) A vida é uma entidade estética. Morta a possibilidade de sentir alegria diante do belo, morre também a vida. (...) E aí os teólogos e médicos, invocando a autoridade da natureza, dizem que a vida física deve ser preservada a todo custo... Mas a vida humana não é coisa da natureza. Ela só existe enquanto houver a capacidade para sentir a beleza e a alegria. (...) De fato, não há razões para o medo. Porque só há duas possibilidades. Nada existe depois da morte. Nesse caso, eu serei simplesmente reconduzido ao lugar onde estive sempre, desde que o universo foi criado. Não me lembro de ter sentido qualquer ansiedade durante essa longa espera. Meu nascimento foi um surgir do nada. Se isso aconteceu uma vez, é possível que aconteça outras. O milagre pode voltar a se repetir algum dia. (...) Se, ao contrário, a morte for a passagem para outro espaço, como afirmam as pessoas religiosas, também não há razões pra temer. Deus é amor e, ao contrário do que reza a teologia cristã, ele não tem vinganças a realizar, mesmo que não acreditemos nele. Nem poderia ser de outra forma: eu jamais me vingaria dos meus filhos. Como poderia o "Pai Nosso" fazê-lo? 
 
Rubem Alves (O Médico; págs: 49, 79, 80, 81 e 82)
 

"Vai, portanto, come a tua comida e alegra-te com ela,
bebe o teu vinho com um coração feliz.
Veste-te sempre de branco
e que não falte óleo perfumado nos teus cabelos.
Goza a vida com quem amas todos os dias da tua vida...
Pois Deus já aceitou o que fizeste
."

Eclesiastes 9.7

26 de janeiro de 2013

O PARADOXO DO CASAMENTO

Os paradoxos estão por trás das coisas que importam para nós. O casamento é um paradoxo: eu não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela. As duas afirmações são verdadeiras. E a dinâmica entre essas duas afirmações é o que mantém o casamento interessante, entre outras coisas. Os paradoxos são o oposto das contradições. As contradições se fecham em si mesmas, mas os paradoxos se mantêm evoluindo, porque, cada vez que você reconhece a verdade de um lado, é apanhado pela verdade do outro lado.

Chris Anderson (Free - O Futuro dos Preços; pág: 99)