Concluí que a monogamia,
na minha cultura, é a evolução máxima do relacionamento interpessoal amoroso.
Explico, do meu jeito.
1º Movimento: Freud
O primeiro pensador a sacar que “tudo é sexo”. Sei que para
algumas pessoas isso pode chocar um pouco por ser radical. Mas vamos levar essa
premissa às últimas instâncias e vamos ver no que dá. No almoço eu pego
dois talos de brócolis, mesmo sem gostar. Todo dia penso que devo ir à
academia. Sempre que passo na frente de uma vitrine procuro uma roupa bonita.
Me imagino dirigindo grandes máquinas, tendo o respeito das pessoas. Ok, até
aqui tudo normal. Mas, e se eu vivesse numa ilha isolada onde só quem existisse
fossem meus 3 melhores amigos e eu? Sem mulher nenhuma, mas com as mesmas
ofertas de comida e consumismos atuais. O que aconteceria?
O que aconteceria é
que em um ano eu estaria gordo, barbudo, pobre e com taxas bovinas de colesterol.
Com meus amigos apenas, a lógica seria outra. Veríamos todos os jogos, tocaríamos
todas as músicas e perambularíamos selvagens por aí entre brigas bobas e
abraços. Se hoje eu tento
comer certo, é porque quero estar saudável para chamar a atenção de alguém.
Quero, ou preciso ser atraente (prova disso é que pessoas casadas frequentemente
engordam, pois de repente essa “não é mais uma grande preocupação”). Se quero
estar bonito nas roupas é para ficar vistoso ao meu par, ao outro que desejo
pra mim (a mesma lógica dos pavões, leões e canários). Conquistar alguém,
manter alguém interessado, ter um parceiro são necessidades do ser vivo animal.
Se preparar para esta missão é o desafio da evolução, pois é pré-requisito para
a perpetuação do mesmo, e a perpetuação só vem pelo Sexo.
2º Movimento: Friedrich Nietzsche
Dizia que “Todo amor é amor próprio”. Ousado, mas não é
preciso concordar completamente com essa premissa para aceitar a existência e
grande influência deste amor. Olha só: Um homem
prepara um jantar diferente, compra flores, limpa a casa, abre um vinho
especial e escolhe uma bela roupa. A mulher chega e adora verdadeiramente tudo
aquilo, mas não exterioriza. Embora internamente derretida de amores,
externamente ela entra, senta e conversa normalmente enquanto come. Mesmo que o
objetivo primo tenha sido alcançado, a noite não foi bonita, mas incompleta e
unilateral. O que entendo é que
nosso amigo “niilista” quer nos atentar para o fato de que quando damos uma
rosa, também queremos ser retribuídos com uma certa “festa de
agradecimento”. Um jantar à luz de velas,
uma doação de brinquedos, um agrado fora de hora, um favor a um desconhecido,
uma concessão na fila ou mesmo ao abrir um pote de palmito... Tudo tem como boa
parte da motivação do ato, o amor próprio. Queremos nos reconhecer como alguém
passível de Admiração. Queremos receber, e muitas vezes é por isso que damos.
Parece feio e pequeno pensar assim, mas é humano e instintivo. E em nada
diminui o ato, pois a vontade de agradar o outro é real e também forte.
Na cultura
pós-moderna-ocidental em que vivo, o sentido da maioria das ações de um
relacionamento é do homem para a mulher. É de bom tom que o homem que dê a
flor, que ele a peça em namoro, que ele a chame para sair, que ela não peça,
mas seja surpreendida com o pedido de casamento. No sexo isso é potencializado.
O apelo subliminar é que o homem “aguente” tempo suficiente até que a mulher
chegue ao orgasmo, e não que a mulher consiga “se acelerar” para chegar ao
ápice com o companheiro. Homens raramente tem posições preferidas, por exemplo.
O que eles querem é que a mulher mostre o que eles devem fazer para que elas
fiquem loucas. Isso sacia eles, pois no fundo pensam “olha o que eu estou
fazendo com ela”. Amor próprio, também.
E aqui eu encaixo
Nietzsche: Num relacionamento longo existe tempo suficiente para que isso não
necessariamente se inverta, mas se equilibre. Em todos os casais que observei
para este texto, a mulher elegantemente se permitiu por vezes ser a que oferece
o agrado. Abdicou de maneira gratuita o posto de “foco-absoluto” e fez-se
remetente. Permitiu o amor próprio do
homem ser saciado. É lindo demais! Isso só pode acontecer em um relacionamento
não-curto, até por falta de tempo para que todas essas fases aconteçam.
3º Movimento: Frank Sinatra
Um dos homens mais “pegadores” de mulheres que já passou
pela Terra. Com mais de 64 namoradas, sendo muitas delas famosas como Lana
Turner, Virginia Mayo, Marilyn Maxwell e Ava Gardner, este “chefe dos
escorpiões” nunca passou muitas primaveras com a mesma mulher, nem mesmo com
Barbara Marx, mulher com quem findou seus dias. Ponto delicado: Um
homem que teve apenas uma mulher na vida pode saber menos de mulheres que um
cara que teve 64 “namoricos”. Mas este mesmo “pegador” não sabe nada a mais do
que um homem normal que tenha se relacionado com suficientes 7 mulheres, por
exemplo. Entende? Chega uma hora que para novos desafios é preciso viver
diferentes formatos de relacionamentos, curtos e longos. Por esta lógica,
conheço homens de 40 anos que nunca chegaram perto de terem tantas mulheres,
mas são muito mais “mestres” no assunto do que o agora pequeno Frank. Hoje vejo
Sinatra como um homem que morreu sem saber o que é escrever uma longa história
com alguém, e envelhecer com este alguém. Ele nunca ouviu “passei mais tempo da
minha vida ao seu lado do que longe de ti”. A “vasta
experimentação de muitos” é uma fase popular, conveniente e até esperada num
período segmentado de tempo, mas tem seus prazeres limitados e escreve
histórias só até a página 2.
4º Movimento: “Fator Pós"
Esta é a ferramenta que eu inventei para ajudar o homem a
saber o que ele realmente sente pela mulher com quem está tendo um caso. Se
você for mulher não leia isso. Todos os pensamentos
masculinos se encaixam em duas grandes esferas, “SEXO” e “O RESTO”. “O Resto”
não quer dizer que tem menos importância, apenas diz que não tem nada a ver com
sexo. Simples assim. Mas este primeiro grupo de coisas tem um poder absurdo de
influência no segundo, e faz o homem se confundir várias vezes em questões
básicas. O Sexo age como uma neblina dificultando a nitidez do Resto das
coisas. Numa situação normal (onde o lado viril vence com 80% da
(i)racionalidade) o indivíduo masculino está perdido. Mas existe um momento em
que o macho está 100% lúcido, livre de qualquer sombra ou nuvem hormonal que
venha atrapalhar seu discernimento e conduta. São aqueles 10 minutos
imediatamente seguintes ao clímax sexual. Aquele momento onde o mundo outrora
parado começa vagarosamente a voltar ao normal. Aquele momento em que a consciência
gradativamente se aproxima e o apetite físico está à ZERO.
Neste momento usa-se
apenas o lado Resto do cérebro, existe lucidez! A vontade do corpo está vazia e
é então que fica apenas o sentimento puro; quando existe algo de sentimento. Se
existe Amor O Pós é lindo. Ela deita no peito dele e o que segue é uma extensão
do apogeu. Na falta do Amor, a vontade é que ela vire algo como uma pizza, por
exemplo. Faz-se as contas das horas gastas, da gasolina, das despesas e tudo
mais. É o inferno na Terra. Mulheres de uma
noite são aquelas que queremos que virem um x-burguer e uma coca-cola no Pós.
Mulheres levadas à sério permitem uma nova experiência, o alongamento do gozo.
Algo que o Sinatra talvez não tenha conhecido.
5º Movimento: “Fator Cézar”
É como chamo a frase “À
mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta” que
parafraseei nesta minha tese como “Não basta ser fiel, é preciso parecer fiel”. Conheço homens que
me juraram de mãos juntas que jamais traíram suas companheiras. Todavia, a
mulher e seus amigos não acreditam. Ao meu ver isso acontece porque embora
possam ser realmente honestos e fieis, não abdicaram do personagem “garanhão”,
que muito massageia o ego. Por conseguinte, a credibilidade fica abalada pois,
mesmo jurando “céu e Terra”, não agem como tal. A dificuldade aqui é
tornar-se publicamente apaixonado, sabidamente percorrido pelo Amor, despidamente “vencido”. Adotar este
posicionamento exige trabalhar o orgulho, o ego e até mesmo a inteireza no
relacionamento. Fazer-se entender
por fiel é dar um passo além no caminho da evolução interpessoal amorosa , pois
envolve resolver problemas com autoestima, autoafirmação e segurança de ser, é
coisa de Homem.
Porque reconheço que
como legumes e passo filtro solar na categoria de Homem visionário e
esperançoso; porque sei da minha condição de Guerra e Paz com meu amor próprio;
porque já cantei muito Sinatra no chuveiro; porque aprecio a calmaria das
sobremesas e por adorar as estórias de Roma, por tudo isso opto por seguir com
uma mulher só, por um caminho longo.
Fonte: Minorulandia
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