8 de agosto de 2020

A HONRA DE SÓCRATES

Aqui caberia aquele dito de Homero: “Que não de carvalho, nem de pedra nasci, mas de criaturas humanas. Eu também possuo família, ó atenienses; tenho três filhos, um já crescido e dois ainda crianças, mas não os trouxe aqui para despertar vossa misericórdia e absolver-me”. E não é por orgulho que não me comporto assim, nem por desprezo, nem para provar que sou corajoso diante da morte, mas pela minha reputação, pela vossa e de toda a cidade, não me pareceu honroso agir desta maneira, ainda mais na minha idade e com o meu nome, verdadeiro ou falso que seja, porque corre pela cidade que, em quaisquer aspectos, Sócrates se distingue da maioria dos homens. (...) Perdi-me por falta, não de discursos, mas de atrevimento e descaramento, por me recusar a proferir o que mais gostais de ouvir, lamentos e gemidos, fazendo e dizendo uma porção de coisas que declaro indignas de mim, tais como costumais ouvir dos outros. Ora, se antes achei que o perigo não justificava indignidade alguma, tampouco me pesa agora da maneira por que me defendi; ao contrário, muito mais folgo em morrer após a defesa que fiz, do que folgaria em viver após fazê-la daquele outro modo.

Platão (Apologia de Sócrates; págs: 87 e 93)

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