21 de agosto de 2020

AS REGRAS DO JOGO

O Estado na frente [e não à frente] de tudo atrapalha muito mais do que ajuda; vai contra os processos de criação de oportunidades em maior qualidade e quantidade, inclusive as educacionais. O Estado que legisla demais, sobre absolutamente tudo, inevitavelmente cria um sistema inconsistente de normas e regras que nos deixa, a todos, pessoas e empresas, de alguma forma ilegais. E isso, como não poderia deixar de ser, forma a base do processo de criar dificuldades para vender facilidades. (...) Um excelente exemplo nacional [no pior sentido] é o BNDES, captando recursos a custos maiores do que investe e apostando em negócios de pouco ou nenhum risco, para os quais recursos já existentes na iniciativa privada dariam conta. (...) Claro que o comportamento dos executivos não vai mudar se não mudarem as regras do jogo. Mas os executivos não têm qualquer interesse em mudar as tais regras. E por que mudariam?

O Brasil de 2010 tem a mesma produtividade de serviços de 1960. Isso enquanto todo o mundo se torna uma economia de serviços e quando ainda há quem ache, aqui, que nossa parálise não tem nada a ver com o regime trabalhista mais conflituoso do planeta. (...) Christensen diz que os projetos Robin Hood de muitos governos, ao taxar os ricos e distribuir o resultado pela classe média e mais pobres, são voos de galinha. (...) Redistribuição de renda e incentivos à produção local, ao criar a ilusão de melhora da economia pelo aumento do consumo imediato, escondem os problemas de fundo, que são a ineficiência e a ineficácia do sistema de regeneração econômica. (...) A impressão de que o Brasil é assim mesmo… depois da redemocratização e de uma nova Constituição, mudanças de grande ordem de magnitude em qualquer cenário, se explica porque a mudança de regras de 1998 ocorreu em um contexto que não mudou, o das instituições mais profundas da nação, suas tradições, costumes, práticas seculares. (...) No Brasil, em particular, a situação é complicada: sem mudanças nas regras do jogo, que dependem da evolução das instituições informais, performances inovadoras, aqui, como se vê lá fora, são muito difíceis. Por que? Porque os sistemas de governança estão bem mais determinados [pela cultura e normas] a defender trabalhadores e consumidores do que a promover inovadores e empreendedores. (...) E o Brasil é o país mais litigioso do mundo (...), com mais de trinta vezes mais ações trabalhistas do que os EUA [que têm uma economia dez vezes maior; comparando por PIB, são trezentas vezes mais ações aqui do que lá]. E a tradição da nossa justiça do trabalho é de compensação social, o que leva as empresas a perderem quase sempre, seja qual for a causa. 

Silvio Meira (Novos Negócios Inovadores de Crescimento Empreendedor no Brasil; págs: 27, 58, 59, 60, 61 e 62)

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