23 de julho de 2020

"O MITO, PRESSUPOSTO NECESSÁRIO DE TODA RELIGIÃO"

É o destino de todo o mito ter de entrar pouco a pouco na estreiteza de uma pretensa efetividade histórica e ser tratado com pretensões históricas, por algum tempo mais tardio, como fato singular. (...) Este é o modo como as religiões costumam morrer: ou seja, quando os pressupostos míticos de uma religião, sob os olhos rigorosos, razoáveis, de um dogmatismo bem-pensante, são sistematizados como uma soma acabada de acontecimentos históricos e se começa angustiosamente a defender a credibilidade dos mitos, mas a rebelar-se contra toda sobrevivência e propagação dos mesmos, quando, portanto, o sentimento pelo mito morre, e em seu lugar se introduz a pretensão da religião a ter bases históricas.

Pela tragédia o mito chega a seu conteúdo mais profundo, a sua forma mais expressiva; mais uma vez ele se levanta, como um herói ferido, e todo o excedente de força, ao lado da sábia tranquilidade do moribundo, queima em seu olho com última, poderosa luminosidade.

Friedrich Nietzsche (O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música; pág: 33)

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