25 de agosto de 2020

SOCIEDADE HIERÁRQUICA

Pawel Kuczynski

Ficou claro que o aumento global da riqueza talvez significasse a destruição - na verdade em certo sentido foi a destruição - da sociedade hierárquica. Num mundo no qual todos trabalhassem pouco, tivessem o alimento necessário, vivessem numa casa com banheiro e refrigerador e possuíssem carro ou até avião, a forma mais óbvia e talvez mais importante de desigualdade já teria desaparecido. Desde o momento em que se tornasse geral, a riqueza perderia seu caráter distintivo. Claro, era possível imaginar uma sociedade na qual a riqueza, no sentido de bens e luxos pessoais, fosse distribuída equitativamente, enquanto o poder permanecia nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Na prática, porém, uma sociedade desse tipo não poderia permanecer estável por muito tempo. Porque se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si; e depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela. A longo termo, uma sociedade hierárquica só era possível num mundo de pobreza e ignorância.

George Orwell (1984; págs: 225 e 226)

 

A burrice é muito útil, do ponto de vista político e social. Aldous Huxley afirma que a estabilidade social do Admirável Mundo Novo se devia aos mecanismos psicopedagógicos cujo objetivo era emburrecer as pessoas. A educação se presta aos mais variados fins. Pessoas inteligentes, que vivem pensando e tendo idéias diferentes, são perigosas. Ao contrário, a ordem político-social é mais bem servida por pessoas que pensam os mesmos pensamentos, isto é, pessoas emburrecidas. Porque ser burro é precisamente isso, pensar os mesmos pensamentos - ainda que sejam pensamentos grandiosos. Prova disso são as sociedades das abelhas e das formigas, notáveis por sua estabilidade e capacidade de sobrevivência.

Rubem Alves (Por Uma Educação Romântica; pág: 88) 

 

Nós acreditamos na felicidade e na estabilidade. Uma sociedade composta de Alfas não poderia deixar de ser instável e infeliz. Imagine uma usina cujo pessoal fosse constituído por Alfas, isto é, por indivíduos distintos, sem relações de parentesco, com boa hereditariedade e condicionados de modo a tornarem-se capazes (dentro de certos limites) de fazerem livremente uma escolha e de assumirem responsabilidade. (...) É um absurdo. Um homem decantado como Alfa, condicionado como Alfa, ficaria louco se tivesse de fazer o trabalho de um Ípsilon Semialeijão; ficaria louco ou se poria a destruir tudo. Os Alfas podem ser completamente socializados, mas com a condição de que se lhes dê um trabalho de Alfa. Somente a um Ípsilon se pode pedir que faça sacrifícios de Ípsilon, pela simples razão de que, para ele, não são sacrifícios. São a linha de menor resistência.

Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo; págs: 266 e 267)

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