20 de agosto de 2020

DIONISÍACO

É preciso coragem e, como sua condição, um excedente de força: pois é precisamente até onde a coragem pode ousar avançar, precisamente na medida da força, que nos aproximamos da verdade. O conhecimento, o dizer-sim à realidade, é para os fortes uma necessidade, tal como para os fracos, sob a inspiração da fraqueza, a covardia e a fuga da realidade - o “ideal” … Eles não têm a liberdade de conhecer: os décadents precisam da mentira - ela é uma de suas condições de conservação. - Quem não só compreende a palavra “dionisíaco”, mas se compreende na palavra “dionisíaco”, não precisa de nenhuma refutação de Platão ou do cristianismo ou de Schopenhauer - sente o cheiro da decomposição. “O dizer-sim à vida, até mesmo em seus problemas mais estranhos e mais duros, a vontade de vida, alegrando-se no sacrifício de seus tipos mais superiores à sua própria inexauribilidade - foi isso que denominei dionisíaco, foi isso que entendi como ponte para a psicologia do poeta trágico.” (...) A afirmação do perecimento e do aniquilamento, o que é decisivo em uma filosofia dionisíaca, o dizer-sim à contradição e à guerra, o vir-a-ser, com radical recusa até mesmo do conceito de “ser” - nisso tenho de reconhecer, sob todas as circunstâncias, o mais aparentado a mim que até agora foi pensado. (...) A arte mais alta no dizer-sim à vida, a tragédia, renascerá quando a humanidade tiver atrás de si a consciência da mais dura, mas da mais necessária das guerras, sem sofrer com isso...

Friedrich Nietzsche (Sobre “O Nascimento da Tragédia”; págs: 46, 47 e 48)

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