Antigamente, a natureza humana não era como a atual. No princípio havia três sexos, e não dois como agora, masculino e feminino. Havia ainda um terceiro, que participava do masculino e do feminino e que agora desapareceu, apesar de permanecer o seu nome. Naquele tempo, de fato, existia o sexo andrógino, que compartilhava o nome e a forma de ambos os sexos, o masculino e o feminino, mas do qual agora resta somente o nome, usado num sentido pejorativo. Em segundo lugar, a figura das pessoas era completamente redonda, as costas e os quadris formavam um círculo, e elas tinham quatro mãos e quatro pernas, e sobre o pescoço redondo, dois rostos idênticos. Essas duas faces que estavam viradas para lados opostos se encontravam numa única cabeça com quatro orelhas, e todos os outros detalhes podem ser imaginados a partir dessas indicações...
E os sexos eram três, enquanto o macho se originou do sol, a fêmea originou-se da terra, e o terceiro sexo, que tinha elementos em comum com ambos, originou-se da lua, que, justamente, compartilha da natureza do sol e da terra. E eles eram redondos, assim como redonda era a maneira como procediam, por semelhança a seus genitores. Assim, eram terríveis na força e no vigor e tinham soberbas ambições e atacavam os deuses... Então, Zeus teve uma ideia e disse: "acredito que encontrei uma forma na qual os seres humanos podem continuar a existir, porém renunciando às suas insolências. Cortarei cada um pela metade, e assim se enfraquecerão, mas ao mesmo tempo duplicarão de número e se tornarão mais unidos a nós..." Dito isso, começou a cortar os seres humanos em dois pedaços, como se fazem com as sorvas, antes de pô-las no sal, ou como se faz com a casca do ovo... Assim, como a forma originária foi cortada em duas, cada metade sentia nostalgia da outra e a procurava... Portanto, ao desejo e à busca da completude dá-se o nome de amor.
Platão (O banquete)
Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 162 e 163)
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