3 de julho de 2014

GLOBALIZAÇÃO

A globalização atual representa somente o êxito mais elaborado de uma tendência perene do homem, de explorar e depois colonizar todo o território que ele pensa que exista, até construir uma única aldeia. O primeiro impulso à globalização consiste na tendência a descobrir, conhecer e mapear o planeta e o universo. O segundo consiste no escambo, ou troca de mercadorias, num raio cada vez mais amplo, até abranger a totalidade do mundo conhecido. O terceiro impulso consiste na tentativa de colonizar materialmente os povos limítrofes e, depois, aos poucos, também os povos mais longínquos, até englobar o planeta inteiro. O quarto impulso consiste em invadir todos os mercados com as próprias mercadorias. O quinto, em invadir todo o mundo conhecido com as próprias ideias. O sexto impulso é o de expandir o raio de ação dos próprios capitais, da própria moeda, das próprias fábricas. Hoje, as novidades são sobretudo três, e conotam um sétimo tipo de globalização: pela primeira vez um país de enorme potência - os Estados Unidos - governa todo o planeta e se prepara para colonizar ainda outros. Pela primeira vez estas várias formas de globalização estão todas copresentes e potencializam seus efeitos reciprocamente. E pela primeira vez a estrada da unificação política e material é aplanada pelos meios de comunicação de massa e pelas redes telemáticas. O universalismo e o ecumenismo que antes, como já vimos, diziam respeito somente aos impérios políticos, a algumas religiões e à língua latina, hoje concernem a todo e qualquer aspecto da vida: da criminalidade ao cartão da American Express, do vestuário aos perfumes, das batatinhas fritas ao design, dos remédios aos combustíveis.

O conjunto desses fatores produz uma oitava forma de globalização: a psicológica. Despertamos todos os dias com um radio-relógio que dá as notícias do mundo todo. Tomamos banho debaixo de um chuveiro cujas torneiras são alemãs e com um sabonete francês. Vamos para o trabalho com um carro cujo design foi feito na Itália, mas cujas peças provêm de vários países, como o Japão e a Coreia. Competimos nos mercados mundiais com capitais de joint-ventures, vendemos mercadorias e informações em todas as praças do planeta, escutamos um disco gravado em estúdios de diversos países e depois mixado em outros, sabemos que um vírus pode girar o mundo em poucos dias e infectar-nos de uma hora para outra. Vivemos numa cidade, trabalhamos em outra e tiramos férias numa terceira, atingindo cada uma delas num piscar de olhos. Conversamos em tempo real com o correio eletrônico, nos falamos e nos vemos através dos oceanos e dos continentes. Tudo isso provoca uma certa vertigem de onipotência, mas revela também a nossa fragilidade humana, jogando trabalhadores, empresas, homens políticos e os Estados numa competição cada vez mais opressiva entre concorrentes sempre mais numerosos e astutos, com o perigo crescente de perder aquilo que está em jogo.

Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 149 e 150)

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