1 de julho de 2014

INTERVENÇÃO HUMANA

Diante da mudança, dois tipos de reação são sempre possíveis: euforia e temor. Diante da possibilidade de gerar um filho com técnicas artificiais, por exemplo, há quem se entusiasme, porque vê nisso tudo uma grande oportunidade: oferecer também aos casais estéreis a possibilidade de procriar. E há quem se atemorize, vendo nisso tudo uma subversão da natureza. (...) A mudança assusta sempre. E assusta tanto mais quanto mais se aproxima do âmbito genital, no sentido etimológico da palavra, isto é, da origem da vida. Parece-nos a violação de uma esfera sagrada, porque desconhecida. (...) Imaginar que até o amor, que é uma emoção, possa depender de fatores bioquímicos atormenta todo aquele que tenha escolhido o atalho explicativo feito de sagrado e mistério. Afirmar que "tudo depende de Deus" é uma explicação cômoda: não há nada que deva ser feito, pode-se cruzar os braços. Em muitas culturas, transforma-se em fatalismo. Tome, por exemplo, as testemunhas de Jeová, que afirmam: "A saúde me vem de Deus, se ele quiser me salva, portanto não devo interferir com tratamentos, nem transfusões."

No entanto, a história da humanidade é a história da intervenção humana na natureza para domá-la. Para isto desviamos rios, inventamos o para-raios, casas e remédios. Há quem veja e tema nessa domesticação a sua dimensão aterrorizante. Outros, no entanto, e eu me encontro entre eles, valorizam a sua dimensão salvadora. Não excluo os perigos do progresso tecnológico, porém dou mais peso aos seus aspectos positivos. Por exemplo, o fato de o homem ter conseguido duplicar a duração da própria vida me parece uma conquista extraordinária. E como teria realizado tal feito sem o auxílio tecnológico?

Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 85 e 86)

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