1 de julho de 2014

NEOLIBERALIZANDO

Durante setenta anos perdurou a disputa entre dois sistemas econômicos e políticos, o comunismo e  o capitalismo. A queda do Muro de Berlim sancionou a vitória do segundo, que com isso adquiriu um excesso de confiança eufórica em relação ao livre mercado, à concorrência e à competitividade. Os últimos dez anos do século XX serão recordados como o período mais influenciado pelo liberalismo. Os capitalistas aperfeiçoaram no mundo todo uma estratégia precisa, guiados por Reagan, nos EUA, e por Thatcher, na Grã-Bretanha. Com um grande uso da mídia, elaboraram uma campanha para atacar tudo que é público: burocracia, empresas estatais, transportes, previdência social e ensino. Obtiveram assim a privatização dos setores mais lucrativos da economia e compraram a baixo preço as ações das sociedades privadas: companhias de transporte ferroviário, eletricidade, telecomunicações, tudo aquilo de maior valor dos patrimônios estatais. Como se não bastasse, fizeram de forma a receber de volta o dinheiro que tinham pago ao Estado, na forma de incentivos fiscais ou empréstimos a baixo custo e com prazos a perder de vista.
 
Depois disso, começaram a reduzir os custos nessas empresas privatizadas, realizando fusões e demitindo empregados. Desta maneira, acumularam quantias imensas de dinheiro. (...) Mas a maior parte da riqueza acumulada foi investida no mercado financeiro, isto é, na Bolsa, onde o rendimento é rápido e não apresenta os riscos da iniciativa empresarial e o estresse da administração de uma sociedade ou companhia. (...) E mais ainda, sejam de direita, sejam de esquerda, os ministros responsáveis pela área econômica continuam a ter esperanças de que o desemprego possa ser debelado com a clássica arma dos novos investimentos e para isso fazem a corte aos empresários, oferecendo-lhes incentivos fiscais e empréstimos a prazos indeterminados. Apesar disso, os empresários investem cada vez menos e, quando o fazem, preferem jogar na Bolsa, comprar um robô ou abrir uma fábrica num país do terceiro mundo.

Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 96, 97 e 101)

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