1 de julho de 2014

PROGRESSO AOS TRANCOS E BARRANCOS

O produto interno bruto do planeta aumenta a um índice superior a 3% ao ano. E a riqueza atinge até mesmo as zonas mais pobres: talvez sob a forma de remédios e alimentos com a validade vencida, ou ainda sob a forma de anticoncepcionais. Enquanto os países ricos continuam a progredir, existem alguns países que eram pobres no passado e entraram numa via muito rápida para o desenvolvimento: na Coreia, Cingapura, Taiwan e Malásia, o perfil do PIB, que já dura alguns anos, registra um aumento anual de 10%. São países que hoje se acham numa situação equivalente à da Inglaterra do século XIX, com a mesma exploração dos trabalhadores. Posso parecer cínico, mas isso significa, mesmo assim, um alvorecer do progresso. Até porque, em relação à velha Inglaterra, esses países vivem um outro tipo de desenvolvimento, além do industrial: o desenvolvimento dos meios de comunicação, graças ao qual podem ter notícias e ser informados, em tempo real, sobre o que acontece em outras partes do planeta. Desse modo, os conflitos de classe que sacudiram a Coreia, dez anos depois do início da sua industrialização, são mais ou menos equivalentes aos que sacudiram a Inglaterra, cem anos depois da invenção da máquina a vapor: diminui o tempo que dura a exploração, assim como aquele necessário para que se deflagre a rebelião. (...).

A questão é que as exigências dos países ricos mudaram: antes precisavam de matéria-prima, agora necessitam de mão de obra e mercado para suas exportações. É exploração? Sem dúvida. Mas, apesar disso, é uma exploração inferior à exploração colonial, na qual as grandes potências se apropriavam das matérias-primas e reduziam as populações nativas à escravidão. Representa, portanto, uma melhora, nem que seja pelo simples motivo de que o trabalho é de alguma forma remunerado. (...) Em 1992, o salário anual de um simples empregado de meio expediente da Nike, nos Estados Unidos, era superior à soma dos salários de todas as moças da Indonésia que no mesmo período tinham trabalhado nas empresas fornecedoras da Nike americana. Nos últimos vinte anos, a Nike transferiu suas fábricas primeiro para a Coreia e Taiwan e, depois, quando os trabalhadores desses países começaram a se sindicalizar, para a China e para a Tailândia, onde os salários são ainda mais miseráveis. (...) A única coisa certa é que o primeiro mundo comprará, cada vez mais, o esforço humano do terceiro mundo e ainda pagará baixos salários por ele. (...) Na Itália, uma hora de trabalho custa vinte e quatro dólares, no Brasil, doze, em Cingapura, sete, na China, um, e na Malásia, sessenta e cinco centavos de dólar. Logo, produzir na região do Vêneto, em vez de produzir em Pequim, mais cedo ou mais tarde se tornará um suicídio.

Domenico de Masi (O Ócio Criativo; págs: 90, 91, 92 e 93)

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