Um inimigo fictício que pode lhe destruir ou se tornar seu melhor companheiro: a Morte. O homem é o único ser na natureza que tem consciência de que vai morrer. Por isso, e apenas por isso, tenho um profundo respeito pela raça humana, e acredito que seu futuro será muito melhor do que seu presente. Mesmo sabendo que seus dias estão contados e tudo irá se acabar quando menos espera, ele faz da vida uma luta digna de um ser eterno. O que as pessoas chamam de vaidade – deixar obras, filhos, fazer com que seu nome não seja esquecido – eu considero a máxima expressão da dignidade humana. Acontece que, criatura frágil, ele sempre tenta ocultar de si mesmo a grande certeza da Morte. Não vê que ela é que o motiva a fazer as melhores coisas da sua vida. Tem medo do passo no escuro, do grande terror do desconhecido, e sua única maneira de vencer esse medo é esquecer que seus dias estão contados. Não percebe que, com a consciência da Morte, seria capaz de ousar muito mais, de ir muito mais longe nas suas conquistas diárias – porque não tem nada a perder, já que a Morte é inevitável. (...) A minha verdadeira Morte, amiga e conselheira, que não ia mais me deixar ser covarde nem um dia de minha vida. A partir de agora, ela ia me ajudar mais do que a mão e os conselhos de Petrus. Não ia mais permitir que eu deixasse para o futuro tudo aquilo que eu podia viver agora. Não me deixaria fugir das lutas da vida e ia me ajudar a combater o Bom Combate. Nunca mais, em momento algum, eu iria me sentir ridículo ao fazer qualquer coisa. Porque ali estava ela, dizendo que, quando me pegasse nas mãos para viajarmos até outros mundos, eu não devia carregar comigo o maior pecado de todos: o Arrependimento. Com a certeza de sua presença, olhando seu rosto gentil, eu tive a convicção de que ia beber com avidez da fonte de água viva que é esta existência.
Paulo Coelho (O Diário de um Mago; págs: 120 e 128)
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