Será que a internet prenunciaria um reinado de abertura industrial sem fim (...) Ou será que, apesar de seu projeto radicalmente descentralizado, se tornaria, com o tempo, o próximo alvo lógico das insuperáveis forças do império da informação [?] (...) Será que a internet é diferente de fato? Todas as demais invenções do mesmo tipo tiveram um período de abertura só para se tornar a base de outros impérios da informação. O que é mais forte: o radicalismo da internet ou a inevitabilidade do Ciclo? (...) Ainda resta ver o quanto a internet permanecerá aberta, mas há poucas dúvidas de que a estrutura industrial monopolista que caracterizou o século XX afinal já fincou o pé na rede. Seja qual for a noção anterior, de que a internet, por sua natureza, estava imune à monopolização, o presente já deixou claro a loucura do excesso de otimismo. O Ciclo mais uma vez está em movimento. (...) Na mitologia hindu, demônios e deidades assumem diferentes encarnações para lutar sempre as mesmas batalhas. No início dos anos 2010, ficou claro que a batalha pelo futuro da internet era apenas a mais recente reprodução da perene luta ideológica para a qual toda a indústria de informação acaba sendo arrastada. É o velho conflito entre o grande e o pequeno, entre os conceitos de sistema aberto e fechado, entre as forças de ordem centralizadora e as da variedade dispersa. Os antagonistas assumem novas formas, os generais mudam, mas são essencialmente as mesmas batalhas travadas mais uma vez. Esta é a própria essência do Ciclo, e mesmo uma tecnologia tão radical e poderosa como a internet só é capaz de moderá-la, não de aboli-la.
Tim Wu (Impérios da Comunicação; págs: 19, 308, 328 e 346)
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