Em 10 de janeiro de 2000, os dois [Steve Case e Gerald Levin] estavam numa coletiva de imprensa anunciando um revolução: a fusão de 350 bilhões de dólares entre a maior companhia de mídia do mundo e a maior empresa de internet. A AOL seria o motor que levaria as velhas holdings de mídia da Time Warner - um tesouro do que veio a ser conhecido como "conteúdo" - ao mundo novo. (...) Não é preciso ser gênio para fazer uma análise retrospectiva e perceber as limitações de um portal sem uma ferramenta de busca e que oferecia o conteúdo de uma só empresa. (...) Não havia um lugar lógico para a AOL na era da banda larga. (...) O principal fato é que a AOL tinha chegado à maioridade antes da internet de massa. No início dos anos 1990, você não discava a fim de surfar em liberdade, mas para acessar a própria AOL e falar com outros usuários da AOL. Talvez seja um fato difícil de entender para quem nasceu e se criou com a internet, porém, naqueles primórdios, a AOL era a plataforma; no jargão, operava como um "jardim murado" para os usuários.
Nos anos 1990, quando a internet começou a crescer em popularidade nos campi universitários, umas poucas empresas criativas passaram a oferecer serviço de internet em casa. Sua popularidade acabaria forçando a AOL a mudar o modelo de negócios, de modo a fornecer a seus milhões de usuários acesso direto à internet, e não só ao jardim murado da AOL. Foi uma decisão tomada com relutância, pois Case e seus colegas sabiam que o acesso à internet lhes custaria o controle sobre os clientes. Não obstante, com os novos provedores de serviço de internet beliscando seus calcanhares, a AOL deixou de ser sobretudo uma empresa de serviços online para se tornar principalmente um provedor de serviços de internet. No início, durante os anos 1990, a estratégia funcionou muito bem. Todo mundo queria saber o que era a internet, e a AOL era a maneira mais fácil de chegar lá, porque ela postou um CD nas caixas de correios de todo mundo (o valor de exemplares gratuitos foi uma das coisas que Case aprendeu em sua carreira anterior como gerente de marketing da P&G). Nesse sentido, a AOL foi uma parte importante da revolução de massa da internet.
O problema para a AOL na passagem dos anos 1990 para os 2000 foi que já havia no horizonte uma nova maneira de acessar a internet: a banda larga. As companhias de cabo e telefone conseguiram obter velocidades mais altas a partir das antigas fiações e linhas telefônicas, e agora ofereciam aos clientes uma conexão de internet rápida e direta. O problema era que, já no projeto, o serviço de banda larga tornava a AOL desnecessária. O modelo de negócios desta tinha como premissa a "discagem" - conectava-se à AOL para chegar à internet. Com o novo Digital Service Lines (DSL) e de banda larga, as companhias telefônicas e de cabo ofereciam aos clientes a internet direta, eliminando provedores de serviços como a AOL. (...) Em 2000, a AOL era vista como a empresa da "nova mídia", a revigoradora da "velha mídia" fóssil - o destino temido por Levin para a Time Warner. Mas, na verdade, ela era um dinossauro mancando em direção à nova era. Obter suas próprias linhas de cabo era uma questão de vida ou morte, e a fusão com a Time Warner era uma maneira de conseguir isso. De modo mais cínico, pode-se dizer que Steve Case, que compreendeu os problemas da AOL, escolheu esse momento para capitalizar as ações literais e figurativas da empresa na hora em que elas não podiam subir mais. Um ano depois da fusão, com a emergência das empresas ponto com, a AOL estava valendo bem menos que os 240 bilhões de dólares do auge de sua existência.
Em 2000 ela já era menos uma destinação em si - a plataforma que fora - e se tornara só a maneira mais popular de acessar a rede. Embora pudesse alardear seus 30 milhões de assinantes, ela não conseguia exercer um controle significativo sobre eles. Uma vez on-line, o usuário podia ir aonde quisesse, pois a internet era capaz de conectar duas pessoas quaisquer, fossem elas quem fossem. O surgimento de ferramentas de busca e nomes de domínios apenas exacerbaria o problema. (...) No máximo, a AOL podia recomendar o conteúdo da Time Warner. (...) Em 9 de dezembro de 2009, a apenas um mês do 10º aniversário, o desastroso casamento da AOL com a Time Warner terminou em divórcio.
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