A principal característica espacial da sociedade em rede é a conexão em rede entre o local e o global. A arquitetura global de redes globais conecta seletivamente os lugares, de acordo com seu valor relativo para a rede. Pesquisas urbanísticas recentes, como as de Peter Taylor e dos pesquisadores da Loughborough University, demonstram a importância da lógica de formação de redes globais para a concentração de atividades e população nas regiões metropolitanas. Isso não significa apenas que essas regiões estão conectadas globalmente, mas que as redes globais, e o valor que elas processam, precisam operar a partir de nós na rede. Os centros financeiros em Londres, Tóquio ou Nova York não produziram um mercado financeiro global constituído de redes de computadores em comunicação remota e sistemas de informação. O mercado financeiro global reestruturou e reforçou os lugares, velhos e novos, de onde os fluxos globais de capital são geridos. Não se trata de cidades globais, mas de redes globais que estruturam e mudam áreas específicas de algumas cidades por meio de suas conexões. (...) As funções globais de certas áreas de certas cidades são determinadas por sua conexão às redes globais de criação de valor, transações financeiras, funções gerenciais ou de outro tipo. A partir desses pontos nodais, através da operação de serviços avançados, se expande a base econômica e infra-estrutural da região metropolitana. Assim, é a dinâmica mutante das redes, e de cada rede específica, que explica a conexão com certos lugares, e não os lugares que explicam a evolução das redes.
Os pontos de conexão nessa arquitetura global de redes são os lugares que atraem riqueza, poder, cultura, inovação e pessoas, inovadoras ou não. Para se tornarem nós das redes globais, esses lugares precisam de uma infra-estrutura multidimensional de conectividade: transporte multimodal via ar, mar e terra; redes de comunicação; redes de computadores; sistemas avançados de informação e toda a infra-estrutura de serviços acessórios (de contabilidade, a segurança, hotéis e entretenimento) necessários para o funcionamento do nó. Cada uma dessas infra-estruturas precisa ser servida por pessoal altamente capacitado cujas necessidades devem ser satisfeitas por trabalhadores do setor de serviços. Esses são os ingredientes para o crescimento da região metropolitana. Locais de conhecimento e redes de comunicação são os atrativos espaciais da economia da informação, como os locais onde havia recursos naturais e as redes de distribuição de energia determinaram a geografia da economia industrial. E isso vale para Londres, Bombaim, São Paulo ou Johannesburgo. Cada país tem seu(s) grande(s) nó(s) que o conecta(m) a redes globais estratégicas. Esses nós são a base da formação de regiões metropolitanas que determinam a estrutura espacial local/global de cada país por meio de sua formação interna e multi-estratificada de redes. Fora desses pontos de criação de valor em rede, ficam os espaços de exclusão, ou, tomando emprestado o conceito de Dear e Wolch, as "paisagens de desespero", tanto intrametropolitanas quanto rurais.
Manuel Castells (A Era da Informação: A Sociedade em Rede - Prefácio; págs: XX e XXI)
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