22 de julho de 2021

COBIÇA E MEDO

Summers [Larry] concebe a economia americana como uma série de circuitos de feedbacks. Um feedback simples é aquele entre oferta e demanda. Imagine que você montou uma barraca para vender limonada. Se você abaixa o preço do produto, as vendas sobem; se aumenta, elas caem. Se está lucrando muito porque está fazendo 38 graus Celsius e você é o único a vender limonada no quarteirão, o menino mala sem alça que mora do outro lado da rua abrirá sua própria barraca para vender limonada, e você precisará diminuir seu preço. A relação entre oferta e procura é um exemplo de feedback negativo: à medida que os preços sobem, as vendas caem. Apesar do nome, essas respostas são boas para a economia de mercado. Imagine se o contrário acontecesse e as vendas subissem junto com os preços. (...) Essa situação seria um exemplo de feedback positivo. E, embora pareça uma coisa boa à primeira vista, você logo se dará conta de que todos no país terão ido à falência por causa da limonada. Não sobraria ninguém para fabricar os videogames que você pretendia comprar com seus lucros.

Normalmente, na visão de Summers, os feedbacks negativos predominam na economia americana, funcionando como uma espécie de termostato que a impede de entrar em recessão ou de superaquecer. Summers acredita que um dos mais importantes feedbacks ocorre entre o que ele chama de medo e cobiça. Alguns investidores mostram pouco apetite para risco, e outros mostram muito, mas suas preferências se compensam, criando um equilíbrio: se o preço de determinada ação cai porque a situação financeira de uma empresa se deteriorou, o investidor temeroso vende suas ações para um comprador ganancioso, que espera transformar a compra em futura vantagem. No entanto, cobiça e medo são variáveis voláteis, e o equilíbrio pode ser perdido. Quando há excesso de cobiça no sistema, ocorre uma bolha. Quando há excesso de medo, existe pânico.

Nate Silver (O Sinal e o Ruído; págs: 45 e 46)

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