Gostaria que o senhor me concedesse a oportunidade de dar-lhe uma pequena aula sobre a história bancária suíça. (...) Toda essa noção de contas numeradas é de alguma forma enganosa. Apesar de ser verdade que todos os bancos suíços oferecem a seus clientes essa opção, como uma forma de manter-lhes a privacidade, cada conta é ligada a um nome, que é mantido registrado no banco. (...) Muitos anos atrás, antes da Segunda Guerra Mundial, não era assim que funcionava. Naquela época, era uma prática comum entre banqueiros suíços abrir uma conta sem um nome ligado a ela. Tudo era baseado em relações pessoais e um aperto de mãos. Muitas dessas contas eram mantidas no nome de corporações. Mas, ao contrário das corporações nos Estados Unidos, essas eram corporações de portadores, as quais, mais uma vez, não tinham nenhum nome ligado a elas. Em outras palavras, quem quer que fosse o portador dos certificados físicos de ações da corporação seria considerado o proprietário legal.
Mas então veio Adolf Hitler e os desprezíveis nazistas. (...) Antes de Hitler conseguir varrer a Europa, juntar seis milhões de judeus e exterminá-los nas câmeras de gás, muitos conseguiram transferir seu dinheiro para a Suíça. No começo dos anos 1930, eles perceberam o que estava por vir quando os nazistas estavam chegando ao poder. Mas esconder o dinheiro provara ser bem mais fácil do que se esconder. Praticamente todos os países europeus, com exceção da Dinamarca, negaram asilo a milhões de judeus desesperados. A maioria desses países fechara acordos secretos com Hitler, aceitando entregar suas populações judias se Hitler concordasse em não os atacar. Foram acordos que Hitler rapidamente renegou, assim que teve todos os judeus enfiados com segurança em campos de concentração. E quando nação após nação era derrotada pelos nazistas, os judeus não tinham mais onde se esconder. A ironia disso tudo era que a Suíça fora tão rápida em aceitar o dinheiro judeu quanto relutante em aceitar as almas judias.
Depois que os nazistas foram finalmente derrotados, muitas das crianças sobreviventes vieram à Suíça em busca das contas bancárias secretas de suas famílias. Mas não havia como provar que tinham direito a elas. Afinal de contas, não havia nomes ligados à contas, apenas números. A não ser que as crianças sobreviventes soubessem exatamente em que banco seus pais haviam guardado o dinheiro e precisamente com qual banqueiro fizeram negócios, não tinha como eles requisitarem o dinheiro. Até aquele dia, bilhões e bilhões de dóalres ainda não haviam sido sacados. (...) Apenas os mais nobres banqueiros suíços tiveram a dignidade de garantir que os herdeiros corretos recebessem o que lhes fora deixado. E em Zurique - que estava cheia de chucrutes do caralho - seria quase impossível encontrar amigos dos judeus. (...) A natureza humana era a natureza humana. E todo aquele dinheiro judeu ficara perdido para sempre, absolvido pelo próprio sistema bancário suíço, enriquecendo esse minúsculo país de forma sem igual, o que provavelmente era a razão de não haver mendigos na rua.
Jordan Belfort (O Lobo de Wall Street; págs: 143 e 144)
19 de janeiro de 2021
UMA BREVE HISTÓRIA DO SISTEMA BANCÁRIO SUÍÇO
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