30 de novembro de 2020

A BÍBLIA NÃO CHEGOU POR FAX DO CÉU

A bíblia não chegou por fax do céu. (...) A Bíblia é um produto do homem. (...) Não de Deus. A Bíblia não caiu magicamente das nuvens. O homem a criou como relato histórico de uma época conturbada, e ela se desenvolveu através de incontáveis traduções, acréscimos e revisões. A história jamais teve uma versão definitiva do livro. (...) Jesus Cristo foi uma figura histórica de uma influência incrível, talvez o mais enigmático e inspirador líder que o mundo jamais teve. Como o Messias profetizado, Jesus derrubou reis, inspirou multidões e fundou novas filosofias. (...) Mais de 80 evangelhos foram estudados para compor o Novo Testamento, e no entanto apenas alguns foram escolhidos – Mateus, Marcos, Lucas e João. (...) Foi uma colagem composta pelo imperador romano Constantino, o Grande. (...) Na época de Constantino, a religião oficial de Roma era o culto de adoração ao Sol – o culto do Sol Invictus, ou do Sol Invencível -, e Constantino era o sumo sacerdote! Infelizmente para ele, Roma estava passando por uma revolução religiosa cada vez mais intensa. Três séculos depois da crucificação de Jesus, seus seguidores haviam se multiplicado exponencialmente. Os cristãos e pagãos começaram a lutar entre si, e o conflito chegou a proporções tais que ameaçou dividir Roma ao meio. Constantino viu que precisava tomar uma atitude. Em 325 d.C., ele resolveu unificar Roma sob uma única religião: o cristianismo. (...).

Constantino era um bom negociador. Enxergou a ascensão do cristianismo e simplesmente apostou no cavalo que estava vencendo. Os historiadores ainda se maravilham ante a eficiência demonstrada por Constantino ao converter os pagãos adoradores do Sol em cristãos. Fundindo símbolos, datas, rituais pagãos com a tradição cristã em ascensão, ele gerou uma espécie de religião híbrida aceitável para ambas as partes. (...) Os vestígios da religião pagã na simbologia são inegáveis. Os discos solares egípcios tornaram-se as auréolas dos santos católicos. Os pictogramas de Ísis dando o seio a seu filho Hórus milagrosamente concebido tornaram-se a base para nossas modernas imagens da Virgem Maria com o Menino Jesus no colo. E praticamente todos os elementos do ritual católico – a mitra, o altar, a doxologia e a comunhão, o ato de “comer Deus”, por assim dizer – foram diretamente copiados de religiões pagãs místicas mais antigas. (...) Nada é original no cristianismo. (...) O deus pré-cristão Mitra – chamado o filho de Deus e a Luz do Mundo – nasceu no dia 25 de dezembro, morreu, foi enterrado em um sepulcro de pedra e depois ressuscitou em três dias. Aliás, o dia 25 de dezembro é também o dia de celebrar o nascimento de Osíris, Adônis e Dioniso. O recém-nascido Krishna recebeu ouro, incenso e mirra. Até mesmo o dia santo semanal dos cristãos foi roubado dos pagãos. (...) Originalmente (...) a cristandade celebrava o sabá judeu no sábado, mas Constantino mudou isso de modo que a celebração coincidisse com o dia em que os pagãos veneram o Sol. (...) Até hoje, a maioria dos fiéis vai à Igreja na manhã de domingo, sem fazer a menor ideia de que estão ali para pagar tributo semanal ao deus-sol, e por isso em inglês o domingo é chamado de sun-day, ou “dia do Sol”. (...).

Durante essa fusão de religiões, Constantino precisou reforçar a nova tradição cristã, e para isso promoveu uma famosa reunião ecumênica conhecida como Concílio de Nicéia. (...) Nesse concílio (...) muitos aspectos do cristianismo foram debatidos e receberam votação – a data da Páscoa, o papel dos bispos e a administração dos sacramentos, além, naturalmente, da divindade de Jesus. (...) Até aquele momento da história, Jesus era visto pelos seus discípulos como um mero profeta mortal... um grande e poderoso homem, mas que não passava de um homem. Um mortal. (...) Jesus só passou a ser visto como “Filho de Deus” no Concílio de Nicéia, depois que esse título foi proposto e aprovado por votação. (...) Declarar que Jesus tinha origem divina era fundamental para a posterior unificação do Império Romano e para lançar as bases do novo poderio do Vaticano. Confirmando oficialmente Jesus como o Filho de Deus, Constantino transformou Jesus em uma divindade que existia além do alcance do mundo humano, uma entidade cujo poder era incontestável. Isso não só evitava mais contestações pagãs à cristandade, como os seguidores de Cristo só poderiam se redimir através do canal sagrado estabelecido – a Igreja Católica Romana. (...) Tudo não passou de uma disputa de poder (...) Cristo, como o Messias, era fundamental para o funcionamento da Igreja e do Estado. Muitos estudiosos alegam que a Igreja Católica Romana literalmente roubou Jesus de seus seguidores originais, sufocando sua mensagem humana ao envolvê-la em um manto impenetrável de divindade e usando-a para expandir seu próprio poder. (...) Como Constantino promoveu Jesus a divindade quase quatro séculos depois da sua morte, existem milhares de documentos contendo crônicas da vida Dele como homem mortal. Para reescrever os livros de história, Constantino sabia que ia precisar tomar uma iniciativa ousada. Surgia naquele momento o fato crucial para a história cristã. (...) Constantino mandou fazer uma Bíblia novinha em folha, que omitia os evangelhos que falavam do aspecto humano de Cristo e enfatizada aqueles que o tratavam como divino. Os evangelhos anteriores foram considerados heréticos, reunidos e queimados. (...) Qualquer pessoa que escolhesse os evangelhos proibidos em vez da versão de Constantino era considerado herege. A palavra herege vem desse momento histórico. A palavra latina hereticus significa “escolha”. Aqueles que “escolheram” a história original de Cristo foram os primeiros hereges do mundo.

Dan Brown (O Código Da Vinci; págs: 189, 190, 191 e 192)

Um comentário:

Unknown disse...

Estou satisfeito de concientizar que a biblia é coisa de homens.eo jesus do cristianismo criado do paganismo por Constantino aprovei obrigado🙏🙏🙏🇧🇷