9 de março de 2019

MERGULHAR NA AÇÃO

Andy Hug

Concordei em deixar Joe me mostrar as técnicas de autossugestão que, no meu caso, envolviam ficar repetindo frases como: "Eu estou me sentindo relaxado" ou "Eu não vou jogar a bola com força demais", para reprogramar meu subconsciente. No dia seguinte, arremessei melhor do que nunca. Normalmente, eu tentava vencer os rebatedores na marra, mas quanto mais determinado em arrasar o rebatedor, mais ansioso ficava, e portanto mais errava - acabando com um número de erros igual ao número de acertos. Desta vez, entretanto, não tentei forçar nada - simplesmente visualizei o ato de jogar a bola, deixando o movimento fluir naturalmente. Não apenas a dor intensa no ombro desapareceu miraculosamente, como também experimentei algo que para mim era novidade - um controle quase perfeito. Esta foi minha introdução ao poder oculto da mente, e ao que podia conseguir se diminuísse o diálogo mental e simplesmente confiasse na sabedoria inata do corpo.

Minha obsessão em vencer me atrapalhou muitas vezes. Eu fazia tanta força para que as coisas saíssem como eu queria que acabava prejudicando o resultado. Foi essa a lição que aprendi depois de minha sessão de auto-hipnose com Joe. Estava tentando forçar o meu corpo a cooperar e, quando ele não respondia, minha mente tornava-se ainda mais insistente.

Era muito mais eficaz quando minha mente estava clara, e não havia nenhuma intenção na cabeça, como por exemplo fazer certo número de pontos ou querer aparecer para meus adversários. À medida que a pressão cresce, é muito fácil pensar demais. Mas se a pessoa está sempre tentando calcular o que vai acontecer, não consegue responder criticamente ao que já está acontecendo. Yogi Berra disse uma vez, sobre beisebol: "Como é que você pode pensar e rebater ao mesmo tempo?" O mesmo é verdadeiro com relação ao basquete, só que tudo acontece muito mais depressa. A chave é olhar e fazer. Se a pessoa focalizar em qualquer outra coisa que não seja ler a quadra e fazer o que precisa ser feito, o momento certo passa. Sentado fazendo zazen, aprendi a confiar no momento - mergulhar na ação com toda a atenção possível, para que pudesse reagir espontaneamente ao que estivesse acontecendo. Eu era muito mais eficiente quando mergulhava na ação, do que quando tentava controlá-la, enchendo minha cabeça com expectativas pouco realistas. É claro que existe um componente intelectual em jogar basquete. A estratégia é importante. Mas depois que o trabalho mental foi feito, chega um momento em que é preciso mergulhar na ação, e colocar o seu coração no jogo.

O segredo é não pensar. Isso não significa ser pouco inteligente; significa acalmar a infindável corrente de pensamentos, para que o corpo possa fazer instintivamente o que foi treinado para fazer, sem a mente atrapalhar. Tento mostrar aos jogadores como acalmar a mente que julga o tempo todo, focalizando-a no que precisa ser feito a cada momento. Para obter a atenção plena, deve-se cultivar o que Suzuki Roshi chama de "mente principiante", um estado "vazio", sem os pensamentos autorreferentes que tanto nos limitam. "Se sua mente estiver vazia", escreve ele no livro Mente zen, mente principiante, "está sempre pronta para qualquer coisa; está aberta para qualquer coisa. Para a mente principiante existem muitas possibilidades, e para a mente sofisticada, muito poucas."

Phil Jackson e Hugh Delehanty (Cestas Sagradas; Págs: 36, 41, 56, 57, 59, 112 e 114)

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