George Lois
Em 1961, quando consegui meu primeiro emprego de redator publicitário, "meu tipo" de repente entrou na moda. A revolução criativa tinha começado. A propaganda havia se transformado em um ramo dominado por redatores jovens, engraçados e judeus, e por diretores de arte gregos e italianos durões que chegavam a apelar para a ignorância de vez em quando. (...) O lado criativo tira proveito da sua suposta fama de gênio incompreendido e, nas agências mais novas, os caras deixam a barba crescer, usam calças e camisas transparentes e dilatam as pupilas. (...) O problema de todas essas agências novas é que a maioria delas foi fundada por caras de criação que, na verdade, não são muito ligados nos negócios. E eles fundam agências pelos motivos errados. O cara é demitido e resolve fundar uma agência. O cara não planeja a sua empresa. Não planeja o seu crescimento e acaba dando com os burros n'água. (...) Parte desse negócio - uma parte bem grande - é ilusão. A ilusão é muito importante; faz os clientes em potencial terem uma ideia de quem é você. O grande problema das agências novas é que elas precisam de um advogado e de um contador - duas das pessoas mais importantes do mundo. Quando fundam agências, os caras esquecem disso e pensam: "Bom, eu sei escrever e esse outro cara sabe desenhar." As coisas não são tão simples assim. Este é um negócio que precisa de um contador com uma certa influência em um banco e de um advogado disposto a lhe dar assessoria. Se você se associar a um advogado e a um contador, você já tem uma agência (...).
Não acho que o pessoal de criação tenha medo de perder o emprego por causa de meros caprichos da agência, mas há uma coisa que encosta todo esse pessoal na parede: o medo de perder o talento, a capacidade. (...) Os redatores publicitários e os diretores de arte têm fases de falta de inspiração. Quando não adotam uma atitude profissional em relação ao problema, dão bandeira e a sua falta de inspiração fica gritante - quer dizer, todo mundo fica sabendo que estão em uma fase ruim. Simplesmente não conseguem produzir nada. Em vez de esfriar a cabeça e relaxar, trabalham sem inspiração mesmo e põem tudo a perder. (...) Os bons redatores de Nova York são aqueles que não sentem medo. Você tem de estar relaxado. É o único ramo em que você tem de estar tão relaxado quando se senta para trabalhar que não consegue ficar ali se preocupando com o que está acontecendo na sala ao lado, nem se vai perder o emprego. E há muito pouca gente assim no lado da criação da propaganda. Praticamente ninguém. A maioria dos redatores tem a mesma origem: classe média e classe média baixa. (...)
Um diretor de arte fantástico chamado Bob Gage, da Doyle, Dane, certa vez fez um discurso sobre o medo, o que é e como combatê-lo. Descreveu o medo de sua fonte secar e depois descobriu que você nunca seca, que não há mágica alguma, mistério algum, você não pode ser desligado sem mais nem menos. Gage disse que, quando achava que sua fonte de inspiração estava secando, era uma questão de enfrentar um problema que tinha de ser resolvido, e que ele sempre poderia resolver aquele problema da mesma forma de sempre, da mesma maneira com que o resolveu anos atrás. Ele disse que secar era simplesmente sinônimo de ficar impaciente com a resolução de problemas da mesma forma de sempre. (...) Outro problema que aflige os redatores e diretores de arte é o problema do reconhecimento. (...) O cara fica lá na sua sala, trabalha, molda e brinca e, quando termina, escreveu algo absolutamente maravilhoso, só que se esqueceu de uma coisa: é o que está dentro dos limites das páginas que é comprado por um diretor de mídia. O que acaba com a maioria dos redatores é que as pessoas não compram a revista Life para ler seus anúncios. (...) Os anúncios são apenas um sequestro do tempo do leitor. É por isso que cabe a você fazer seu trabalho para chamar mais a atenção do que qualquer outra coisa. Ninguém compra uma revista para ler um anúncio. Mas um monte de caras age como se fosse isso o que acontecesse. (...).
O pessoal de criação não tem muito tino comercial quando se trata deles mesmos. (...) O pessoal de criação não pensa no futuro. A maioria dos caras de criação não conhece o seu modo de produção e não tem a inteligência - falando sem rodeios - de chegar lá e dizer: "Quero um contrato." Exigi um contrato e assinei um documento bem específico. Eu queria que ele vigorasse por um ano e meio - e não por dois anos, nem um ano, e sim um ano e meio. Eu disse ao pessoal da agência que em quatro meses eu seria odiado ali e queria dizer com isso que seria desprezado ali. "Vocês não vão me aguentar", disse eu aos caras. "E, nos oito meses seguintes, vocês vão gostar de mim à sua revelia, mas teriam me despedido há meses se eu não tivesse um contrato. E, depois desse período, vou ganhar pontos. Se conseguir ficar aqui durante um ano e meio, fico o resto da vida. Se não conseguir, caio fora." E foi o que fiz. (...) Na verdade, não é muito diferente do beisebol. Você não dispõe de muito tempo para brilhar nesse campo. Tem uns sete, oito ou talvez nove anos durante os quais você arrasa e tudo o que você faz dá certo, todo mundo lhe oferece emprego e os caçadores de talentos não largam do seu pé; mas, depois, vem aquela longa queda morro abaixo. (...) Eu ficava pasmo de nunca ver um redator com mais de 40 anos. Eles são poucos, muito poucos. (...) Não consigo imaginar para onde é que eles vão depois dos 40. Mas que vão embora, eles vão.
Jerry Della Femina (Mad Men - Comunicados do Front Publicitário; págs: 13, 65, 94, 113, 133, 134, 135, 138, 139, 141, 279 e 284)
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