17 de abril de 2017

OS CARAS DAS CONTAS

O que os caras das contas têm de fazer hoje em dia para sobreviver é dançar. Dançar significa ser ágil, com um movimento de pés muito, muito bom, de modo que eles não são atingidos com facilidade. Sabe como é, eles não têm nada para vender. Seu redator, por mais jovem ou ruim que seja, tem o seu currículo - seu portfólio - para mostrar. Um diretor de arte também tem um portfólio. Ou então tem rolos de filmes, apresentações resumidas de todos os comerciais que já fez. Mas o que o homem da conta tem para mostrar? Nada... (...) É muito mais fácil uma agência contratar um homem de conta que conhece o ramo. Ele pode entrar e começar a trabalhar na mesma hora; não é preciso ensinar-lhe coisa alguma. Quando você tem condições de optar, vai preferir um cara tarimbado. (...)

Os caras de contas com um bolso atrás são uma espécie em extinção; mas, enquanto estiverem por aí, são um espetáculo digno de ser visto. (...) Jimmy está com a conta dos Queijos Franceses muito bem guardada no bolso. Já mudou essa conta de quatro agências no mínimo. É claro que Jimmy tem de manter relações muito, muito cordiais com o representante dos Queijos Franceses nos Estados Unidos. Vão muito ao teatro juntos. As respectivas esposas são amigas - e é bom mesmo que sejam, pois Jimmy é capaz de matar e morrer por essa conta. (...) Desde que mantenham relações cordiais com o cara dos Queijos Franceses em Nova York, Jimmy ganha os seus US$80 mil [por ano]. (...) Enquanto mostrar serviço, a conta está no seu bolso. Nenhuma agência poderia fazer propaganda dessa conta sem ter o Jimmy na sua folha de pagamento. (...) Houve caras que chegaram a ser presidentes de agências por terem empresas no bolso. Você controla certo número de companhias e fica forte. (...) Muito simples. O cara que controlava a conta dos automóveis disse ao cara que controlava os cigarros que queria ser o diretor-geral da agência. E foi. (...) Ninguém te demite quando acha que você é íntimo de uma empresa. (...)

Vamos chamar de guerra o perder e ganhar uma conta. Digamos também que, numa guerra, a primeira coisa de que você vai precisar para lutar é de munição e, na propaganda, a munição é constituída de bons anúncios. Em segundo lugar, nem toda a munição do mundo vai te ajudar se você não tiver informações. Inteligência. Inteligência é saber o que está acontecendo, saber o que as pessoas estão fazendo lá fora. Na minha opinião, você não trabalha em um mundo à parte. Você não pode dizer pura e simplesmente: "Bem, sei o que estou fazendo, então não preciso me preocupar com o que estão fazendo lá fora." Desse jeito você nunca vai conseguir uma conta. Eu entrevisto as pessoas - sempre - pensando na possibilidade de contratá-las, mas também considero essas pessoas que aparecem em busca de trabalho a maior fonte de informações sobre o que está acontecendo no nosso setor.

Jerry Della Femina (Mad Men - Comunicados do Front Publicitário; págs: 100, 106, 107, 109, 115, 236 e 237)

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